
Ela fala (e bem) não pelos cotovelos, mas pelos neurônios. Raciocínio rápido, resposta na velocidade da luz, ela tem o que dizer e diz.
Numa reunião do maternal do seu filho, diante do pai bravo (evangélico) porque a filha chegara em casa com a imagem de uma santa, ela se levanta:
“- Deixa eu explicar uma coisa ao senhor: manda ela ninar a Nossa Senhora como se fosse uma boneca, o senhor tem que conhecer a ideologia da escola antes de matricular sua menina.”
Reta e direta, ela não deixa dúvidas. Impressiona-me sua capacidade argumentativa. Convidando-me a pensar que “o Estado pode, justamente porque está lá, coibir outros desmatamentos muito piores que já acontecem”, ela defende a possível exploração de petróleo na Amazônia. Pragmática, ela enxerga macroscopicamente as questões ambientais: “Se querem fazer uma hidrelétrica aqui, vamos ver o que vão compensar.” E arremata com sua franqueza certeira: “Posso te falar uma coisa? Não vivemos num estado democrático, mas, sim, econômico, de direito.” A advogada não se machuca contra os moinhos de vento, os provoca a girarem na melhor direção possível a favor de quem defende. E como defende!
Luciana Maroca de Avelar Viana é “A” defesa. Aos 14 anos foi incumbida pela professora Maria Augusta a defender o apartheid no tribunal simulado e quase convence a turma da escola de que o regime racista era maravilhoso.

A habilidade para defender pessoas e causas e a força no combate não se resumem às audiências.
“– Luciana, pelo amor de Deus!”
“– Ô senhora supervisora, sabe como isso chama? Legítima defesa. Sabe o que é? É quando o Estado é incompetente pra te proteger, então ele te dá a possibilidade de você se defender. Meu sobrinho passou cinco horários com o menino batendo na carteira, até levar um chute no saco! Ele se defendeu!”
“– Tia Lu, aí eu não aguentei e dei um murro nele.”
“– Fez muuuito bem! Meus filhos e sobrinhos não estão aqui pra apanhar nem sofrer bullying, estão autorizados a fazer justiça com as próprias mãos, se a escola não fizer por eles. Estamos entendidos?”
Não é à toa que a advogada Luciana tem um monte de clientes. Não importa se a causa é de milhões ou de trezentos reais, ela é a combativa defesa: “Não visto a camisa, eu tatuo a defesa em mim.” Quem a enfrenta nos processos sabe que a briga vai ser boa. “Topei com uma advogada que é o cão”, sai falando dela aquele promotor de BH.
“– (risos) Costumo dizer que tenho um Pitbull em mim que às vezes se solta da coleira e parte pra cima (risos): O quêêêêê, senhor juiz?! Ele quer ser guardião pagando uma pensão de trezentos reais! Guardião, doutor, sabe quem que é? Aquele que passa fome pro filho comer…” Mais uma causa ganha.
Esse espírito de luta vem da bebê Luciana sobrevivendo à infecção hospitalar na maternidade, da criança enfrentando a gordofobia, da personalidade dessa mulher admirável. Para os filhos Leonardo e Lucas, “ela é fod%!” A best friend da adolescência, Mariana, revela que “Lu, apesar de séria e reservada, com o seleto grupo de amigos, é uma pessoa divertidíssima”. A amiga recente, Terezinha, realça: “Luciana é inteligentíssima, solar e lunar, o próprio universo feminino em ação!” O marido, Marcelo, enfatiza, emocionado, que a mulher é a melhor pessoa que conheceu na vida.
“– Tenho consciência do meu papel social, por isso trato o Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade Dinâmica com tanto carinho. As pessoas que atendemos lá são pobres mesmo!”
A empatia e a compaixão são exemplos que Luciana traz de casa. Seus pais, católicos vicentinos, praticam a Pastoral Carcerária (“Eles enxergam as pessoas que a sociedade não vê”).
A cada caso contado, Luciana inclui o pai, a mãe, os filhos, o marido: “Minha vida é minha família.”
Saio da sua casa achando que precisava de mais conversa… Neste instante, agora, preciso é de mais espaço… falta contar da Luciana pianista, decoradora de ambiente, “PToca”, do seu romance de 32 anos, das indicações de filmes, da troca da promessa do padre, do machismo em abstinência, do mestrado, dos cem anos de solidão, da prova não anulada…