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Solenidade maçônica abre temporada de posses em entidades

Luiz Henrique é o novo venerável mestre da Loja Maçônica União Cosmopolita. Em breve, posse solene em mais três instituições.
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Laene ComVida: ‘Somos, graças a Deus, bobas alegres’

 Ainda não é hora de o inverno falar na orelha em forma de vento gelado. Calça tergal e blusa branca polo de gola azul (que roxeava quando lavada) uniformizam as estudantes da Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora. Às sete da manhã, amontoam-se na portaria, conferidas de perto pela irmã Terezinha: “Mariana, meias vermelhas não. Calça jeans? Pode voltar!” Tadinha da freira, já faz parte da paisagem, poste na porta a que ninguém dá confiança. 
 
“- Como vão, meninas? Podem me dar um bom dia?”
 
“- Paro não, a danada acaba achando um problema!”
 
Modos de menos, perfume demais, batom de qualquer cor, paletó colorido… Ah! os probleminhas do Ensino Médio. É difícil manter o padrão salesiano aos 16, 17 anos. As meninas de família precisam virar moças bem comportadas.
 
Ela nunca se comportou mal no sentido de gritar palavrões e responder a professoras, contudo o papel de contida da Auxiliadora ela jamais performou. Preferia bola a qualquer coisa. Ficava na quadra até a freira buscar a redonda que devolvia não sem antes fazer um “peru” com a coitada. Vivia rindo e só perdia um pouco a esportiva quando tinha no mesmo time companheiras lerdas que não compartilhavam a paixão pelo esporte. Vôlei era o seu forte. Porém, tendo bola, jogava handebol,queimada, basquete (nos seus um metro e meio) e o amado futebol (“Chegou mesmo com força, eu já estava me formando”). Tamanho era seu entusiasmo desportivo que num jogo, empolgada, disparou para o próprio lado e cestou contra (“Tia Jane gritando pra eu voltar da arquibancada, rsrsrs”).
 
 Aquele pátio branco era o seu lugar preferido na escola (“Depois veio a quadra coberta de trás”), quiçá no mundo. O mundo era sua Ensa. Lá era bobamente feliz. Não tipo boba que não tem vez. Mas a boba da Clarice Lispector que tem originalidade, espontaneamente lhe vêm ideias.
 
“- E por falar nisso, vocês fazem pouco caso das medalhas que lhes damos, precisam usar!” Mais uma pro sermão quase diário da irmã Terezinha (“Sempre ela!).
 
“- Andréa, cadê as medalhinhas?” A irmã gêmea esparrama todas na cama. Muitas, variadas Nossas Senhoras e também Dom Bosco, São Cristóvão, Santo Antônio, Sagrada Família… mais de 50, colecionadas desde o Jardim… por mais de uma década.
 
“- Alfinete, pronto, pregou.”
 
Em pleno calor pontenovense, chega ela toda compenetrada de moletom Adidas amedalhado, fechado até o pescoço. Medalhas nos peitos, golas, mangas, braços, ombros, cintura, costas…
 
“- A irmã não falou que era pra usar?!” Séria, passa pelos corredores sob os olhares despistados das religiosas (“ignoravam para não dar ibope”). Rindo entra na sala, feliz de fazer todo mundo rir. Contente pela coragem de ser diferente. Nos quatorze anos de escola salesiana, junto com sua cara gêmea-metade, ela inventou e aprontou. Teve a pipoca estourada na aula de Psicologia. A caixa de chicletes (“Só porque a professora falou que não é didático”)da lanchonete Cléo’s para a turma toda. A cerca do pé de Eugênia da área infantil onde ficaram agarradas (“Eu, Andréa, Patrícia, e a cerca balançando”)…
 
Quando nos aproximamos, entre outras coisas, admirei sua seriedade, inteligência e, claro, sua performance ao violão. Gostei também dos textos sobre as pessoas, observações bem escritas e humoradas. Ela não me entregou de imediato a sua bobeira. Passaram alguns carnavais para ela aparecer e virar “Lili a minha mãe deixa”. Cantar, coreografar e dançar com as duas irmãs a música da Dilma “Porque o vento em certas horas do dia”. Escrever e me incluir nas gravações de paródias. 
 
Hoje seu jeito bobo me encanta. Pelas macaquices ela desarma desmandos, pelo riso ela relaxa tensões. A graça que grava, posta e faz a Internet rir me alegra todo fim de semana. Muito antes do Tiktok, ela já bolava dublagens e enredos apresentados para poucos.
 
Alegro-me por ser da sua seleta plateia. Isabella Mafra Moreira é uma boba nata. Por isso, ela tem “tempo para ver, ouvir, tocar no mundo”, vê coisas que os espertos não veem. Bem-aventuradas as pessoas que convivem com ela. “Só o amor faz o bobo.” Perto, somos, graças a Deus, bobas alegres.
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