
“O produtor tem sua terra, planta, colhe e vende aqui seus produtos. Ele vive dessas condições e, ao admirar a persistência de todos, vejo o beneficio da Feira para a cidade e destaco este jeito de fixar o homem no campo. Lá está ficando vazio, talvez em um futuro próximo teremos que voltar para a roça”, arrisca o apicultor Guilherme Saporetti.
Ele vende mel, própolis, pólen de flores e geleia real, que ele produz no sítio localizado na estrada rural de Ponte Nova/Barra Longa, passando pelo bairro Rasa.

Casal feirante
A persistência citada por Saporetti está no exemplo de Helena Amaro Ilídio Lourenço e seu marido, Augusto Lourenço Neto. Ambos têm 66 anos e cultivam hortaliças na Serra dos Pinheiros.
“Desde os 13 anos de idade eu trabalho na Feira. Casei, criei meus 16 filhos e tiro daqui o pão de cada dia. Hoje sou aposentada, rica em saúde e sigo feliz com este trabalho”, declara ela.

Outro exemplo enfático é o de Zé Branco (ninguém conhece o seu nome de batismo, José Rodrigues de Oliveira), 78 anos. Ele vem, às quartas e domingos, desde seu sítio, em Porto Plácido/Santa Cruz do Escalvado, para vender verduras e legumes, os quais leva ainda para as feiras de Rio Doce (às segundas e sextas-feiras).
‘Dinheiro difícil’
“Aqui nós temos um dos melhores comércios de Ponte Nova, aos domingos. Trazemos o que colhemos e os fregueses sabem que compram coisas da roça. A dificuldade é a do dinheiro difícil. Tem concorrência e preço bom para as folhagens de época”, resume Zé Branco.
Ele conta com a Prefeitura, a Coplacan [dona do galpão] e a Emater para investimento em melhorias. “Mas não tenho nada a reclamar”, assinala ele.

Pai e filha
Em 11/6, José João veio com a filha Larissa Carvalho Modesto e fala dos pontos positivos (“o contato direto com o cliente para ter parte lucrativa melhor”) e negativos (“o comércio está muito difícil e há parte de perda dos produtos”). O feirante citou a queda do consumo provocado pela crise (“as pessoas só compram o necessário”).
Para melhorar, José João arrisca a sugestão de atrações para as crianças filhas dos clientes. Há preocupação com jovens e adultos que compram nos supermercados, “enquanto aqui temos produtos frescos, orgânicos”. Ele também menciona a parte dos idosos, que “sumiram daqui” desde a pandemia.
Dayane vem de Viçosa
A visão de Dayane Andrade – que vem de Viçosa para vender café moído na hora – é a seguinte: “Atendemos bem os nossos clientes que nos acompanham ao longo de 17 anos, oferecendo produto sem agrotóxicos”, diz ela, que acena com melhora na limpeza do galpão, mas garante que na rotina “tudo está de acordo”.

Emílio Trivellato teve uma longa vida urbana (no início dos anos 90 vendeu os primeiros equipamentos eletrônicos para esta FOLHA). Há um bom tempo ele construiu casa na Serra dos Pinheiros e adaptou-a para a mobilidade de seu filho portador de deficiência [Paulo Henrique] e resolveu investir na horta.
Notando as demandas do público, ele passou a vender mudas de hortaliças e plantas diversas – incluindo flores – e cativa clientes enquanto investe no negócio.
“Atualmente estou na concorrência para fornecer 220 mil mudas nativas para o projeto de reflorestamento da Fundação Renova. Com a lama de Fundão [em nov/2015], há necessidade de recomposição de mata num raio de 35km dentro de Barra Longa”, informa Emílio.
Trivellato relata ainda a possibilidade de entrega de cerca de 200 mudas “para ações a favor do meio ambiente. Tentei com algumas pessoas, não consegui e quero ver o interesse da Apae/PN para o plantio, mas ainda não conversei com o presidente [Alfredo] Padovani”, diz ele, que espera contato sempre nas manhãs de domingo, na Feira Livre de Palmeiras.
Os consumidores
Entre os consumidores, destaque para Ronaldo Fernandes, morador do bairro Sumaré. Ele é chefe do Setor de Comunicação da Câmara Municipal e justifica a ida à Feira: “Valorizamos o produtor local, compramos produtos frescos e de boa qualidade e mantemos a tradição do contato direto entre as partes.”
Ronaldo gosta do cenário da Feira dominical, mas acena com possibilidade de capacitação desses produtores para a lida com as tendências dos consumidores e para a valorização dos produtos da estação, por exemplo.
Espaço múltiplo
“Este espaço merece estar ainda mais limpo, bem iluminado, higienizado e com atrações além da venda, a exemplo de música com artistas locais. Este é um espaço múltiplo, que pode ter oferta de serviços públicos e de alternativas de lazer e cultura”, raciocina ele.

No entender do advogado Luiz Gustavo Carvas, morador do bairro Guarapiranga, que foi à compra com os filhos Pedro e Malu, “o melhor da Feira é a compra de produtos frescos e o incentivo à economia local”. Ele preside o Rotary/Ponte Nova e continua: “Gosto do clima gerado na Feira em cada manhã de domingo, inclusive para encontrar meus amigos.”
Roseli Margarida de Oliveira, do bairro de Fátima, esteve na Feira com a filha Graziele e o marido, Márcio Cândido. “Os produtos são mais naturais, orgânicos, e aproveitamos para dar um passeio”, assinala ela ao sugerir o fortalecimento do segmento com incentivo à produção maior e diversificada, com trabalho paralelo de atração dos consumidores.
Sugestão de mudanças
De sua parte, Marília Marani, moradora do bairro Guarapiranga, diz que frequenta a Feira em busca de alimentos mais saudáveis. Ela – que é gerente da Loja Ponto/Palmeiras – disse à nossa Reportagem que sempre tem como melhorar o ambiente de vendas.
Marília se deteve – como várias dezenas de pessoas – na compra do pastel [e do caldo de cana] na barraca do Arlindo e dá o seu palpite para a Organização da Feira: “Para melhorar, às vezes basta uma nova organização das bancas e uma melhor exposição dos produtos.”