Na programação oficial do X Festival de Inverno de Ponte Nova, consta a exposição "Festas e Festejos Populares", a acontecer no Arquivo Público Municipal, na sede da Prefeitura de PN, n9o Centro Histórico, de 24 a 31/7, em horário comercial. O colunista Ademar Figueiredo, da coluna Arte & Cultura, desta FOLHA, aproveitou a oportunidade e bateu um papo com o historiador e coordenador do Arquivo, José Geraldo Begname (foto), sobre o Arquivo Municipal. Confira a entrevista.
José Geraldo, apresente-se para nossos leitores
Sou formado em História, pela Universidade Federal de Ouro Preto/Ufop, e técnico em Conservação e Restauração de Bens Móveis, pela Fundação de Arte de Ouro Preto/FAOP. Já estagiei e prestei serviços ao Museu da Inconfidência. Trabalho com pesquisa histórica desde 1994 e criei o Arquivo Geral da Prefeitura de Mariana, em 2002, do qual fui coordenador até 2012. Fui também professor da Faculdade de Ciências Humanas do Vale do Piranga/Favap. Estou à frente dos trabalhos no Arquivo Público pontenovense desde março de 2014.
Fale um pouco sobre o Arquivo Municipal
O Arquivo, pensado enquanto local para preservação, guarda e pesquisa de documentos públicos, foi criado na gestão do prefeito Otávio Soares, entre os anos de 1937 e 1943. O trabalho, liderado pelo professor Mário Clímaco, desenvolveu-se numa época de vocações nacionalistas, de construção de uma identidade nacional. Assim, cabia à história e aos intelectuais e artistas trazer ao nosso conhecimento as “raízes e a própria cultura brasileira”. Ouro Preto, Mariana, aliás, o barroco brasileiro não era conhecido. Os primeiros tombamentos de igrejas e do casario colonial dessas cidades datam desta época. O mesmo aconteceu com a documentação pública do período colonial, guardada nos porões dos cartórios, fóruns, câmaras, na própria Cúria Arquidiocesana de Mariana: teve início a sua recuperação. Nenhum historiador havia manuseado tais documentos. É nesse espírito e nessa época que nasce nosso Arquivo. É importante que isto seja dito, pois não se trata de apenas da criação de uma instituição, mas de pensar que aqueles que estiveram à frente deste trabalho conheciam exatamente o que estava acontecendo no Brasil, portanto sabiam da importância da documentação existente na Câmara e noutros espaços.
Hoje o Arquivo possui três fundos documentais (conjuntos de documentos conforme a origem): Câmara Municipal (1863-1945); Prefeitura Municipal (de 1930 em diante); e Cartório do 1o Ofício de Notas (1863-1945). Essa é a documentação histórica, já catalogada e tombada, em 2014, como patrimônio cultural e científico. Somando este acervo com o intermediário e o corrente, existem quase dois quilômetros lineares de caixas de documentos que municiam pesquisas acadêmicas de sete universidades federais de Minas, São Paulo, Rio e Espírito Santo.
Vejo um futuro promissor para o Arquivo, porém também vejo que precisamos encontrar parceiros que invistam no Arquivo. O Arquivo hoje tem mais de quatro projetos que precisam de recursos para ser desenvolvidos. Um deles refere-se à coleção de jornais históricos: precisam urgentemente ser microfilmados.
Quais conquistas você destaca neste tempo?
A mais importante de todas: a preservação de importante acervo histórico, que se refere a uma população que se estendia daqui até as divisas com o Espírito Santo. Neste sentido, quero deixar clara a importância de todos aqueles e aquelas que zelaram pelo Arquivo, que o enxergaram para além de um lugar sem vida.
Ultimamente, cito o tombamento da documentação histórica como um ato jurídico de salvaguarda. A aprovação de uma nova lei municipal de arquivos. Hoje é possível responsabilizar civil e criminalmente um servidor ou gestor por danos aos documentos públicos, inclusive os famosos apagões em computadores durante a troca de mandato. Foi criada comissão que analisa processos de descarte de documentos. Participamos do processo de recuperação da documentação da Comarca de Ponte Nova. Foi constituído laboratório de conservação e pequenos reparos, e finalmente uma reforma do espaço físico do Arquivo, obra que ainda encontra-se em andamento.
Atualmente lutamos para que a documentação histórica da Comarca de Ponte Nova fique em poder do Arquivo Municipal. Caso isso não aconteça, ela será transferida para a sede do Tribunal, em Belo Horizonte. Inclusive, precisamos de apoio nesta demanda.
De que forma o cidadão pode frequentar/usar os serviços ofertados pelo Arquivo?
A forma mais comum de acesso a ele é através da pesquisa no seu acervo. O interessado deve ir diretamente ao Arquivo Municipal: quarta-feira, de 14h às 18h, e quinta e sexta-feira, de 8h às 18h. O contato prévio pode ser feito pelo e-mail apmpn02@gmail.com ou o telefone (31) 3819-5454.
O que podemos encontrar no blog http://arquivopublicomunicipaldepontenova.blogspot.com.br/ e a quem ele é destinado?
A ideia do blog é dar mais visibilidade ao Arquivo Municipal e seu acervo. Nele postamos textos, geralmente documentos históricos transcritos, que tratam de algum assunto de maior interesse. A ideia não é contar histórias, mas apresentar documentos. Por isso, os documentos são apresentados transcritos como no original, para que o leitor possa extrair deles suas conclusões. São ótimos para professores de História, Geografia, Português, mas usá-los requer entrar nos pormenores do texto e nas suas entrelinhas.
O blog é uma ferramenta poderosa: em menos de três meses, já tivemos mais de 1.300 acessos.