Celebrar amanhã, sábado (28/6), o Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ é mais do que uma data festiva: é um marco da luta por direitos, visibilidade e respeito.
Em edições anteriores, a coluna Arte & Cultura publicou nesta FOLHA a história da data, mas vale sempre lembrar:
– A origem da celebração remonta à Rebelião de Stonewall, em 1969, quando frequentadores de um bar gay em Nova York resistiram a uma série de invasões policiais. Desde então, junho se tornou o Mês do Orgulho, um momento para celebrar a diversidade e combater a discriminação que ainda persiste.
Neste mês simbólico, a nossa região recebe com entusiasmo duas iniciativas que fortalecem tal luta. De um lado, a trajetória inspiradora de Brenda Santunioni, mulher trans, comunicadora e ativista em Viçosa. De outro, o nascimento do Instituto Diversidade & Cidadania – Morada Arco-Íris, em Ponte Nova, que traz esperança e organização para a comunidade LGBTQIAPN+ local.
Um chamado à ação
O Dia do Orgulho LGBTQIAPN+ não é apenas uma comemoração: é um lembrete da luta histórica e da urgência em garantir direitos e dignidade. É também um chamado para que políticas públicas sejam efetivas, que espaços de acolhimento sejam criados e que as vozes da comunidade LGBTQIAPN+ sejam ouvidas e valorizadas.
Entrevista com Brenda Santunioni

Brenda Santunioni vive há 30 anos em Viçosa, onde construiu uma carreira sólida na comunicação e na militância. Criadora de canal no YouTube que leva seu nome, ela comanda há um ano e meio o único podcast ao vivo da região, transmitido de segunda a sexta. Também é fundadora da ONG Movimento Diversidade Viçosa/MDV. Confira nosso bate-papo.
FOLHA – Você é muito atuante em Viçosa. Como começou esta caminhada?
Brenda – Quando cheguei em Viçosa, foi uma revolução. Não havia pessoas trans circulando de dia pelos comércios e ruas. Virei assunto de imediato. Criei a Revista Lógica, que circulou por 10 anos, a única até o momento com este tempo de circulação. E dela, sobrevivi pagando minhas despesas diárias, algumas vezes nem conseguia isto e ficava devendo a algumas pessoas e comércios. Foi muito difícil, pois a sociedade quer pegar algo negativo para inibir nosso progresso. Isto dificultou muito minha vida profissional, mas em contrapartida apareceram outras pessoas que estenderam a mão, acreditaram em meu trabalho. Venci estas questões depois de mais de cinco anos de muita resistência. Comandei o programa “Babado” na Rádio Viçosa FM por quatro anos, sem receber salário: tinha apenas comissão, caso vendesse alguma publicidade. Mas agradeço a oportunidade, pois me tornei muito conhecida na região. Anos mais tarde, comandei o programa “Conversa” na Rádio Quintal FM.
FOLHA – Brenda na política: comente a respeito.
Brenda – Candidatei-me quatro vezes a vereadora e na terceira venci. Depois me candidatei a prefeita e vi de perto o preconceito agigantar-se diante de tantos comentários como: “Ela é competente, mas não pode ser prefeita”, “ela deveria tentar a reeleição, está muito bom assim, tem que agradecer até aonde chegou”. Não venci a candidatura a prefeita, mas virei manchete nacional por mais esta luta.
Nas eleições passadas, tentei novamente para vereadora e não obtive os votos necessários: pelo contrário, fiquei longe disto. Vida que segue, me dedico atualmente ao que me dá muito prazer: a comunicação. Na política fico tranquila por várias legislações que fiz serem benéficas à população até hoje e por ser a responsável pela vinda do Hemominas e o Centro de Zoonoses para Viçosa. Antes disto, comandei o Departamento de Turismo da Prefeitura, época em que conquistamos muitos avanços para o setor.
FOLHA – E sua atuação hoje?
Brenda – Pretendo continuar investindo na minha carreira de comunicadora e promotora de eventos. Com quase 50 anos, escolhi fazer somente aquilo de que gosto. Também sou fundadora da ONG Movimento Diversidade Viçosa/MDV, que milita pelos direitos das pessoas LGBT+ há mais de uma década. E sei, mais do que nunca, que o momento é desafiador, pois grande parte da nova geração não quer dar o devido valor às pessoas que vieram antes e abriram, a duras penas, o caminho para que hoje pudessem andar de mãos dadas, beijar em local público, manifestar-se com liberdade. Tudo pode acabar e retroceder, se as novas gerações não se conscientizarem de que o futuro se faz hoje, com respeito, muita capacitação e trabalho.
FOLHA Planos para o futuro?
Brenda – Perseverança restabelecida a cada dia para dizer a todos que vale a pena respeitar o próximo e que cada um, sem exceção, pode ser o que desejar, não sem antes fazer o próprio caminho.
Morada Arco-Íris: nova casa da diversidade em Ponte Nova

O início das atividades do Instituto Diversidade & Cidadania Morada Arco-Íris foi destaque recentemente nesta FOLHA. Por se tratar de uma data especial para todos os cidadãos comprometidos com a boa convivência e o respeito ao próximo, publicamos depoimento de Luana Solvelino, presidente da entidade.
“Em maio deste ano, foi fundado em Ponte Nova o Instituto Diversidade & Cidadania Morada Arco-Íris, organização da sociedade civil idealizada por um grupo de amigos que compartilham o desejo de promover a dignidade, o respeito e a valorização da diversidade.
O Instituto nasce com a missão de atuar na defesa dos direitos da população LGBTQIAPN+ e de outros grupos em situação de vulnerabilidade social, ampliando espaços de cidadania, acolhimento e educação.
Ainda em fase inicial de estruturação, o Morada Arco-Íris organizou sua Diretoria e traça os primeiros passos para atuação concreta em Ponte Nova e região. A proposta é construir ações formativas, culturais e sociais que contribuam para a equidade e a construção de uma sociedade mais inclusiva.
Neste mês de junho, em que se celebra mundialmente o Orgulho LGBTQIAPN+, a fundação recente do Instituto Diversidade & Cidadania Morada Arco-Íris representa um símbolo de esperança, resistência e transformação para a comunidade local. Convidamos todos a acompanharem as nossas ações em @morada_arcoiris.”
Histórias como a de Brenda Santunioni e iniciativas como a do Instituto Morada Arco-Íris mostram que orgulho também é resistência, construção coletiva e esperança viva. Que possamos seguir celebrando, respeitando e, acima de tudo, avançando.
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