“Nasci em Jequeri [em 22/1/1948], como meus amigos já sabem. Seis anos depois renasci em Ponte Nova. Sempre tive alma de artista, disso tenho certeza, embora nunca o fui, quer seja por falta de oportunidade, quer seja por falta de empenho da minha parte.”
Com este modesto raciocínio, Luiz Raimundo de Oliveira iniciou, na coluna “O Leitor Escreve” (12 e 19/4/2024) desta FOLHA (onde foi cronista nos anos 1990), divagações sobre a sua “carreira artística”.
Ele disse que se orgulhava de conviver com uma constelação de artistas, através das décadas e décadas, citando apresentações que, “ao lembrar delas, dá uma dor no coração, tamanha é a saudade”.
Saudade deixou ele, que em 3/8/2024 morreu internado no Hospital Arnaldo Gavazza, vítima de câncer. Seu corpo foi cremado em Belo Horizonte.
Não por acaso, Luiz Raimundo mereceu longa entrevista na coluna Arte & Cultura (2/7/2021), nesta FOLHA, na qual o editor, Ademar Figueiredo, o chamou de “agitador cultural por excelência”.
Isto é Luiz Raimundo I
Com seu artigo nesta FOLHA, a citada entrevista, nossas anotações e o informe da contracapa de seu livro “Vagalume” (2021), registramos, a seguir, os [muitos] melhores momentos da trajetória dele.
– O gosto da leitura surgiu por estímulo dos seus pais, Raimundo e Anita, e de seus professores.
– Estreou como cantor, aos 8 anos, na Festa de Sant’Ana/Jequeri.
– Já em Ponte Nova, atuou nas peças teatrais de padre José Eriberto Schimidt, no Colégio Dom Helvécio/CDH.
– Na adolescência, foi diretor da União Municipal dos Estudantes Secundários/UMES.
– Influenciado pelos padres salesianos, fundou um cineclube no CDH, tendo o artista e intelectual Rui Merheb como coordenador dos debates.
– Sempre cinéfilo, foi trabalhar no Cine Palmeiras: faxineiro, porteiro, bilheteiro, auxiliar de exibição e até gerente.
– Atuou nos quadros-vivos da Semana Santa, dirigidos por Paulo Galli.
– No CDH, em 1974, esteve ao lado da professora Beth Roque em suas oficinas de teatro e dirigiu uma peça.
– No Esporte Clube Palmeirense, projetou-se como dublador de “canções eternas”.
– Foi associado do Orbis Club de Ponte Nova.
– Em várias edições da Expovale e da Feira da Comunidade, esteve na coordenação e apresentou as gincanas de conhecimento/habilidades.
– Projetou-se nos Festivais de Música, a partir de 1969, no Cine Brasil, promovidos pelo Pontenovense Futebol Clube/PFC, e em 1971, no Esporte Clube Palmeirense/ECP, no Festival Índio da Música. Em 1977 e 1978, via Interact Club, esteve na organização e apresentação do 1º e do 2º Fecapon.
– Teve intensa presença nos clubes, promovendo exposições de artes plásticas, artesanato, fotografia, música e dança. Presidiu a Sociedade Esportiva Primeiro de Maio (onde também foi diretor), esteve entre os dirigentes do PFC e, em anos recentes, era assessor cultural do ECP.
Isto é Luiz Raimundo II
– Ganhou espaço na Rádio Ponte Nova, ainda adolescente, com o programa “Ecos da UMES” e, na década de 1980, com o “Ponte Nova Beatles Club”, tendo diversos parceiros. Na TV Educar, apresentou por 10 anos o programa “Estação Cultural”.
– Ele se declarou “fotógrafo itinerante” com três mostras de seu trabalho. Venceu concursos de poesia (2008/2009) e foi compositor musical.
– Escreveu três livros dedicados à esposa, professora Imaculada Drumond de Oliveira, e aos filhos Fernando e Mônica, “meus tesouros indescritíveis”.
– Editou o livro “Versos de Músico”, do saudoso Zeli Mafra; foi coeditor de “Vivo”, reunindo em 2007 entrevistas do intelectual e artista Ruy Merheb; e produziu o livro “Anais da 1ª Semana de Estudos Literários”, da Faculdade de Ciências Humanas do Vale do Piranga/Favap (1996).
– Foi secretário de Cultura durante o Governo Joãozinho de Carvalho (2009/2012).
– Presidiu a Banda 7 de Setembro e foi homenageado pela Banda Santíssima Trindade.
– Produziu, junto com João Mattos, os CDs “As Vozes do Piranga I e II” e editou o CD “Contos Contados”, destinado a deficientes visuais.
– Com espaço nas redes sociais, esteve recentemente ao lado de Alfredo Padovani no programa “Café com Bolo – Papos e Canções”.
Isto é Luiz Raimundo III
– Foi secretário e diretor da Faculdade de Ciências Humanas do Vale do Piranga/Favap e recebeu Diploma de Personalidade Educacional, outorgado pelo Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino.
– Estudou Direito em Divinópolis. Atuou na advocacia (seu velório transcorreu na sede da OAB/PN, na qual presidiu a Comissão de Cultura) e era procurador jurídico da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais/Apae, onde também atuava como “agitador cultural”.
– Homenageado com Diploma de Mérito Legislativo/Ponte Nova, recebeu a Comenda Dr. Salvador Ferrari, da Academia de Artes, Ciências e Letras de Ponte Nova/Alepon, da qual era sócio benemérito.
– Recebeu sete troféus do Prêmio Xeleco de Cultura, organizado por Hailton Karran e pelo ECP.
Algumas opiniões
– “Ele terá seu nome eternizado nas artes do Vale do Piranga”, resumiu nota da Alepon.
– “Como dói perder um grande amigo”, registrou Gilson Oliveira, professor e escritor.
– “Neste momento de tristeza, acreditamos que Deus, em sua infinita bondade, irá acolhê-lo em seus braços e proporcionar-lhe a paz eterna”, desejou a Diretoria da Apae.
– “Com Luiz, muitos sentimentos se completaram com a arte”, disse o professor e fotógrafo Thiago De Lazzari.
– “A cultura pontenovense está de luto. Nosso ‘agitador cultural’ deixa um grande vazio em nossa arte”, escreveu o empresário (e também “agitador”) João Mattos.
Em tempo – Entidades e personalidades declararam luto por Luiz Raimundo. Lamentamos não ter espaço para todas.
Nota da FOLHA – Concluímos esta homenagem com declaração de Luiz Raimundo à coluna Arte & Cultura:
Nunca auferi um centavo por nada que fiz pela arte e cultura. Mas tive grandes alegrias e muito reconhecimento. Alguns dissabores, que “tirei de letra”. Faria tudo de novo. Tudo valeu a pena, porque minha alma não é pequena. Enquanto houver jabuticabas na minha bacia, vou desfrutá-las.