Nesta semana, a Escola Estadual/EE Antônio Coelho, do bairro São Pedro, foi reconhecida pela Secretaria de Estado de Educação/SEE com o título de Escola Quilombola.
Com isto, a Escola passa a ter atividades curriculares em conformidade com a Cultura Africana, além de receber incentivo financeiro para, segundo a diretora Mírian Janaina Conde Carvalho, “melhor atender os jovens que por muito tempo tiveram negado o acesso à educação escolar”.
Em dezembro de 2017, a Direção da Escola entregou relatório afim aos representantes da SEE que participaram, em Ponte Nova, de Encontro de Escolas do Campo e Quilombolas, organizado pela superintendência Regional de Ensino/SRE.
“Haverá diferença de contratação de profissionais para atuar na instituição a partir de agora, pois é de interesse que estes profissionais tenham ligação com a Cultura Africana e Afro-Brasileira, principalmente com a Cultura Quilombola e as comunidades de remanescentes quilombolas”, explica Mírian, numa referência aos bairros São Pedro e especialmente ao bairro de Fátima, sede do Grupo Afro Ganga Zumba.
Segundo a diretora, em nov/2017, o pessoal da Escola recolheu dados que constataram que 30% dos estudantes eram oriundos do bairro de Fátima, o qual é reconhecido, desde 2007, pela Fundação Palmares, como remanescente quilombola. Além disto, mais da metade dos alunos da Escola tem algum vínculo com o bairro e as atividades do Ganga Zumba.
Já nesse 13/4 (sexta-feira), a Diretoria da EE concluiu relatório compilando todas estas informações e enfatizando a ligação direta com a cultura afrodescendente. O documento contém relato do Projeto de Iniciação Científica do Núcleo de Pesquisas e Estudos Africanos, Afro-Brasileiros e da Diáspora (Ubuntu Nupeaas), da Secretaria de Estado de Educação, do qual a Escola faz parte desde novembro de 2017.
“Este título é uma afirmação identitária e será fundamental para promovermos a igualdade racial na Escola”, ressalta Mírian. Ela revelou que, no início deste mês, comitiva da EE visitou em Ouro Preto antiga senzala, a Casa dos Contos, e conheceu área de percurso dos escravos.
Em 14/4, a Escola promoveu sarau literário em prol da diversidade. Paralelamente, o estabelecimento de ensino busca mais informações sobre a história dos bairros de Fátima e São Pedro e de algumas personagens. Uma delas é a saudosa Dona Quininha, mentora do Congado na região, sendo que uma neta dela estuda nessa escola.
Atividades anteriores
No relatório de 13/4, consta que em 2016 "a professora de História e Geografia Bárbara Gregório promoveu, em suas aulas, discussão sobre a real contribuição dos africanos e afro-brasileiros para cultura nacional: antiga e atual".
Procurou-se ainda efetivar aportes pedagógicos destinados ao resgate da autoestima dos alunos “e sua vontade de permanecer dentro da escola e concluir sua escolaridade básica, com vias de acesso a um ensino superior”, como informou a diretora Mírian.
Ainda em 2016, a Escola manteve parcerias com o Grupo Afro Ganga Zumba e o Grupo de Capoeira Leandro Senzala, além de se aproximar de moradores do bairro de Fátima. Em 2017, a professora de História Analú Hermenegildo Braz Almeida (atualmente efetivada na EE Carlos Trivellato) continuou esse trabalho de “ressignificação da identidade afro desta instituição, com trabalhos intensos a cerca da mortalidade de negros e negras brasileiros e violência contra a mulher negra”, conta a diretora.
Projeto Ubuntu Nupeaas
Lançado em junho de 2017 pela Secretaria de Estado de Educação em parceria com Fundação de Apoio à Pesquisa de Minas Gerais/Fapemig, Instituto Unibanco e Ação Educativa, o Projeto Ubuntu Nupeaas é um dos eixos de pesquisa do projeto "Iniciação Científica no Ensino Médio em Minas Gerais" e leva a experiência de pesquisa e extensão a 3.452 estudantes de 221 instituições de ensino estaduais.
Um dos eixos do projeto é a promoção da igualdade racial pautada no reconhecimento da diversidade como elemento preponderante para o desenvolvimento escolar.
Já foram selecionados, por meio de edital, 94 projetos pelo Ubuntu/Nupeaas, cada um com 12 estudantes de diversas regiões mineiras. Atuam 1.128 jovens pesquisadores, sendo orientados nos núcleos, e a expectativa da Secretaria é de que sejam impactados cerca de 5.600 alunos de 470 escolas em Minas Gerais.