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‘A mulher não espera mais o homem sustentar a casa’

A vice-prefeita de Ponte Nova, Valéria Cristina Alvarenga dos Santos/PSDB, é a primeira mulher a ocupar o cargo majoritário no Executivo local em 150 anos de história política do município. Ela já havia-se destacado, em 2007, como a pioneira a ocupar cargo na Mesa Diretora do Legislativo. Assumindo, pela 3ª vez, a Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação/Semash, ela concilia o cargo com as demanda de seu Escritório de Advocacia e a rotina pessoal e familiar.

Valéria iniciou a carreira política em 2001, a convite do então prefeito Zezé Abdalla/PSDB, dirigindo a Semash: “Comecei na política ainda muito imatura. Eu era muito ‘verde’. Era tudo muito novo, mas tivemos um bom trabalho e conseguimos erradicar, naquela época, o maior bolsão de miséria da cidade, o conhecido ‘Morro dos Cabritos’, onde, sem nenhuma dignidade, moravam 44 famílias em casas de pau-a-pique. Com recursos do Governo Estadual e Municipal, construímos, para essas e outras famílias, as casas populares no bairro Cidade Nova.”

Valéria elegeu-se vereadora em 2005, pelo PSDB e, em 2009, não se reelegendo, voltou a assumir a Semash, desta vez a convite do prefeito Joãozinho Carvalho/PTB. Em 2013, ela novamente foi eleita para a Câmara e em 2016 tornou-se vice-prefeita na chapa com Wagner Mol/PSB.

“Eu tenho um relacionamento muito bom com Wagner, ao contrário do que todos diziam”, comentou ela, entre risos, para continuar: “Nós já fomos vereadores juntos, estivemos na mesma turma do Curso de Direito da Faculdade Dinâmica. Conheço o perfil social dele, que é um cara simples, do povo, como eu sou. Quando ganhamos a eleição, não tinha pretensão de ocupar algum cargo. Mas ele entendeu que precisava de mim na Semash, e estou ali para servir ao Município.”

A seguir, o condensado de meia hora de seu depoimento a esta FOLHA.

FOLHA – com sua projeção pioneira no Executivo e na Mesa da Câmara, como explica o patriarcalismo/machismo na política?

VALÉRIA – O preconceito foi e é muito grande com a mulher. Na política é muito mais. Hoje, a Lei [Eleitoral] define que 30% das vagas devem ser para as candidatas. Mas a maioria das mulheres fala assim: “Ah, eu não vou [ser candidata], porque é só para preencher legenda.” Infelizmente, é este o país em que nós vivemos. Para chegar aonde eu cheguei, enfrentei as barreiras, os preconceitos e continuo ainda nessa luta, entendendo que a mulher tem que vir para a política. Ela tem capacidade de administrar uma casa, de gerar um filho, ela tem mais competência do que as pessoas podem pensar. Sonho com um partido só para mulheres, não como preconceito com os homens, mas para que as mulheres possam, de fato, se sentir engajadas na sociedade.

FOLHA- Com sua experiência de ve-
readora e secretária municipal de Assistência Social e Habitação, como vê a condição feminina diante dos programas do Poder Público?

Valéria – A mulher é o arrimo da família. Se você pegar nossas frentes de trabalho, 99% são mulheres buscando uma forma de levar algum benefício para dentro de sua casa. A mulher está, hoje, dividindo os problemas financeiros com o marido e ainda vai além. Poucas vezes tem salário maior que o do homem e ainda tem as responsabilidades, cuidando dos filhos, levando-os para a escola. A mulher hoje assumiu um papel muito maior na sociedade. Não é mais aquela que espera o homem sustentar a casa. Ela vai à luta. Eu acho que ser mulher é ser algo divino. É um privilégio de Deus.

FOLHA – Sua jornada como mulher e mãe permite avaliação da chamada “dupla jornada” (casa/trabalho). Qual é o segredo da superação deste desafio?

Valéria – Eu saio de casa toda manhã e não tenho empregada, porque não vejo necessidade, já que moro na roça [no distrito do Pontal] e todos saem cedo e só voltam à noite. Tenho quatro filhos. Um tem 9 anos, e eu cuido dele, levo pra aula. Tem noites em que em casa, às 21h, eu ainda vou sentar e fazer tarefa, estudar com ele. Também tenho cuidados com minha mãe, cuidando, levando ao médico. Tenho as atribuições do fim de semana, cuidando da minha casa e da minha família. São muitas Valérias. A mãe, a vice-prefeita, a secretária, a filha, a advogada, a do lar. Eu não sei como é que dou conta. Tem dias que me pergunto isso, mas acho que é isso que me fortalece. Eu não sei se eu saberia viver sem isso.

FOLHA – Você se projetou na cidade primeiramente como educadora. Como vê a mulher hoje no mercado de trabalho?

Valéria – Ultrapassando os homens, não restam dúvidas! A mulher tem estudado mais, tem buscado mais o mercado de trabalho, embora ainda eu veja o preconceito do salário, já que o da mulher é inferior. Mas ela está seguindo e é boa no que faz. Não que os homens não sejam, mas ela foi se equiparando. Antigamente se falava assim: eu vou ao médico-ginecologista porque ele é homem, então é melhor. Hoje não! A mulher está de igual para igual em todos os setores. Estudando mais, buscando mais e mais em sua luta.

FOLHA – E o que você gostaria de ver em pauta no Dia Internacional da Mulher?

Valéria – Eu gostaria de que a sociedade mais machista olhasse a mulher com os olhos de quem quer ver competência, dedicação. Este preconceito com a mulher no mercado de trabalho e na política vai se dissolvendo com o tempo, porque as poucas mulheres que se sobressaem na política mostram a sua competência. Eu quero ver, no Dia da Mulher, menos preconceito. Isso é um sonho cada vez mais real.

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