Juíza criminal de Rio Casca, Danielle Rodrigues da Silva decretou em 6/9 a prisão preventiva de 6 policiais civis e 2 proprietários de autoescolas da região. Além destes, mais dois policiais indiciados – e foragidos ainda ontem (15/9) – são acusados de integrar quadrilha especializada em venda de Carteira Nacional de Habilitação/CNH, num crime denunciado em 29/8.
Esta FOLHA teve acesso, nesta semana, ao processo que tramita na sede da Comarca de Rio Casca, a partir de inquérito concluso enviado pelo delegado regional-adjunto de PN, Wallace Drey Soares, indiciando 22 pessoas, sendo 6 policiais civis, 12 pessoas que compraram CNHs e 4 pessoas ligadas a autoescolas.
Estão reclusos, na Casa de Custódia da PC, no bairro Horto/BH, Glaicon Filemon Monteiro Severino, investigador em Ibirité, e três investigadores de Manhuaçu (Eusimar Pereira da Silva, Sérgio Emerick Dutra e Márcio Ambrósio de Oliveira).
De acordo com a apuração deste jornal, permanecem foragidos os policiais Wellington Ribeiro da Silva e Luciana Rodrigues Moreira, ambos de Manhuaçu. Todos foram indiciados por corrupção passiva e formação de quadrilha. Se comprovada em Juízo a participação deles no esquema, pode haver demissão sumária da Polícia Civil.
De acordo com o inquérito, sendo reprovados em exames aplicados pela Banca da Comissão Examinadora de Ponte Nova, candidatos da região eram aliciados para obter ilegalmente suas habilitações por intervenção de 4 pessoas acusadas de corrupção ativa: José Fábio Bitarães Neto, da Autoescola Bitrans, de Raul Soares; Júnior César da Silva, da Trânsito Certo, de Rio Casca; a ex-funcionária de autoescola gramense Sônia Maria Untaler Silveira; e Waldir Pedro Gomes Amador, da Autoescola Visão, de Manhuaçu.
Waldir e Júnior César estão recolhidos na Penitenciária de Ponte Nova, mas só falam em Juízo, assim como José Fábio, recluso no Presídio de Manhuaçu. A advogada Daniela Gomes Ibrahim informou a esta FOLHA que dois candidatos a CNH (J.G.A.P. e M.C.S.S.) confessaram o crime e terão redução na pena. Eles foram indiciados por corrupção ativa: “oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício”.
Entenda o caso
Num primeiro momento, a Polícia Civil apurou denúncia de que candidatos de Rio Casca, São Pedro dos Ferros e Santo Antônio do Grama compraram CNHs em Manhuaçu depois de serem reprovados na Banca Examinadora de PN, conforme investigações dos delegados Wallace e José Marcelo de Paula Loureiro/regional de PN.
De acordo com o apurado, estes candidatos compraram suas habilitações após serem procurados por pessoas das citadas autoescolas, aliadas do policial Glaicon. Este tinha acesso ao sistema on-line do Detran, alterando o endereço de candidatos para Abre Campo.
Com isso, eles se inscreviam na Banca Examinadora de Manhuaçu, onde os pretendentes chegaram a pagar entre R$ 3,5 mil e R$ 7 mil para obter a carteira. Investiga-se ainda como era a divisão dos valores entre os 34 envolvidos na quadrilha.
O esquema veio a público, em 29/8, com a deflagração da Operação Ovelha Negra, ocorrida simultaneamente em 11 cidades. Segundo a PC, ainda estão na mira dos investigadores condutores dos municípios de: Abre Campo, Luisburgo, Manhuaçu, Matipó, Raul Soares, Rio Casca, Santa Margarida, Sericita e Pedra Bonita.
A Polícia Civil acredita que existam mais de 200 CNHs obtidas de maneira fraudulenta. As autoescolas Bitrans, Trânsito Certo e Visão estão com as atividades suspensas judicialmente, e o Detran-MG instaurou processo administrativo. A Bitrans e a Trânsito Certo entraram com mandado de segurança no Tribunal de Justiça tentando revogar a decisão da suspensão do seu funcionamento.