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Assistência ao paciente em viagens aéreas

O médico José Milagres destaca: 'Somos consultados sobre os cuidados em viagens aéreas de longa distância. Essa preocupação faz sentido até porque sentir-se mal a bordo não é incomum.'
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Laene pergunta: ‘Supermercados – passeio ou superação?’

"Já estava na hora de ir ao supermercado e pro meu sábado ficar mais animado chego ao atacarejo, ainda por cima (!), na semana do quinto dia útil. Os corredores largos não dão conta do tráfego de carrinhos, crianças, casais…  Manobrar, esperar, dar meia volta… Quisera estar naquele carrinho bate-bate pra tudo virar risada. Hoje nem adianta conhecer o lugar das coisas nas prateleiras, a compra vai demorar!
 
'Mas eu não quero!' Embirra o menino não querendo sair do (apertado) carrinho.
 
'Mas eu quero!' Choraminga a menina querendo o pacote de bala. 
 
Nessa luz branca, desejo se confunde com necessidade: 'Mas mãe, eu preciso muito!' A pequena, que deve ter no máximo quatro anos, tenta ganhar o pote de Nutella com um bom argumento. Mas, mas, mas: é o que mais escuto. De crianças e adolescentes insistindo pra adultos comprarem. 
 
Do meu lado, vou explicando pra mim mesma que não vai ser hoje que levo a divina Begônia maculata (essas pintas brancas foram feitas por pincel, só pode!). Definitivamente, supermercados são locais de frustração. Consumidores de carteirinha, somos treinados para comparar preços ou cometer pequenas loucuras e depois (às vezes) nos arrependermos. Ou seja, de um jeito ou de outro, não há satisfação. A sociedade de consumo vive na falta. Enquanto sigo a lista de compras no meu celular, reparo. 'Pode ver se tem algum até oito reais?' A mulher me pede pra eu procurar nos pacotes de lambari. 'A senhora é a última? Não tinha pesado a salsicha, vou enfrentar a fila pra não ouvir prosa.' A moça não tem coragem de ir direto ao balcão, mesmo sabendo que poderia. 'Eu tô na sua frente, quem arredou meu carrinho?' Chega meio brava a mãe com a filhinha pela mão. Supermercados são lugares de delicadezas perdidas.
 
Também pudera. O estabelecimento não faz a menor questão de deixar seus clientes (e também os funcionários) confortáveis. Apesar do pé direito alto, as telhas de amianto e plástico aumentam esse calor de verão. Sem um ventilador! Não há umidificadores de ar!
 
Passo pela linha de frente procurando uma fila menor. Há mais caixas sem atendentes do que funcionando (nenhuma novidade!). As polpas de frutas viram suco e eu vou derretendo. Atrás de mim, um pai peleja: 'Sabadou, filhão. Chegando em casa, acendo a churrasqueira!' À minha frente, uma senhora me conta rindo: 'Tinha uma manteiga aqui pela metade do preço, prenderam os donos… coliforme, tava me dando enjoo; minha filha sentia cheiro ruim.' Supermercados são testes de resistência.  
 
  Vamos suportando os golpes, os preços subindo, as filas infinitas, o calor infernal… Chego ao carro, aumento o som, fecho os olhos: “Tá quase!”
 
A expedição não chegou ao fim… Em casa, a quatro mãos, retiramos do carro, higienizamos algumas coisas (Sei: era pra ser tudo, a gente não aprende!… Antes de consumir, lavaremos!) e guardamos tudo. Dobro, quer dizer embolo, e meto as sacolas plásticas no “puxa-saco”, lavo as mãos, levo as caixas vazias pra fora, volto, lavo as mãos… 
 
O ritual das compras se repete quase todos os sábados. Se não é supermercado, é feira. Se não é feira, é sacolão, padaria. E tem semana que é tudo. Quase sinto falta do tempo trancada em casa, das entregas e pedidos pelo WhatsApp… Penso nas pessoas que não tiveram esse luxo. Precisaram ir às compras, taxa de entrega nem pensar.
 
Tem gente que gosta da função “supermercádica”. Reconheço a espécie de longe: com o folheto de ofertas na mão, felizes da vida, percorrem todas as prateleiras, conferindo preços e produtos. Geralmente não têm pressa, mas, mesmo com o tempo contado, não perdem o sorriso da cara. Supermercados são sinônimo de programa.
 
E os programados? Metodicamente passam os itens no caixa, seguindo uma ordem preestabelecida no carrinho. Pão com pasta de dente na mesma sacola é um pecado. Saem de casa com táticas de organização pensadas. Supermercados são propícios a comportamentos compulsivos. 
 
Fico imaginando o que poderia aliviar essa obrigação 'sabática-comprística', além de ventiladores e umidificadores de ar, claro! Música? Alguns mercados anunciam ofertas, intercaladas a canções – e tome funk, sertaneja (Estou ficando passada?)… Nas esquinas das gôndolas bem que podiam disponibilizar sucos naturais ou água geladinha pros clientes se hidratarem durante a maratona. Não falo da degustação 'interesseira' de novas marcas. Penso em pequenos agrados… não seria bom demais?"
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