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Bharbixas: um chute no preconceito

O pontenovense Gustavo Mendes Moreira, 25 anos, é o capitão do Bharbixas, time campeão de torneio de futebol disputado na Barra da Tijuca/Rio de Janeiro, em 25/11. Mas o que este certame teve de especial? Trata-se do Champions LiGay, a 1ª competição brasileira de futebol gay.

O projeto é do time Beescats/RJ, cujo funda­dor, André Machado, idealizou o campeonato. Além do Bharbixas, equipe belo-horizontina, competiram os seguintes times: Beescats, Alligaytors/ambos do RJ, Unicorns, Futeboys/ambos de São Paulo-SP, Bravus/Brasília, Seryeos/SC e Magia/RS.

Os times se enfrentaram numa única tarde, até o jogo final. “Foi bem corrido, mas não afetou a competição! A divulgação ocorreu em várias mídias e internet, ten­do alcance além do imaginado”, celebra Gustavo, consideran­do a repercussão, por exemplo, nos jornais Estado de Minas/BH e Folha de São Paulo e no site do Globo Es­porte/Rede Globo.

O Bharbixas surgiu em junho deste ano, com apoio dos funda­dores dos Beescats e Unicorns, após campanha, nas redes sociais, pela formação de time LGBT em Belo Horizonte.

“Participamos da Champions LiGay justa­mente no dia em que completamos 5 meses de time e felizmente comemoramos sendo campe­ões da 1ª edição, num projeto tão fantástico e necessário para este esporte”, declara Gustavo para acrescentar: “Fomos vitoriosos não somente com as medalhas, mas mostrando que ‘veado’ sabe jogar bola, sim, e bem!”

 

Trajetória em Ponte Nova

Gustavo estudou na Escola Nossa Senhora Auxiliadora/Ensa e foi para Belo Horizonte, em 2013, para cursar Engenharia de Produção. Na Ensa, teve incentivo dos professores e chegou a jogar no time de futsal.

Ainda criança, ele começou a interessar-se por futebol. O avô Ernani Mendes o ensinou a dar os primeiros chutes, com ele frequentando os treinos do Esporte Clube Palmeirense/ECP, onde praticou peteca e natação e integrou times em várias competições de futebol de campo.

“Desde muito novo – conta Gustavo – per­cebi que me sentia diferente dos outros, e isto me fez viver um personagem, sem poder me expressar ou seguir um padrão diferente do que se é cobrado no mundo do futebol. Infelizmente é um ambiente muito homofóbico e machista. Ouvia algumas piadinhas e era obrigado a rir ou ser conivente, para evitar até a repressão. Mas nunca me deixei abater e segui de cabeça erguida, em prol desse bem maior que era o esporte em si.”

Preconceito

Sobre o preconceito em nossa cidade, Gustavo é enfático: “Assim como toda cidade do interior, onde as raízes do preconceito e desinformação são mais profundas, Ponte Nova não é diferente. Há, sim, muito que aprender, e esse aprendizado precisa ser repassado às próximas gerações.”

Continua Gustavo: “A busca por esta re­presentatividade é o principal motivo para um torneio dedicado à comunidade gay, funcionando principalmente como forma de lutar contra o preconceito. Afinal, as principais divisões do Campeonato Brasileiro jamais contaram com um jogador homos­sexual declarado em toda a sua história. O medo de se ‘assumir’ também traz à tona o medo de não ser bem recebido pelos com­panheiros no futebol.”

“O Champions Li­Gay teve um peso to­talmente diferente de todos em que já competi. Estávamos lutando, dando voz e vez a todos aqueles que nunca tiveram oportunidade de se expressar através do futebol”, comemora Gusta­vo, que destacou uma peculiaridade:

“Dentro do próprio meio gay, o afeminado é taxado como o estereótipo que degrada a classe. E, por sermos um time que brinca muito e dança, fomos assim taxados como ‘o time afeminado’, o que, ao nosso ver, apenas reforça o quanto preci­samos percorrer para quebrar todas as barreiras do preconceito internas e externas.”

O capitão relata que quem frequenta os trei­nos abertos acaba voltando, pois pregam-se a diversão, o companheirismo e o espírito esportivo dentro e fora da quadra. “Temos familiares, ami­gos, namorados e noivos de jogadores sempre nos apoiando. E ver toda esta descontração e alegria torna isto tudo mais gratificante”, enfatiza ele.

Gustavo sublinha a importância do suporte familiar para enfrentar o preconceito e persistir no esporte. “Crianças são seres sem maldade e com um mundo à frente que julga, exige e opri­me. Se é assustador para um adolescente hete­rossexual, imagine para um homossexual! Logo, não se envergonhem de seus filhos. Respeito ao próximo, independentemente de cor, diferenças ou orientação sexual, é fundamental”, explica ele, agradecendo especialmente aos avós “por todo o amor recebido”.

Agenda para 2018

O sucesso do referido campeonato foi tanto que a 2ª edição já está marcada para 14/4/2018, em Porto Alegre/RS, onde atua o Magia Esporte Clube, prevendo-se inscrição de 16 times. “Em agosto do ano que vem, queremos participar do World Gay Games, em Paris.” A limitação financeira, porém, é uma reali­dade, e Gustavo busca apoio de empresas e pessoas: “Estamos abertos a patrocínios, para que consigamos mostrar a alegria e o nosso futebol para todo o mundo.”

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