A fim de conhecer de perto a situação dos municípios mais atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão (Samarco), localizada na região de Mariana, e de aliar, junto à comunidade e às autoridades, as necessidades locais às ações de recuperação da bacia, representantes dos Comitês de Rios Afluentes e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) realizaram, entre 17 e 19/12, uma expedição. Nomeada “Missão Mariana”, a expedição foi marcada pela visita ao distrito de Bento Rodrigues e às cidades de Barra Longa e Rio Doce, sendo finalizada na UHE Risoleta Neves (Candonga).
O presidente do CBH-Doce, Leonardo Deptulski, destacou a importância da visita e do papel dos Comitês neste momento de crise: “Precisamos entender a gravidade do que aconteceu e a necessidade de ações urgentes. E, nesse contexto, o nosso Plano Integrado de Recursos Hídricos (PIRH) precisa ser o ponto de partida, combinado com as ações emergenciais que precisam ser realizadas após o desastre.”
Já segundo a secretária executiva do CBH-Suaçuí e presidente da Câmara Técnica de Gestão de Eventos Críticos do CBH-Doce, Lucinha Teixeira, este é o momento de “fortalecer os onze Comitês, pois é de nossa inteira responsabilidade salvar os afluentes para recuperar o rio Doce”, disse Lucinha.
Na noite de 17/12, uma reunião de alinhamento marcou o início das atividades da expedição. O objetivo foi alinhavar, junto com os cerca de 40 participantes, como seria o andamento da “Missão Mariana”. O encontro foi voltado para esclarecimentos e orientações sobre as atividades, repassados pela representante da Prefeitura de Mariana e membro do CBH-Piranga, Rogéria Trindade. Ela abriu os trabalhos explicando as questões de segurança das áreas afetadas. “O desastre também afetou a economia da cidade de Mariana, pois caíram consideravelmente os investimentos na cidade”, lembrou Rogéria.
Já o presidente do CBH-Manhuaçu, Senisi Rocha, que participou da organização da expedição, destacou a importância de visitar as áreas afetadas e ver de perto os impactos da tragédia. “Nós, representantes do CBH-Doce e dos Comitês de Rios Afluentes, não poderíamos deixar de sentir na pele a realidade da tragédia. Precisamos passar por essa experiência”, disse Senisi.
O segundo dia da “Missão Mariana” foi marcado pelo encontro com autoridades e representantes da Associação de Moradores Atingidos pelo Rompimento da Barragem de Bento Rodrigues, distrito de Mariana. O prefeito do município, Duarte Júnior, ressaltou a importância da participação dos Comitês nas ações de recuperação da bacia: “Qualquer decisão em relação a esses mananciais necessita da presença dos Comitês. Precisamos agora fazer trabalho conjunto para errar menos e, para isso, precisamos ter representantes que conheçam a realidade das bacias e possam fazer a diferença." Já o presidente da Associação dos Moradores de Bento Rodrigues, José Nascimento de Jesus, lembrou, emocionado, como era o distrito antes da tragédia. “Perdemos nossa essência, nossa raiz. Esperamos que a empresa faça a parte dela e isso seja feito o mais rápido possível”, disse. Durante o encontro, o presidente do CBH-Piranga – bacia mais afetada pela tragédia -, Carlos Eduardo Silva, destacou que é preciso rever a utilização de barragens de rejeito de minério: “Que isso sirva de exemplo não só para Minas, mas para o Brasil. Essas barragens de rejeito precisam ser repensadas e modernizadas, para que catástrofes como essa sejam evitadas. Agora, o rio Piranga é um dos rios afluentes que se tornará essencial para a recuperação do rio Doce.”
O terceiro e último dia da “Missão Mariana” foi marcado pela visita aos municípios de Barra Longa – segunda região atingida pelo rejeito – e Rio Doce, local onde há o encontro dos rios do Carmo e Piranga, formando o rio Doce. Além disso, os participantes da expedição conheceram a UHE Risoleta Neves (Candonga), primeira usina a receber a onda de lama após o desastre.
Renaldo Lino, membro do CBH-Doce e índio da etnia Krenak, falou sobre a tristeza da comunidade indígena e a expectativa quanto à recuperação do rio Doce. “Para a gente, o rio é cultura, lazer e, acima de tudo, vida. A tragédia de Mariana afetou diretamente a nossa história e o nosso meio de vida. O trabalho agora deverá ser conjunto para que a gente tenha o nosso rio de volta“, enfatizou. Ao final da expedição, os representantes dos Comitês refletiram sobre o ocorrido e reafirmaram o compromisso em função da recuperação do rio Doce.