Na Semana da Mulher, esta FOLHA enviou duas perguntas a Fátima Amaral Ramalho/professora e diretora do Sindicato dos Professores – Sinpro/Minas – Regional Ponte Nova.
FOLHA – Considerando o período que antecede a campanha pró-eleições municipais de outubro, como explicar as poucas candidaturas femininas vitoriosas e como criar ambiente para maior inserção das mulheres na vida político-partidária?
Fátima – A questão da participação feminina na política no nosso município não é diferente do que ocorre em todo o país. A mulher representa mais de 50% da população e do eleitorado, responde também por mais de 45% da produção brasileira e pelo sustento de 1/3 das famílias, mas esse protagonismo ainda não se reflete na representação política feminina. Ainda não alcançamos a paridade de gênero na política, nos espaços de poder, porque a cultura brasileira é machista e discriminatória.
Um dos caminhos para mudar esta realidade é uma reforma política democrática com enfoque de igualdade entre homens e mulheres. Poderia ser implementado, por exemplo, o voto em lista partidária fechada que contemple a alternância de nomes entre homens e mulheres, chegando à paridade entre os sexos. É necessário também estimular que as definições internas dos partidos políticos sejam tomadas em coletivos e não continuem nas mãos dos chefes políticos, que em geral são homens.
FOLHA – Considerando o Dia Internacional da Mulher (8/3) e o Ano do Sesquicentenário de Ponte Nova, quais são as reivindicações que você prioriza como forma de otimizar a inclusão feminina na vida política e social de nosso município?
Fátima – Essa cultura patriarcal que isola as mulheres do mundo da política está refletida nos partidos políticos. Eles não incentivam as mulheres a participar, não compartilham estes espaços e não se incomodam com a pequena representação feminina nos poderes, pois a exclusão da mulher já está naturalizada. Um contrassenso, pois ela tem papel fundamental na economia e inclusive nos movimentos sociais, dando enorme contribuição para a transformação deste país.
Não há como votar em mulheres, se elas aparecem pouco, exatamente porque os partidos não abrem oportunidades iguais às oferecidas aos homens. Os partidos divulgam os candidatos que querem eleger e, na maioria das vezes, aceitam as candidaturas femininas por exigência da lei, apenas para cumprir cotas. Assim, elas não têm visibilidade e enfrentam muito mais dificuldades, como, por exemplo, obter recursos para financiar suas campanhas.
A solução para criar maior participação das mulheres nos espaços públicos passa também por transformações no espaço privado. É preciso desonerar as mulheres das tarefas domésticas. Cabe também aos homens modificarem seus parâmetros de valores, papéis e atribuições.