O pontenovense Carlos Fernandes, 72 anos, bastante conhecido entre os desportistas como Braúna, fez história como atleta, principalmente na Sociedade Esportiva Primeiro de Maio/ SEPM, além de árbitro de futebol.
Filho único de Maria Bárbara da Silva Fernandes e Geraldo Fernandes, ele explica como o apelido surgiu: “Everaldo Bráulio, antigo presidente da SEPM, começou a me chamar assim, pois, segundo ele, eu me parecia com um médico alto e negro, em Ponte Nova, chamado de Dr. Braúna.”
Antes, com 10 anos, Braúna ainda era apenas Carlos, aprovado numa “peneirada” na Escolinha da SEPM. Jogou no time desde 1956, evoluindo nas categorias ao longo de uns 12 anos. “Uma vez perdemos de 9 x 0 para o Cruzeiro, bem no aniversário da SEPM. Toco era o goleiro e se machucou, sendo substituído pelo reserva, que tinha apelido de Caminhão de Osso, e este também teve que ser substituído”, diz ele dando risadas.
Jogando como lateral inclusive no Pontenovense FC, EC Palmeirense, Municipal AC e EC Anna Florência, Braúna encerrou sua carreira em 1974 no Real AC, jogando na ponta esquerda.
Treinando Reinaldo
Ele se orgulha de ter sido treinador da base da SEPM em 1965, quando surgiu o craque Reinaldo Lima. “Eu e o assistente Zezé Marcha Lenta pegamos um time, onde Reinaldo, com apenas 8 anos, já se destacava”, relembra. Os pais de Reinaldo – Mário e Célia Lima – iam ao campo todo domingo para “dar força” ao time e aos filhos, pois, além do "Rei", ali também jogavam Lauro e Mauro (Timbé).
Braúna lembra que o pontenovense Barbatana (que se projetou como jogador no Ana Florência) fez carreira no Atlético e lá continuou como treinador das categorias de base. Vindo a Ponte Nova como “olheiro” do Galo, ele se encantou com o futebol de Reinaldo, que logo foi para BH em 1971.
Nosso entrevistado ainda conta que uma menina chamada Heloísa, do bairro Primeiro de Maio, é que ensinou Reinaldo a jogar bola. Braúna acrescenta que se tornou atleticano pela amizade com Reinaldo.
Sobre sua projeção no futebol, Braúna revela que era “bom de bola” e em 1964 chegou a treinar no América Mineiro, mas não foi em frente, já que, servindo ao Exército no 12º Batalhão de Infantaria, em Belo Horizonte, sonhava em seguir carreira militar.
“O fato é que não me tornei militar. Depois quiseram me levar pro Vila Nova [de Nova Lima], mas também não fui, pois já estava noivo. Aí voltei pra Ponte Nova e trabalhei na Prefeitura. Depois disso, fiquei 19 anos no Rio de Janeiro pintando porões de navios”, conta ele.
Carreira de árbitro
Após retornar do RJ, Braúna tornou-se árbitro da Liga Municipal de Desportos/LMD ao longo de 20 anos: “Wilson Carvalho e Silva presidia a Liga. Tive incentivo de Zé Cecílio e Cirilo, que já eram árbitros.” Conhecido na região, Braúna era enérgico em campo e, quando “pendurou o apito”, passou à condição de diretor de Árbitros da LMD.
Até 2014, ele ainda estava na Diretoria de Arbitragem e, com sua consolidada projeção, garante: “Sempre tive boa relação com todos, jogadores e juízes.” Ele revela que “convocou” Vanilton da Silva Rodrigues/Pantera [recentemente entrevistado nesta FOLHA] para atuar como juiz de futebol.
Atualmente, Braúna trocou o campo de futebol pela dança de salão e o forró. “Sou um dos fundadores do Baile da Melhor Idade e gosto também de pescar e jogar truco”, assinala ele.
Algumas reflexões
Quanto ao futebol local, ele agora só o acompanha pelo rádio, mas acha “muito violento”, dentro e fora do campo: “Antes iam muitas famílias, como opção de lazer, e o campo ficava sempre cheio. Além disso, ouço falar de ‘árbitros de fora’ cometendo bobagens nos jogos. Antigamente, nós, daqui, éramos o centro da arbitragem.”
Nosso entrevistado elogia a volta de Jefferson Gomes Ferreira (Jefinho) para treinar as categorias de base da SEPM: “Ele é excelente, e acho que isso vai fazer muito bem pra ele e para o Clube!”
Braúna cita “muitas injustiças“ no futebol e menciona a história do goleiro Ica, que saiu da SEPM, jogou no Cruzeiro, mas não o valorizaram só porque num jogo Reinaldo fez 3 gols nele. “Mas depois Ica foi pro Botafogo/RJ, pro Japão e jogou lá, treinou goleiros e fez a sua carreira. Assim como ele, tem muita gente que não teve o destaque que merecia”, lamenta Braúna.
Para finalizar, um recado para os jovens:
“Na minha época, a gente não ia tanto em festa como os jogadores de agora. Acho que esse tanto de farra e bebedeira pode prejudicar o desempenho em campo. Os jovens devem ter bom comportamento e evitar as drogas, pois isso coloca tudo a perder. O atleta tem que se cuidar e não fazer extravagâncias, estando preparado para dar o melhor de si em campo.”