Márcia Messias de Castro
Negra, Separada, Mãe de 3 Filhas, Militante do Movimento Negro, Monitora de Dança Afro, Atuante na Luta pelo Empoderamento Negro Feminino e Integrante do Grupo Afro Ganga Zumba/Bairro de Fátima
Para falar em racismo e assédio sexual em local de trabalho, teremos que falar sobre o domínio dos senhores de fazenda sobre suas escravas e sobre o machismo.
Isso se reflete nos dias de hoje, mas as denúncias de racismo e assédio não aumentaram em relação ao passado, foram as mulheres negras, através do empoderamento negro feminino, que agora denunciam e ocupam seu lugar de direito na sociedade, direito este que nos foi negado – e às vezes ainda nos é -, apesar de haver a Constituição de 1988, que garante direitos iguais a todos.
As mulheres e jovens negras têm-se destacado no Movimento Negro Feminino nos últimos 50 anos: foi quando surgiram as primeiras acadêmicas, que trouxeram para dentro do Movimento as discussões sobre nosso lugar de falar e que poderíamos ser bem mais que simplesmente domésticas.
Com as mídias sociais e a inclusão do negro nas universidades com a implementação do sistema de cotas, as mulheres negras ganharam voz e vez para falar do racismo e assédio no trabalho que rodeiam a mulher negra, do sexismo, ainda relembrando a condição ancestral.
O Empoderamento Negro Feminino luta pela justiça social e a inclusão social, luta pela equidade durante séculos, mas reconhecemos que, apesar de muitas lutas, ainda há um longo caminho a ser trilhado para que o Brasil venha a ser um ambiente confortável para a existência de todas. Por isso, não se esgotam o debate, provocações e proposta de caminhos no campo de atuação contra o racismo.
Ao longo dos anos, foram-se instalando várias políticas públicas em defesa da mulher, em âmbitos nacional, estadual e municipal, como: Conselhos Estaduais dos Direitos da Mulher, em 1983, Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e Delegacia da Mulher, ambos criados em 1985. Estes órgãos bastariam para que o assédio acabasse e os direitos das mulheres fossem cumpridos, mas a burocracia arrasta os processos: acabam não punindo quem o comete.
O mesmo se faz a respeito do racismo, que agora cresce em redes sociais: as pessoas acham que estão protegidas em suas mídias sociais e sem pensar destilam seu ódio e racismo contra negros e negras. Não estão ficando, contudo, impunes, pois as Delegacias já estão equipadas para que essas pessoas sejam descobertas e punidas.
Tivemos muitos avanços e conquistas, mas algumas situações não mudaram: jovens negras têm questionamentos iguais aos que eu tive há 30 anos, quando eu – ainda jovem – ajudava a fundar o Ganga Zumba.
Muito mais fortes e empoderadas do que antes, sigamos na luta contra o racismo, o assédio e o sexismo!