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Alcoólicos Anônimos: ‘A Sobriedade ao Alcance de Todos’


A seguir, a integra de texto enviado a esta FOLHA por dirigentes do Comitê Trabalhando com os Outros/CTO, vinculado ao 15º Comitê do Distrito Regional de Alcoólicos Anônimos.“O livro do Gênesis nos relata um caso exemplar de falta de sobriedade. Adão e Eva tinham à sua disposição todo o imenso pomar do Jardim do Éden, mas sentiram-se irresistivelmente atraídos a provar do único fruto que lhes era vedado, por lhes ser potencialmente prejudicial. O final da história todos nós conhecemos. Mesmo que vejamos o relato bíblico como uma metáfora, é forçoso admitir que contém ensinamento valioso.


O Poder Superior colocou à nossa disposição inúmeros talentos e infindáveis opções de satisfação e realização pessoal. Entretanto, para desfrutar de algumas delas, temos, muitas vezes, de renunciar ao prazer imediato, em beneficio de um prazer ou realização mais consistentes e duradouros. Porém, como na experiência de Pavlov, muitas vezes somos irresistivelmente atraídos pela satisfação imediata, mesmo conhecendo o preço a pagar, a curto ou longo prazo. Outras vezes não é só o prazer imediato que nos prejudica, mas a falta de moderação no seu uso. Agimos como a criança que não consegue se conter ante a caixa de chocolate que recebeu no Natal e depois se queixa de indisposição estomacal.


Todos nós, sem exceção, temos nosso lado criança, às vezes uma criança saudável, outras vezes uma criança carente ou indisciplinada. Temos também nosso lado adulto, em grande parte fruto de esforços pessoais de amadurecimento ou de aprendizado direto de pais, familiares e educadores, também este lado mais ou menos saudável, de acordo com a educação e as características individuais. E todos nós temos, ainda, alguns aspectos desarmonizados e somos desafiados a aperfeiçoá-los ou superá-los. A capacidade de administrar potenciais, deficiências e desafios constitui grande parte da epopeia da vida humana. É essa maior ou menor capacidade um dos aspectos que nos diferencia dos animais e nos toma únicos em nossa individualidade.


Felizmente, o Poder Superior colocou à nossa disposição 'anjos', que podem ser nossos parentes, amigos, colegas ou vizinhos, que nos auxiliam, se nossa teimosia não os repelir nem invalidar seus esforços. Também foram colocados à nossa disposição recursos os mais diversos, a que podemos recorrer, se nossa humildade e discernimento o permitirem.


Um desses recursos inestimáveis é o trabalho de grupo e em grupo. Buda, que foi um grande psicólogo, dizia que há três preciosas formas de ajuda em nosso processo de crescimento e amadurecimento. Traduzo sua mensagem em minhas próprias palavras: uma boa filosofia, um bom orientador e um grupo de amigos dispostos a compartilhar os sonhos, o crescimento e o apoio mútuo.


A Irmandade de Alcoólicos Anônimos oferece esses três pilares de apoio: membros experientes e sinceros; uma sábia filosofia, testada na experiência de décadas; e centenas de grupos de Alcoólicos Anônimos, onde os membros compartilham amorosamente o que aprenderam, às vezes a duras penas, e se apoiam mutuamente.



 



 


A moderação e a sobriedade são necessárias em todos os aspectos da vida humana. Porém a experiência tem demonstrado que, para a cura do alcoolismo, não basta a simples moderação, sendo necessária a sobriedade observada com rigor, não por moralismo, mas pelo amor do alcoólico a si
próprio.


Quando um novo membro chega aos Alcoólicos Anônimos, geralmente já passou por amargas experiências que deixaram cicatrizes profundas na sua alma e na alma de amigos e familiares.


O desafio da mudança pode lhe parecer, à primeira vista, um objetivo tão longínquo e difícil, que se assemelha a um sonho fugaz.


Sabiamente, o grupo propõe um objetivo bem simples e bem mais acessível a quem já chega desencantado com inúmeras decisões anteriores fracassadas: a sobriedade rigorosa, porém por 24 horas.


Pode haver recaídas, mas, se o membro persiste com humildade e determinação em sua decisão, não lhe faltarão o apoio fraterno do grupo e a ajuda do Poder Superior.


E assim é que, praticando a sobriedade por 24 horas, milhões de pessoas no mundo inteiro estão se recuperando do alcoolismo. Com base na experiência de décadas, os membros de Alcoólicos Anônimos lembram ao recém-chegado que parar de beber é apenas o primeiro passo e é necessário enfrentar as causas que deram origem à dependência do álcool. Daí, os Doze Passos de Alcoólicos Anônimos. Se o novo membro pratica com zelo e perseverança esses Passos, ele não apenas alcança a sobriedade, como também vai se tornando uma pessoa melhor, um ser humano cada vez mais livre e capaz de ajudar a si mesmo e a outras pessoas. O alcoolismo, que antes constituía um sério problema e uma grande dificuldade, transforma-se numa fonte de preciosas oportunidades.


