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Ator pontenovense atua na peça ‘Boca de Ouro’, no CCBB de Belo Horizonte

A reportagem principal da coluna Arte & Cultura, de nossa edição impressa que circulou nessa sexta-feira (4/5), foi com o ator Gustavo Sousa, radicado em Belo Horizonte.

Ademar – Gustavo, apresente-se para os leitores da nossa coluna.

Gustavo – Sou Gustavo Sousa, ator e arte-educador, nascido em Ponte Nova. Em 2013, me mudei para Belo Horizonte para desenvolver minha formação artística. No mesmo ano, ingressei no Curso de Formação de Atores do Teatro Universitário/ TU e o concluí em 2015, ano em que me inseri na graduação em Teatro da UFMG. Atualmente sou integrante do Grupo Oficcina Multimédia e desenvolvo, junto à Cia. Teatro de Bolso, um projeto de arte-educação em comunidades de Belo Horizonte.

Ademar – Fale-nos sobre esta experiência no Teatro Universitário.

Gustavo – O TU foi uma das experiências mais instigantes que já vivi. Uma escola prestigiosa, onde tive experiências potentes. Pude experimentar, trocar, fruir e fortalecer vínculos, experiências que foram fundamentais para o meu trabalho artístico. Foram três anos de muito aprendizado.

Ademar – Hoje você faz parte do Grupo Oficcina Multimédia. O que fez até a sua chegada ao Grupo e qual a proposta de vocês?

Gustavo – O Grupo Oficcina Multimédia/GOM é um respeitável grupo de teatro de Belo Horizonte reconhecido nacionalmente pela linguagem multimeios, a rítmica corporal e sua potência artística. Em 2017 completou 40 anos de trajetória e desde 1983 é dirigido por Ione de Medeiros, que completou 35 anos ininterruptos de direção teatral. A minha identificação com o grupo parte da seriedade e profissionalismo que estão presentes em sua prática. A minha inserção foi logo após me formar no TU, em 2015, momento em que meu desejo de estar em um grupo profissional e permanecer na prática estavam intensas. Coincidentemente o Grupo abriu vagas para compor o elenco de “Macquinária 21”. Assim, através de entrevistas e vivências práticas, houve uma identificação mútua, e foi desta maneira que ingressei no GOM.

Ademar – Em 11/5, vocês estreiam, no Centro Cultural Banco do Brasil/CCBB Belo Horizonte, no Circuito Cultural da Praça da Liberdade, a peça “Boca de Ouro”, uma tragédia escrita por Nelson Rodrigues. Como se deu esta escolha?

Gustavo – O “Boca de Ouro” é o terceiro espetáculo do GOM que pertence à “Trilogia da Crueldade”, três peças que anunciam os tempos sombrios e cruéis que estamos vivendo. Disputa por poder, violência, traições e opressões de todos os tipos são os temas centrais de “Aldebaran”, “Macquinária 21” e agora “Boca de Ouro”. Os personagens de “Boca de Ouro” buscam ascensão social e para isso agem muitas vezes violentamente, mas ainda com o bom humor e a malandragem carioca do RJ. A escolha partiu de nossa diretora Ione de Medeiros, que vê neste clássico de Nelson Rodrigues um retrato da “Vida como ela é” da sociedade brasileira. “Boca de Ouro” se faz muito atual, pois evidencia as capacidades de adaptação e subordinação do humano de acordo com os seus interesses, que ainda hoje se fazem presentes.

Ademar –  Na peça, você interpreta 3 personagens, todos marcantes: um dentista, um repórter e uma mulher. Fale um pouco sobre estas construções.

Gustavo – Os três personagens têm algo em comum que movem suas ações na peça, a relação com o “Boca de Ouro” por interesses. O bicheiro apresenta, a essas três personagens, uma possibilidade de favorecê-los financeiramente. O dentista aceita trocar os dentes do bicheiro por uma dentadura de ouro através de uma subordinação – “Dinheiro não desacata ninguém, doutor” -, diz o Boca de Ouro ao dar umas notas para o dentista. O Caveirinha, espécie de repórter sensacionalista, deixa a ética de lado pelos “furos de reportagem”. Ao buscar informações sobre a morte do Boca de Ouro, este procura a dona Guigui, ex-amante do bicheiro, para conseguir captar informações a qualquer custo. Já a Celeste, cheia de traumas de infância devido à condição de pobreza em que viveu, sempre quis ascender socialmente. Assim ela vê no Boca de Ouro uma possibilidade de ficar rica relacionando-se com ele.

Ademar – Os textos do Nelson Rodrigues são densos e de forte teor psicológico. Nesta que é a terceira peça escrita por ele, em 1959, o bicheiro foi abandonado pela mãe numa pia de gafieira. Como vocês se prepararam para entrar no “clima” rodriguiano?

Gustavo – Esse clima já está presente em nossas vivências do dia a dia. Nelson Rodrigues com muita sensibilidade e atenção à vida cotidiana escrevia sua dramaturgia com potência e humor. Esse clima de abandono, subordinação e também do bom humor são evidentes em nossa sociedade, seja em nossas relações, na política, nos lugares que ocupamos e até em nossos núcleos familiares. Todos esses temas retratados na peça são vistos nos noticiários cotidianamente, não estão distantes da realidade. Para a construção da peça, partimos de muito estudo do texto e vivências com professores da UFMG para entendermos melhor a literatura de Nelson.

Ademar – Quais os planos para esta peça (em cartaz no CCBBBH até 28/5)? Há outras apresentações programadas?

Gustavo – Ainda não temos outras apresentações programadas, mas esperamos circular com este espetáculo em outras cidades. Seria um prazer imenso apresentá-lo em Ponte Nova!

Ademar – E os seus planos pessoais e profissionais para o futuro próximo?

Gustavo – Pergunta difícil! Espero conseguir me formar na Universidade e seguir na arte-educação, aprimorando sempre meu trabalho artístico. É isso!

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