Quando os impactos deixados pela lama que vazou da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central do Estado, são contabilizados, os relatos são de perdas materiais e pessoais, além de muita tristeza diante da história que se perdeu. Em Barra Longa, mais de 40 dias após a tragédia, a rotina da cidade ainda está longe de voltar ao normal, como informou em 18/12 o jornal O Tempo.
Há máquinas pelas ruas, constantes reuniões, barulho de máquinas e poeira, como registrou esta FOLHA há duas semanas. Para aumentar o sofrimento, os moradores precisam engajar-se numa luta diária para negociar ressarcimentos com a Samarco, responsável pela barragem.
Desde a demanda por novas casas até eletrodomésticos, o relacionamento entre as vítimas e a mineradora é cada vez pior. Moradores reclamam de falta de atenção e da dificuldade para conseguir ajuda. Um exemplo disso são as vizinhas Teófila Siqueira, a Dona Cenita, 69, e Rita de Cássia, a Cassinha, 52. As duas lutam para conseguir repor suas máquinas de lavar de roupa, como denuncia o diário da Capital.
“Estou tendo que lavar as roupas pesadas na pia da cozinha, e as íntimas, no lavatório do banheiro. Está tudo um transtorno. Perdi todo o meu quintal, a minha criação de galinhas, e a única coisa que precisava agora era de uma nova máquina de lavar”, conta Cenita à reportagem de O Tempo. Segundo ela, depois de dias sem nenhum contato com a empresa, uma assistente social a procurou. Durante a visita, a profissional contratada pela Samarco pediu que ela entregasse laudo médico que comprovasse que ela não tinha condições de lavar suas roupas à mão para ganhar uma nova máquina.
No caso de Cassinha, o pedido foi para que a dona de casa entregasse à mineradora a nota fiscal do eletrodoméstico. “Falei para eles que procurassem no meio da lama. Ali, talvez, eles a encontrassem”, afirma a dona de casa.
Outro ponto recorrente de reclamações entre os moradores da cidade é de pessoas que não foram incluídas no cadastro dos atingidos pela lama da barragem. Segundo o diário de BH, a dona de casa Maria Aparecida Pena, 47, por exemplo, teve seu quintal e sua horta – sua fonte de renda – devastados pela lama. Mas, como os rejeitos não entraram na casa, luta para ser incluída no cadastro.
“A Samarco prometeu, mas ainda não recebi meu cartão (para receber auxílio financeiro). Meu marido é doente, faz hemodiálise três vezes por semana em Ponte Nova (Zona da Mata) e não pode trabalhar. A horta era a nossa fonte de renda, e vai falar que não fomos atingidos?” Maria Aparecida ainda tenta ser levada para uma casa alugada, pois o marido, já com a saúde debilitada, está tendo reações alérgicas por causa da poeira deixada pelos resíduos da lama.
Nesta quarta, moradores, Samarco e MPMG reuniram-se para tentar entrar em acordo quanto às demandas da comunidade. Problemas com o cadastro foram o tema mais discutido durante o encontro.
A Samarco informou, em nota enviada ao jornal O Tempo, que as famílias que tiveram sua renda comprometida e seu cadastro validado junto à Defesa Civil e à mineradora vão receber auxílio financeiro, o que não significa ressarcimento de perdas. A empresa ainda afirmou que as famílias podem procurar informações no posto de atendimento em Barra Longa.
Quanto às necessidades de saúde dos moradores, a Samarco declarou que fornece todo o apoio necessário à Secretaria Municipal de Saúde, por meio de fornecimento de insumos e reforço de equipes.