Marcus Vinícius de Freitas da Silva – Graduando em Letras pela Universidade Federal de Viçosa/UFV

É engraçado como olhamos para trás, para acontecimentos passados e, de repente, tudo parece mais simples do que realmente era.
Lembro-me do começo do ano, quando voltava de uma viagem para São Paulo. Na TV, os jornalistas falavam de uma doença que havia começado em uma cidade chinesa. Pensei que não era tão sério e eu nunca estive tão errado em meus vinte anos de vida.
Saí de casa e me encontrei com um grupo de amigos. Nos divertíamos, e, como quem só quer trocar uns dois dedinhos de prosa, alguém citou o tal problema em Wuhan: “Ei, ‘cê’ viu aquele tal de corona lá na China? Que loucura!” E o consenso foi que provavelmente estávamos tranquilos. De novo, errados.
Lembro bem do calafrio que percorreu minha espinha quando a faculdade anunciou que iria interromper as aulas. Barreiras sanitárias? Hospitais de campanha? Nem o mais sensacionalista dos filmes hollywoodianos poderia descrever aquela sensação de incerteza.
Medo, ansiedade, tristeza, preocupação. Passei por muitos humores diferentes nas semanas de março. E escrevi uma carta pra mim mesmo. Pra ler quando as coisas estiverem menos bagunçadas.
E a carta segue lá, guardada, em silêncio, esperando o momento em que estarei seguro o suficiente para lê-la.
E se passaram nove meses. É simbólico como do começo deste caos pra nós até o fim de 2020 se passou o tempo de uma gestação. Nas últimas semanas de 2020, já não somos mais as mesmas pessoas do início do ano.
Nunca gostei dessas coisas de “ver o lado bom”. Quando o assunto é a pandemia, afinal, não tem absolutamente nenhum lado bom. Estamos machucados, cansados, ofegantes, amedrontados. E acho que é por isso que estamos esperando tanto pela virada do ano. Porque significa renovar as energias e acreditar que as coisas vão melhorar. Afinal, nada pode com o tempo.
Este fim de ano é complicado porque ainda não podemos nos abraçar, estar com aqueles que amamos. Mas que seja, então, um fim de ano de esperança. De dias melhores e de promessas de sermos melhores.
E no futuro, poderemos dar as mãos e começarmos a nos levantar, juntos. Porque é isso que precisa ser feito por aqueles que passam por tempos tão sombrios quanto este que passamos.
Num mundo onde tantas famílias perderam pessoas que amam, só amando poderemos nos recompor.
E, juntos, um dia, estaremos num bar novamente comentando “E o tal da corona, hein?”
Nos vemos lá! Até breve!