― Publicidade ―

Festas religiosas movimentam turismo em Ponte Nova e região

O louvor à Santíssima Trindade movimentou o bairro do Triângulo. Teve festa na Capela Santo Antônio e Novena de São João no Macuco.

FOLHA na WEB

Tensão habitacional

InícioCULTURA‘Um canto para o rio’: enredo que inspira amor pela natureza e...

‘Um canto para o rio’: enredo que inspira amor pela natureza e mudanças de valores e atitudes

O rompimento da barragem de rejeitos de Fundão no distrito de Bento Rodrigues/Mariana, em novembro de 2015, inspira mais um livro – “Um canto para o rio”  -,  desta vez escrito pela pontenovense Roberta Brangioni Fontes (foto) e ricamente ilustrado pela artista paulista Taísa Borges. 
 
No material de divulgação, percebemos grande diferencial: o apoio pedagógico oferecido pela Editora Peirópolis às escolas através de link com material complementar ao livro, o que pode inspirar trabalhos em salas de aula que adotarem a obra. 
 
“No intuito de difundir o livro, buscamos parcerias com escolas ofertando descontos em aquisições coletivas. Além disso, a escola que adotar o livro tem direito a uma Roda de Conversa sobre ele com a autora. Apesar de trazer uma mensagem que abarca todas as idades, o livro é indicado especialmente para a faixa etária de 5 a 12 anos”, informa Fernanda Castro. Os interessados podem entrar em contato com Fernanda aqui em Ponte Nova pelo telefone (31) 99228-7870.
 
Confira a entrevista de Roberta para a coluna 'Arte & Cultura" nesta FOLHA: 
 
Ademar – Como foi o processo de criação da história do livro? 
 
Roberta – O livro começou a surgir quando eu estava realizando minha pesquisa de mestrado pela Universidade Federal de Viçosa, no Assentamento Primeiro de Junho, em Tumiritinga/MG, Região do Médio Rio Doce. Essa foi uma das comunidades atingidas pelo rompimento da Barragem de Fundão, das empresas Samarco/Vale/BHP Billiton, em 2015. Quando cheguei lá para meu trabalho de campo alguns meses depois, fiquei muito impactada por ver todo o rastro de destruição deixado. 
 
Minha pesquisa não tinha a ver diretamente com o desastre. A temática central era juventude e permanência no campo, porém um drama social daquela dimensão impactou todas as esferas da vida local e era impossível estar ali sem ser profundamente tocada por essa situação. Naquela época, eu também era professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais, e então organizamos, via Instituto, algumas ações de diagnóstico e recuperação de nascentes no assentamento. 
 
Um dia, algumas crianças de lá me pediram para contar uma história para elas, e isso me despertou para a ideia de escrever uma história sobre o rio Doce, através da qual pudéssemos conversar com as crianças sobre o que se passou com o rio e também trazer alguma esperança.
 
Participei de diversas atividades e projetos com pessoas atingidas pelo desastre, tanto no assentamento como em outros pontos da Bacia do Rio Doce, e foi a partir do que eu via e ouvia nesses espaços que fui incorporando, à história, elementos reais que deram vida aos personagens e inspiraram algumas situações do livro. 
 
Por exemplo, no livro dou destaque ao papel que os povos do campo, os quilombolas, pescadores e indígenas têm para ajudar a salvar o rio. Isso porque esses povos e comunidades  conservam modos de vida mais respeitosos e equilibrados junto a seus ecossistemas naturais e representam um importante contraponto a um modelo de desenvolvimento e exploração da natureza que vem dando claros sinais de seus limites.
 
O rompimento da barragem em Brumadinho, apenas dois anos depois de Mariana, é um triste exemplo de que esse modelo de exploração da natureza, de mineração e de desenvolvimento precisa mudar profundamente. O Brasil possui grande diversidade biológica e cultural, com aproximadamente 250 etnias  indígenas e diversas comunidades que são guardiãs de importantes conhecimentos ecológicos.As áreas ambientalmente mais preservadas no Brasil e no mundo são ocupadas por povos indígenas, camponeses ou comunidades tradicionais.
 
Esses povos estão sendo encurralados por grandes projetos de desenvolvimento que operam numa lógica predatória, que desconsideram seus modos de vida, que tratam a natureza como recursos meramente utilitários e que têm causado um desequilíbrio muitas vezes irreversível. 
 
O líder indígena Ailton Krenak fala que, para seu povo, o rio Doce é Watu, não é um rio apenas em seu sentido material, ele é sagrado, tem vida. Essa forma de ver o mundo dos povos indígenas nos inspira a repensar a nossa relação com a natureza, a nossa pretensa superioridade e separação do mundo natural. Tudo o que afeta a terra afeta os filhos da terra, como já dizia o cacique Seattle. 
 
Enfim, esse é o pano de fundo que o livro aborda, ao representar com elementos imaginários, inspirados em situações reais, o episódio do rompimento da barragem: a preservação das águas, a relação ser humano/natureza, a crítica aos projetos de desenvolvimento predatórios, a valorização dos saberes ecológicos dos povos e comunidades tradicionais.
 
Esses são temas que venho também pesquisando atualmente em meu doutorado na Universidade Estadual de Montes Claros.
 
Ademar – Como tem sido a aceitação do livro?
 
Roberta – Foi desafiador lançar o livro em plena pandemia, porque queria compartilhar presencialmente esse momento com muitas pessoas. Não foi possível fazer isso, mas fiquei feliz porque tivemos um pré-lançamento e um lançamento muito bonitos, com clima participativo e afetuoso, ainda que nas plataformas virtuais.
 
Apesar de estarmos em um momento difícil em função da pandemia, o livro tem sido bem recebido pelo público. A questão ambiental é central nesse momento histórico que vivemos, e, portanto, sensibilizar as novas gerações sobre essas questões é necessário. Intenciono e confio em que o livro fluirá ao encontro de muitas crianças e deixará suas sementes.
 
Infelizmente, ainda temos um longo caminho para a democratização do acesso ao livro no país, e um de nossos desejos é conquistar editais que possibilitem a distribuição dos livros em escolas públicas.
 
Ademar – Projetos para o futuro no campo literário?
 
Roberta – Escrevo histórias para crianças há vários anos e vinha utilizando essas histórias em projetos em que trabalhei com crianças e adolescentes. Agora, a publicação desse primeiro trabalho me estimula a prosseguir com outros projetos na área da literatura infantil. Pretendo publicar outros trabalhos que já tenho escritos, mas no momento ainda não tenho previsão.
error: Conteúdo Protegido