O membro de Alcoólicos Anônimos vai se tornando cada vez mais capaz de estender a mão a outras pessoas que hoje estão em situação semelhante àquela em que ele se encontrava ao encontrar o Grupo. Por gratidão e também por amor a si mesmo e ao próximo, continua frequentando as reuniões do Grupo e sensibilizando outras pessoas a frequentá-las.


O alcoolismo tem efeito devastador, tanto na vida pessoal do alcoólico, como em sua família, em seu trabalho e nos meios que frequenta.
Muitas famílias ficam desamparadas materialmente após a depredação, pelo alcoólico, de todo o seu patrimônio material
. Outras passam ou passaram por enormes dificuldades após a perda do emprego do(a) chefe de família em decorrência do alcoolismo.


Assim, o alcoolismo não afeta apenas o indivíduo. Amigos, colegas, cônjuge, filhos e toda a família de alguma forma são afetados e muitas vezes são cúmplices silenciosos.


Felizmente, muitas empresas estão sendo despertadas pela necessidade de criar mecanismos de apoio aos alcoólicos que desejam recuperar-se ou de 'convencer' os resistentes.


Quanto à resistência aos familiares, colegas e amigos do alcoólico, foram criados os grupo de Al-Anon, com essa finalidade. Essa maravilhosa rede se estende e se ramifica amorosamente em oportunidades de crescimento para um sem número de pessoas.

Geralmente, o alcoólico não procura espontaneamente a mudança. Em sua autossuficiência distorcida, costuma apresentar mil desculpas para continuar em sua dependência do álcool. Assim, o único requisito para se tomar membro de A.A. m – que o alcoólico reconheça sua dependência e impotência frente ao hábito de beber e se disponha sinceramente a mudar – poderia invalidar, na prática, todo o esforço dos Grupos de Alcoólicos Anônimos, porque pouquíssimos alcoólicos chegariam a procurá-los espontaneamente.


Essa resistência do alcoólico pode ser superada, na prática, quando seus parentes, colegas de trabalho e amigos compreenderem a importância de evitar 'salvar' o alcoólico dos efeitos danosos de seus atos, ou seja, quando permitirem que ele assuma as consequências, mesmo as dolorosas, de seu hábito, até que estas se tornem tão insuportáveis que ele resolva humildemente buscar e aceitar ajuda. Entretanto não é uma atitude amorosa esperar pacientemente que o alcoólico chegue ao fundo do poço para decidir-se a mudar, porque a ajuda poderia chegar tarde demais: o organismo poderia já estar por demais debilitado, o patrimônio familiar poderia ter sido totalmente dilapidado ou o alcoólico já poderia ter perdido seu emprego na empresa em que trabalha, deixando a família em sérias dificuldades, ou um acidente poderia ter-lhe tirado a vida ou tê-lo deixado incapacitado.


Felizmente, existem maneiras de 'encurtar' esse processo e todo esse sofrimento. Se falta ao alcoólico a vontade ou a motivação para mudar, um 'empurrãozinho' amoroso poderá ser dado. Um alcoólico poderá ser 'convencido' a abandonar a bebida com mais rapidez, na maioria dos casos, se tiver ajuda adequada dos que lhe estão próximos. Além de evitar serem cúmplices de seu hábito de beber e de sua conduta inadequada, existem providências válidas que familiares e amigos poderão tomar, no sentido de levá-lo a aceitar imediatamente outros tipos de auxílio ou de tratamento disponíveis.


Hoje, alguns profissionais mais experientes e abertos já sabem que o alcoólico pode ser 'convencido' a querer e aceitar essa ajuda e que esse processo é válido e legítimo, se for bem conduzido, uma vez que está em jogo uma vida humana. Sabem também que os que se submetem a tratamento sob pressão têm quase o mesmo índice de recuperação que os poucos alcoólatras que procuram tratamento correto voluntariamente (estes são menos de 1% dos alcoólatras). Sabem, ainda, que os que são deixados à própria sorte provavelmente morrerão antes de atingir o fundo do poço.


Alguns profissionais também já se convenceram de que, se os familiares e amigos não forem tratados ou pelo menos devidamente sensibilizados e orientados, o resultado de todo esse trabalho será incerto. E já estão convencidos, ainda, de que, após um tratamento em centro especializado ou de desintoxicação, a melhor providência é o encaminhamento do alcoólico para um Grupo de Alcoólicos Anônimos, onde terá apoio e orientação adequada para se manter sóbrio, sem, evidentemente, abandonar a psicoterapia. Também sabem que é importante encaminhar os familiares para uma psicoterapia ou para um Grupo de AIAnon, ou para ambos simultaneamente.


