― Publicidade ―

Laene ComVida: ‘A caverna nossa de todo dia’

'Quanto mais surreal, mais compartilhamentos de mentiras e invencionices. A boa e limpa verdade tem sido esculhambada', diz Laene Mucci Daniel.
InícioDESTAQUELaene ComVida: É o mar? Não se avexe não!

Laene ComVida: É o mar? Não se avexe não!

Na praia os corpos são soltos, não se importam com as formas. Só se preocupam se vai ter sol. Gordos, velhos, lisos, beges, branquelos, bambos, pretos, dourados. Quando as almas alcançam o espírito marítimo, tomam os corpos de alegria e beleza. Barrigas balançam felizes sobre as cangas e o sol não seleciona, lambe todo mundo sob ele.

À beira mar sinto-me bonita, até posso correr na areia, andar de ponta a ponta, pular espumas, furar ondas. Quem cai no quebra-mar levanta rindo e quem vê gargalha. Pra quê música quando Iemanjá fala com a gente? Sem bolsa, celular nem dinheiro, vejo o céu abaixando no mar. Chuva perto, mas distante, escorre no horizonte. O sol se esforça pra chegar.

A chuva chega de pancada molhando chapéus, cadeiras, corpos e pensamentos. Fria, refresca quem corre para as barracas. Não dura nem 15 minutos, deixando o céu tão azul trancando as pálpebras de quem não usa óculos escuros. O mar à frente se enfaixa de uma listra marrom. Mais próximo ao horizonte continua azul turquesa. De volta à areia, mães à milanesa, com seus filhotes, brincam de castelos ou bolas. Por perto, os pais tomam brejas geladas. Depois a família cai de boca no camarão à paulista.

Num segundo, surgem zil pessoas de pulseiras lilás. Parecem uma excursão. E é! Ocupam todas as mesas, pedem água e um prato feito, com frango ou carne de boi. Estranha essa preferência por excluir um peixe frito ou assado, justamente numa cidade marítima.

O mês de janeiro é sagrado para grande parte dos mineiros: praia! Não importa se vai chover a quinzena inteira, o apê ou a casa já está reservado desde o ano passado. A mineirada não tem medo dos desbarrancos nas estradas, levam numa boa as filas pra quase tudo e, se o imóvel alugado for uma roubada, fazem graça da aventura.

Quem nunca caiu na conversa de um amigo que tinha uma casa óóóótima na praia e, quando a família de seis chegou, lá era um muquifo?! E as fotos perfeitas da internet que não mostram a descarga estragada, a parede mofada, o quarto minúsculo?

Uma vez alugamos um airbnb com vista para o jardim e o jardim era um vaso sobre a tampa da cisterna, com uma palmeira meio seca. Noutra, o café da manhã – “especialidade da pousada” – era todo industrial, nada fresco, fruta nem pensar e o suco, argh, de que era aquilo?

 Claro que houve locais e atendimentos sublimes, mas o que me diverte é a capacidade do ser humano, em especial, a gente de Minas Gerais, insistir (e amar) no programa praístico, de qualquer maneira, do jeito que for. Férias sem praia não vale. Feriado sem o mar não tem graça.

E na praia a gente (se) reconhece o mineiro de longe. Tá nublado, mas o protetor está na bolsa e os óculos escuros, na cara. Se o tempo está bom, olha lá a mineira saudando o sol, com ou sem foto, de braços abertos. Se teve um chope a mais, a boca fica aberta e o olho chega a vazar vendo aquele marzão todo.

Diante dele, adolescente sorri à toa, criança grita sem motivo e adulto, ah! relaxa e fica feliz.

Deve ter gente que não gosta de sol, areia, vendedores ambulantes… contudo eu duvido de que, se parar pra reparar, não ache o oceano um deslumbre, uma coisa divina.

Não é à toa que a Bossa Nova ainda encanta o mundo falando de barquinho, azul do céu, onda, cais, “o resto é o mar…”

Nada é maior do que o mar. Nele, a maioria de nós, mulheres, não se avexa não. Pega o protetor, os óculos escuros, a saída de praia, o biquíni e leva pra praia o corpo que tem. Felizes da vida. O mar não põe defeito, pra ele, a gente é bem-vinda.

Para mais notícias, nos acompanhe também no Instagram!

error: Conteúdo Protegido