A edição desse domingo (22/4) do jornal "O Estado de São Paulo" ("Estadão") trouxe reportagem sobre o drama em Santo Antônio do Grama, depois de dois vazamentos do mineroduto da Anglo American, em 12 e 29/3.
O produtor rural Antônio Pereira de Acipresti, 53 anos, foi um dos atingidos pelo vazamento. Ele tem criação de gado em área de 15 hectares. Do outro lado da estrada de acesso à sua propriedade, passa o mineroduto. No segundo acidente, pelo menos a metade de seu terreno recebeu uma verdadeira "chuva" de minério de ferro.
"Dizem que eu só poderei voltar a mexer lá daqui a um ano e meio", diz o produtor rural, que iniciou negociações com a empresa para ser indenizado. "Estou desanimado. A firma é muito rica, e eu sou pobre. Vamos ver o que acontece", afirmou ele ao jornal paulista.
Na área atingida, não havia construções, mas tem o pasto para o seu pequeno rebanho. No momento do estouro do tubo, Antônio Pereira – que mora ali com a mulher e dois filhos – conseguiu retirar 14 cabeças de gado.
Quando o primeiro vazamento atingiu o córrego Santo Antônio (a 200 metros do segundo acidente), deixou a cidade sem água potável, pois a Copasa teve que interromper a captação e, nos dias seguintes, com apoio da Anglo, providenciou-se captação noutro ribeirão.
A população ainda diz que a distribuição de água por caminhões-pipa, organizada pela mineradora, só começou dois dias depois do vazamento do minério. "Ficar dois dias sem água para tomar banho e até para fazer comida? Foi muito ruim", relatou ao “Estadão” o servente de pedreiro Marcio Célio Maia, 33.
"Era o dia inteiro transportando água em garrafas de dois litros, só pra fazer comida e café. Pra tomar banho, não dava", conta Maria das Graças Flores Reis.
Sobre a indenização aos moradores, a Anglo American afirmou ao jornal paulista que "não comenta sobre negociações individuais". Em relação à falta d’água ocorrida na cidade, por causa do primeiro vazamento, a empresa disse que""a captação de água em Santo Antônio do Grama foi interrompida no dia 12 e a população passou a ser atendida com caminhões-pipa e galões de água mineral".
Em 12/3, cerca de 300 toneladas de polpa de minério contaminou o córrego Santo Antônio. Em 27/3, com reparo na tubulação, o mineroduto foi reaberto. Dois dias depois, às 18h55, novo vazamento foi identificado, despejando quase 650 toneladas do material. Em resposta ao segundo incidente, a Anglo anunciou a paralisação das atividades por 90 dias. Órgãos ambientais aplicaram multas que, somadas, chegam a R$ 200 milhões.