Um dia antes do tão impactante caso de feminicídio em Guaraciaba (leia na pág. 13), o Fórum/PN viveu momentos inéditos. Como parte do projeto “Ponte para a paz entre as famílias”, grupo de homens processados denunciados com base na Lei Maria da Penha ouviu palestra da promotora de Justiça Cyntia Campos, com participação de Antônio Luiz Lanna Neto, Rosane Biazoto Cota e Maria José Soares, estudantes de Direito na Faculdade Dinâmica/PN encarregados de mostrar vídeos de violência contra a mulher.
A promotora abordou o tema numa perspectiva de gênero. Foram detalhados os cinco tipos de violência (física, psicológica, patrimonial, sexual e moral) evidenciados em forma de: agressões, estupros, homicídios, abandono material, ameaça, constrangimento ilegal, maus-tratos, perturbação do trabalho e do sossego, sequestro, cárcere privado, violação de domicílio, exploração financeira e apropriação de bens e objetos.
“A nossa expectativa é de que vamos ter bons resultados, porque vemos os homens participando, interessados, emocionados”, afirmou a promotora em informe divulgado pelo Tribunal de Justiça, que também transcreveu declaração do juiz da 2ª Vara Criminal e de Execuções Penais/PN, José Afonso Neto: “Trata-se de tentativa de mudança de cultura do enfrentamento da violência contra a mulher.”
A companheira de um dos agressores falou sobre a repercussão do projeto: “Ele tinha escutado ‘conversa’ de uma mulher e me agrediu a socos num domingo, na praça onde eu passeava com meus filhos.”
Essa vítima acompanha o marido no projeto forense para garantir a participação dele. “Eu acho que isso veio do céu, porque, a partir do primeiro dia em que ele participou, já chegou em casa dizendo que não podia bater em mulher. Falou que não queria mais voltar para a cadeia e não queria mais brigar comigo. O relacionamento agora está bem melhor”, comemorou ela.
Otimismo à parte, recorremos às chocantes estatísticas: recente estudo – com dados de 2015 – revelou que, a cada 4min, uma mulher sofre algum tipo de violência em Minas Gerais, e por dia, são 353 agressões, sendo gritante a realidade da subnotificação das ocorrências.
Desejamos que esse projeto forense seja bem-sucedido, de forma a minimizar tragédias domésticas – como a de Guaraciaba. A sociedade clama, sobretudo, por punição exemplar, como forma de combater a sensação de impunidade e atacar frontalmente esta gravís-sima violação contra os di-reitos humanos.