O primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio/Enem, nesse domingo (21/11), teve 26% de abstenção, conforme balanço divulgado na Imprensa diária nacional.
Em Ponte Nova, anunciou-se a inscrição de cerca de 2.300 estudantes – oriundos de 22 cidades – para fazerem as provas em nove escolas, com ênfase para questões objetivas de Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias, Ciências Humanas e Suas Tecnologias e redação dissertativo-argumentativa.
A organizadora local do exame, Silma Nasser de Freitas, informou que o(a) cordenador(a) de cada escola enviou estatísticas, via aplicativo, diretamente para o Inep, o que dificulta, de imediato, avaliar o total de faltosos em Ponte Nova. A Reportagem desta FOLHA, todavia, apurou que compareceram 140 dos 170 inscritos para fazerem as provas na Escola Estadual Carlos Trivellato/Santo Antônio, o que indica abstenção de 17,65%.
Em Ponte Nova, a Polícia Militar manteve patrulha "sem problemas" no entorno de cada estabelecimento de ensino. A Coordenação/PN divulgou apenas um caso de estudante que perdeu o prazo-limite de entrada: ele compareceu na portaria da Faculdade Dinâmica, já na véspera das 13h. Recebendo informe de que sua inscrição indicava seu nome em sala da EE Antônio Gonçalves Lanna/Palmeiras, o estudante só chegou neste endereço quando os portões já estavam fechados.
Alguns depoimentos
Esta FOLHA ouviu três estudantes na saída da EE Carlos Trivellato, por volta das 16h40: Tamires Lourenço, 20 anos, do bairro Santo Antônio, Tatiane Barbosa, 19, do bairro Esplanada, e Júlia Lolli, 15, de Urucânia.
Para Tamires, as questões em geral estavam mais difíceis que as do Exame de 2020.
Ela pretende estudar Engenharia de Alimentos e notou que a redação – com o tema “Invisibilidade e Registro Civil " – exigiu criatividade de todos. Tatiane disse que predominaram "o nervosismo e uma tensão muito grande", quando precisava de tranquilidade para entender cada questão.
Júlia contou que cursa o 1º ano do Ensino Médio e se inscreveu como "treineira", buscando experiência para enfrentar o ambiente das provas e qualidade das questões. Ela considerou inteligente a proposta da redação, e a seu ver a prova mais difícil foi a de Linguagens/Português.
Um concluinte da prova disse, ainda na saída de EE Carlos Trivellato, que houve muita polêmica quanto à expectativa das questões neste ano do Governo Bolsonaro [sem partido], mas uma questão relaciona a condição social atual brasileira com um trecho de "Admirável Gado Novo", música de 1979 de Zé Ramalho, que canta "A vida de gado".
O rapaz de 20 anos não quis identificar-se e disse que a oposição chama de "gado" os apoiadores do presidente: "Se for por isso, realmente o Enem teve a cara do governo."
Na Escola Nossa Senhora Auxiliadora, a estudante Joanna, 21, que não quis identificar-se, considerou relevante o tema da redação. Ela discorreu sobre a necessidade de se garantir esse acesso à cidadania, desconstruindo essa invisibilidade com acesso de todos ao registro civil".
Ainda na Ensa, Leonardo, que também optou por não se identificar, considerou interessante, na prova de Inglês, uma questão que falava da situação das mulheres negras nos Estados Unidos. "Por que não denunciar a situação no Brasil?", inquiriu ele, acrescentando que gostou da charge sobre o racismo (assinada pelo saudoso Henfil).
Ana Bárbara Martinho, 16, fez o Enem na EE Cantídio Drumond e deu o depoimento a seguir para esta FOLHA: "Achei a prova muito maçante. Os textos eram tão exaustivos que acabou deixando o exame difícil. A prova mais complexa para mim foi a de Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias. Ainda que seja uma área em que eu tenha facilidade geralmente, as opções de resposta eram muito confusas, então foi fácil cair em uma pegadinha."
Ana Bárbara considerou o tema da redação muito interessante e necessário, "o que não significa que tenha sido precisamente simples. Os textos motivadores foram bons – ainda que pudessem ter trazido apenas um pouco mais de informação para guiar a produção da redação – e ajudaram na dissertação do tema".
Em Viçosa
Num pavilhão da Universidade Federal de Viçosa. Ana Márcia Nunes Valentin, que trabalha como autônoma no distrito de São José do Triunfo, pretende se formar em Ciências Contábeis e disse que se preparou com apostilas e aulões on-line.
Antes de entrar para a sala de aula, ela tinha expectativa "de uma prova com bastante questões que envolvam atualidade". Ela esperava tema social para a Redação, mas arriscou "como acesso a cuidados básicos durante a pandemia ou o próprio racismo".
Estudante do colégio Anglo, Iara Milagres Cardoso de Oliveira esqueceu-se de levar o comprovante definitivo de inscrição, voltou em casa e só retornou quando os portões já eram fechados (veja no vídeo). “Ela está chorando, mas o menos ruim é que, desta vez, ela está em processo de "trainee", pois ainda estuda no primeiro ano do Ensino Médio", informou sua mãe, Adriana Pereira Milagres, pesquisadora do Departamento de Engenharia Florestal da UFV.
Marcela Eduarda Silveira Tibúrcio, 19, presta Enem pela segunda vez e pretende cursar Enfermagem e ela não saiu muito animada do primeiro dia de exame: “Foi um pouco mais difícil que o esperado, não consegui discorrer muito sobre o tema da Redação. Também tive alguns problemas pessoais que não quero compartilhar, mas a expectativa está lá embaixo.”
Adriano da Silva Rodrigues fez a prova pelo segundo ano consecutivo e se preparou estudando em casa. "O nível de dificuldade estava um pouco acima do esperado". Sobre a redação, porém, ele acredita ter conseguido fazer um bom texto: “Gostei do tema. Agora vou estudar mais um pouco para o segundo dia, no domingo.”
Anderson Valentino, 23, fez prova pela primeira vez depois de se preparar em casa e com aulas via internet: “Não tenho um curso de minha preferência, por enquanto, preciso ver a nota mesmo e estudar bastante para o segundo dia.”