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Laene ComVida: ‘A caverna nossa de todo dia’

'Quanto mais surreal, mais compartilhamentos de mentiras e invencionices. A boa e limpa verdade tem sido esculhambada', diz Laene Mucci Daniel.
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Laene ComVida: perguntas aos homens no Mês das Mulheres

Marido: além de flores, você dá ouvidos à sua mulher, realmente a escuta ou finge escutar por falta de paciência, tempo e vontade?

Amado: você conversa com sua amada sobre preferências na cama e se importa em ler, como cantava Gonzaguinha (na música “Ponto de interrogação”), “em seu rosto o gosto, o fogo, o gozo da festa”, ou se contenta em propagar a sua performance?

Irmão: você conversa com sua irmã sobre o que importa ou prefere ignorá-la por ela ter opinião própria?

Pai: vai continuar mandando sua filha calar a boca porque ela pensa diferente?

Tio: vai insistir nas bonecas quando sua sobrinha prefere bolas?

Em pleno século 21, ouvimos o pastor lembrando os deveres de obediência da esposa ao marido e vemos o papel de mulher-objeto desempenhado por uma atriz de 25 anos ganhar o Oscar de sexagenárias com papéis mais profundos. Machismo antigo da Bíblia e machismo atual na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

Atenção, homem que se sente superior: já pensou que pode estar perdendo? Poderia ter uma companheira pra conversar de igual pra igual. Uma companhia inteligente que escolhesse sair do papel de “bela, recatada e acompanhante”, cujo cérebro você admirasse. Poderia ter uma parceira pra compartilhar a vida.

Homens: já repararam que esse conjunto de crenças e posturas que oprime as mulheres faz muito mal às famílias, porque obriga vocês a serem os mandões, relacionando-se com seus filhos, esposas, irmãs e até mães de forma artificial e distante, com todo mundo (por medo, não respeito) tentando lhe agradar?

Empresários: já refletiram que, ao pagar menos às mulheres nos mesmos cargos masculinos (o que é ilegal), suas empresas podem não ganhar tanto, porque, se valorizassem suas funcionárias, elas trabalhariam mais e melhor?

Namorado, chefe, marido, filho, irmão: já pararam pra pensar que a forma desigual como tratam as mulheres as deixa infelizes? Nenhum ser humano gosta de ter sua voz e opinião ignoradas ou rebaixadas.

Quais papéis representam junto às mulheres e vice-versa? Consideram-se mais inteligentes? Acham que a elas somente cabem os atributos ditos “femininos”? Então, as meninas são delicadas, vaidosas, falam baixo, “enfeitam” o mundo e os meninos são brutos, descuidados, falam alto e mandam no universo?

Papéis sociais, como explica o sociólogo Erving Goffman, são determinados por direitos, deveres, expectativas e normas da sociedade. Acontece que a vida muda e o cotidiano apresenta papéis novos para mulheres e homens, ainda bem: deve ser um sufoco para o homem não dividir as angústias nem as responsabilidades. E certamente é um tédio ser a mulherzinha que trata filho e marido como príncipe e rei, os donos da casa, da palavra, da razão e do mando, fazendo-se de submissa para deixá-los ter razão mesmo que falem bobagens.

Homens, já sacaram que representar papéis nada tem a ver com sexualidade? Já pensaram no que a cultura do machismo contribui à violência doméstica? Pesquisaram por que no Brasil o número de suicídio entre os homens é quatro vez mais do que entre as mulheres? E por que mais de 90% da população carcerária são homens?

No Mês das Mulheres, o que acham de praticar a “nova masculinidade” dos homens que demonstram sentimentos, expõem dúvidas, falam e escutam, dividem as tarefas domésticas, cuidam de filhos, acompanham e admiram as mulheres e sabem que a vida ganha no grito é mentirosa e ruim?

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