Essa forma de 'pressão' amorosa, é bom ressaltar, não só é válida e legítima, como tem, na prática, ajudado decisivamente no processo de recuperação de muitos alcoólicos. Assim, os 99% de alcoólicos que teriam sido deixados à própria sorte podem encontrar outra forma eficaz de ajuda, respaldada pela ajuda amorosa de Alcoólicos Anônimos, como já foi dito.


Acredito que a Irmandade Alcoólicos Anônimos não precisaria necessariamente mudar sua estratégia de atração de novos membros. Entretanto é preciso exercitar o amor e a criatividade para criar condições bastante favoráveis e acolhedoras para esses alcoólicos, que hoje se dispõem a mudar, após terem sido inicialmente pressionados a isso por psicólogos, médicos, assistentes sociais ou pelo Setor de RH de empresas. Talvez incentivar reuniões especiais para novatos.


No livro 'Viver Sóbrio', editado em 1997, por Alcoólicos Anônimos, podemos ler: 'Provavelmente, todo alcoólico recuperado já precisou e já procurou assistência especializada, que não é oferecida por Alcoólicos Anônimos. Por exemplo, os dois primeiros membros de AA, seus cofundadores, tiveram necessidade de ajuda de médicos, hospitais e religiosos. Assim que começamos a permanecer sóbrios, muitos problemas parecem desaparecer. Mas persistem (ou surgem) outros que realmente exigem atenção profissional especializada, como a de um obstetra, de um pedicuro, de um advogado, de um especialista em tórax, de um dentista, de um dermatologista ou de um conselheiro psicólogo.'


Examinando as 'histórias' de alcoólicos recuperados, podemos claramente ver que todos nos beneficiamos, numa ocasião ou noutra, de serviços especializados de psiquiatras e outros médicos, enfermeiros, orientadores, assistentes sociais, advogados, religiosos e outros profissionais. O livro básico de AA, 'Alcoólicos Anônimos' (este editado em 1939), recomenda especificamente, na página 86, que se procure ajuda. Felizmente, não encontramos conflitos entre as ideias de AA e a competente orientação de um profissional com conhecimento especializado do alcoolismo.


A primeira edição, em inglês, do livro 'Viver Sóbrio', antes citado, data de 1975, quando ainda não eram muito conhecidos os recursos das modernas psicoterapias, praticadas por psicólogos, e por esse motivo não são citadas especificamente. Ainda hoje, persiste esse desconhecimento. Assim, as psicoterapias têm siso pouco indicadas, pelos motivos apontados.


Nas últimas décadas, têm surgido abordagens psicoterapêuticas capazes de ajudar eficazmente o alcoólico e seus familiares, especialmente quando a psicoterapia individual é aliada à psicoterapia de grupo ou à psicoterapia familiar. Os tratamentos especializados e as psicoterapias poderão constituir inestimável ajuda. Mas o sucesso de tais tratamentos dependerá, em grande parte, de formação específica e do maior ou menor preparo dos profissionais envolvidos para tratar de alcoólicos. Por isso é preciso muito critério na escolha do profissional.


Psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, administradores, profissionais da saúde em geral e outros profissionais também têm-se interessado cada vez mais em conhecer mais de perto a Irmandade, seus Passos e Tradições. Alguns profissionais já estão conscientes de que, nesses casos, paralelamente à psicoterapia, é aconselhável que os familiares frequentem Grupos de AI-Anon ou Alateen.

Tenho observado que mesmo os clientes alcoólicos que se mantêm sóbrios têm-se beneficiado muito, inclusive como seres humanos, da frequência aos Grupos de Alcoólicos Anônimos, principalmente pela vantagem insubstituível de poderem compartilhar a conquista da sobriedade com outros que também a têm mantido ou tentam conquistá-la.


Infelizmente, entretanto, há uma pequena parcela de clientes alcoólicos que não conseguem vencer os preconceitos seus e de suas famílias a se exporem como portadoras da doença do alcoolismo e preferem ficar apenas com a psicoterapia, recusando-se a frequentar os Grupos citados, perdendo, assim, preciosa oportunidade de crescimento.


Os pioneiros fundadores de Alcoólicos Anônimos dificilmente poderiam, na época, imaginar o alcance que o movimento ou Irmandade iria conseguir, após algumas décadas, inspirando-se em ideias simples e práticas emanadas do Poder Superior e canalizadas através dos fundadores e dirigentes para enfrentar um dos maiores desafios de nossa época: a multiplicação legal de produtos à base de álcool e seu uso e abuso por milhões de pessoas.

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