O conteúdo desta matéria é exclusivo para os assinantes.

Convidamos você a assinar a FOLHA: assim, você terá acesso ilimitado ao site. E ainda pode receber as edições impressas semanais!

Já sou assinante!

― Publicidade ―

Ilustradora de nossa região presente na Bienal do Livro RJ 2025

Na Bienal do Livro, haverá lançamento da obra “Uma vida bordada em palavras”, ilustrada por Luísa Viveiros, artista radicada em Ponte Nova.
InícioCIDADENa região do Simplício, o drama dos pontenovenses afetados pela lama da...

Na região do Simplício, o drama dos pontenovenses afetados pela lama da Samarco

Na manhã desse 31/10, foi bastante difícil o trajeto – em meio à lama provocada pela chuva – da Reportagem desta FOLHA, ao lado do ex-secretário/PN de Desenvolvimento Rural Márcio Daniel, até a Fazenda Simplício, localidade pontenovense afetada, em 6/11/2015, pelos rejeitos da Barragem de Fundão/Mariana, vazados 24 horas antes.

Nessa localidade, abaixo da região de Chopotó, encontramos a casa de Maria das Graças Domeniguete, 61 anos, que mora à margem do rio do Carmo. Dois anos depois da maior tragédia ambiental do Brasil, prevalece o trauma dela.

“A gente não sabia direito o que estava chegando. Ouvimos um pouco no rádio e achamos que era só enchente. Quando, às 5h da manhã, escutamos aquele estrondo horrível pelo rio abaixo, corremos para ver. Parecia um barulho de mar revoltoso. E aí veio o mar de lama, arrasando tudo”, conta Maria das Graças.

Pesadelo

Na manhã da tragédia, lembra ela, os primeiros a chegar ali foram os representantes da Defesa Civil e a Polícia Militar, ambas de Ponte Nova.

Dois anos depois, com os profundos danos no sítio dela e nas propriedades de seus irmãos (Eduardo, João Bosco, Miguel e Conceição), Maria das Graças desabafa: “Já tive muito pesadelo com o barulho que ouvi naquela madrugada. A gente fica aqui, com medo de acontecer de novo.” A sitiante mora ali há quase 50 anos, sendo 33 anos só na casa de onde deparou com a inundação.

Atualmente, o terreno da propriedade de Maria das Graças teve boa parte afetada pelos rejeitos. Pouco restou dos pomares – de laranja, acerola, pitanga e abacate – e do plantio de mandioca. “Naquele dia, uns 50 pintinhos ficaram atolados na lama”, recorda-se ela, que compra hoje o peixe que a família pescava até novembro/2015.

Samarco sugere

“Ainda hoje minhas galinhas estão morrendo. Já perdi mais de 50 delas desse jeito e gastei muito com remédio”, explicou Maria das Graças.

Há cerca de um ano, ela recebe, da Samarco, sacos de silagem para alimentar seu gado. Mas somente em agosto/2017 fizeram um serviço no quintal onde a lama espalhada secou. “Colocaram uma espécie de rede plástica por cima, que, por ser verde, de longe dá a impressão de ser grama.
As orientações são de que não devem ser plantadas árvores frutíferas ou vegetais no local desta rede”, informa a sitiante.

Demora

Maria das Graças se queixa da demora no seu cadastro perante a Fundação Renova,  que tem a missão de gerir os programas de reparação dos atingidos: “Meu cadastro só foi feito agora, em 17/7, sendo que os dos meus irmãos são de 2016 e eles já recebem o salário do
cartão-benefício. Será que eles pensam que não preciso porque sou aposentada?”

Apenas em set/2017, comitiva da Renova percorreu as terras do Simplício, “fotografando tudo, pegando dados e informações: só então os papéis para dar início à indenização começaram a ter andamento”, disse Maria das Graças para continuar:

“Eles sempre vêm, fazem diversas perguntas, e nada é resolvido. Isso deve sair só no próximo ano. Mas ainda tenho esperanças.”

Outro depoimento

Não muito distante dali, José Carlos Domeniguete, sobrinho de Maria das Graças e filho de João Bosco e de Maria de Fátima, recebeu a reportagem desta FOLHA para mostrar as partes afetadas em sua propriedade, onde mora desde que nasceu, há 32 anos. Ele resumiu como foi o dia da tragédia:

“Eu tinha ido tirar leite das vacas com meu pai, e aí vimos a lama chegando de madrugada. Vinha muito forte, e tivemos que tocar o gado, pois o barro invadiu o curral. Mesmo assim, duas vacas ficaram atoladas
e morreram.”

Ele disse que, de imediato, todos temeram que a lama iria levar a casa. “Ficamos cerca de 40 dias ilhados, pois toda a estrada estava coberta, com mais de 60cm de altura de lama. Depois, eles [o pessoal da Prefeitura/Ponte Nova] vieram e arrumaram a passagem, mas, quando chove, ainda fica esse atoleiro todo”, explica José Carlos.

Ele ainda se queixa da pouca produção de leite e conta que, desde março de 2016, sua família vem recebendo o salário do cartão-benefício. Já a cerca e a contenção no córrego no fundo de sua propriedade foram feitas, porém, apenas em agosto deste ano.

 “O curral teve a lama retirada na época [pela Samarco], mas no ‘capinheiro’ não teve nada feito ainda para ter como alimentar o gado. Na beira do rio, a Samarco está mexendo porque o Meio Ambiente está pressionando, mas nossos quintais continuam com muita lama”, explica ele, que aguarda indenização por tantos danos ali verificados.

Concreto de barro seco

Caminhando por seu terreno, a poucos metros do rio que corre denso e pastoso, José Carlos mostra as bananeiras que continuam morrendo e os pés de café completamente secos. Não há mais produção de fruta de conde, laranja e mandioca: “Tínhamos frutas com fartura, vendíamos laranja e mexerica. Agora não podemos plantar, pois o chão virou concreto depois que o barro secou.”

“Fico pensando como poderia tirar essa ‘terra de lama’ daqui, levar pra outro lugar e colocar uma terra nova e boa aqui. É muito ruim ver tudo assim após dois anos”, conclui ele.

Leia a matéria completa em nossa edição impressa que circula nesta sexta-feira (3/11). 

error: Conteúdo Protegido