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Remanescentes de quilombos em Ponte Nova, Barra Longa e Mariana

A Fundação Palmares homologa títulos para comunidades de Nogueira/Ponte Nova, Volta da Capela, Barretos/ambas em Barra Longa e Campinas/Mariana.
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‘As pessoas estão acima das coisas partidárias’

 “Eu queria ser professor de História”, ele me confessa por trás de um sorriso de menino, daquele tipo encantado por ter conseguido driblar as porteiras e entrar no Cine Brasil: “A gente esperava terminar aquela primeira sessão, ficava junto com o pessoal que saía e entrávamos de ré no meio do povo.” Melhor do que isso somente a chave mágica do colega do Rosário para abrir a sala do Cine Vitória que dava para o banheiro onde os meninos se escondiam até a sessão começar. “Assistíamos a filmes adoidado”. Doido por cinema, o menino de 12, 13 anos fazia proezas para comparecer, se deixassem, em três sessões consecutivas. Raquell Welch, Brigitte Bardot… e Jane Fonda só não eram mais bonitas do que a namorada, Lúcia. 
 
  Ao falar da grande paixão da sua vida, o sorriso agora ascende aos olhos – chuviscados: “Sempre muito equilibrada… melhorei muito por causa dela. Lúcia me fez crescer bastante, eu era impulsivo demais.”
 
Transformado em risada, o sorriso então me conta que na universidade se indispôs com o orientador ao insistir em mudar a monografia sobre extração de eucalipto – assunto de destaque à época – para parques florestais. Mudou de orientador e criou o modelo de unidade de conservação para o Parque do Passa-Cinco. Ao teimar no novo tema, o formando em Engenharia Florestal tratava da questão ambiental, que desde 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, lhe chamara atenção.
 
“Eu queria fazer História ou Jornalismo”. No curso de História ele até se matriculou, mas a vida apontava tantos caminhos e ele não conseguia ficar mesmo parado. Jornalismo, ele tem no sangue. Desde o programa noturno diário na Rádio Sociedade de Ponte Nova à época da graduação… até as coberturas esportivas e transmissões de jogos do Mineirão e Maracanã. Foi repórter do jornal Estado de Minas, da Folha de Ponte Nova e da Rádio Capixaba em Vitória. Participou da sucursal do jornal Hoje em Dia.
 
José Alfredo Padovani tem o sorriso bonito e a palavra apurada. Se demora um pouco nas vogais, é seu processo de sintonizar a fala fácil ao pensamento a jato. 
 
Na conversa de duas horas, enquanto observava a produção da festa dos 80 anos do Clube Palmeirense, Padô me pôs a par dos quase 50 anos de ambientalismo: a Associação Pontenovense dos Amigos da Natureza (APAN) na década de 1970, o Partido Verde em 1996, a Conferência das Partes 
 
(COP-12) das Nações Unidas sobre Mudança do Clima no Canadá e a Fundação de Parques Municipais em Belo Horizonte em 2005, a revista “Passeio ao Rio Piranga” em 2007 (belissimamente ilustrada por Eduardo Brettas), o livro“Quatro Décadas de Ambientalismo” em 2018… 
 
Presidente da Apae, Padovani não milita mais em partidos políticos (“as pessoas e a vida estão acima das coisas partidárias”) e escreve menos sobre a questão ambiental, entretanto preserva a palavra-análise: “A Estação de Tratamento de Esgoto de Ponte Nova (ETE) está equivocada. Tinham que acatar o parecer técnico da UFMG, que mostra que o melhor local para a sua construção é o terreno da Parada, e não o da Gravatá.” 
 
Mesmo indignado com este e outros debates, como a possível exploração de Petróleo na Amazônia (“na contramão do mundo que quer reduzir o combustível de origem fóssil”), Padovani não larga o sorriso e mantém a calma. Sobre a fama de estopim curto, ele responde que recorre ao xará psiquiatra se bate a ansiedade: “Eu sou de Xangô da Justiça, por isso sempre tive esses embates.” Quando morava com a tia Carmem de Iansã, em BH, jogava pipoca pra Oxalá a pedido dela: “Sou católico, mas tenho o maior respeito por todas as religiões.”
 
Aos risos me mostra que faz o nome do pai com a mão fechada: “A gente tem alguma coisa não é pelo que se ganha, mas pelo que se deixa de gastar.” Alfredo, contudo, não economiza informações. Fico boba com sua memória para nomes, sobrenomes, datas, fatos: “Presto muita atenção nos meus interlocutores e pesquiso.” 
 
Padovani, você é um professor de História!
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