Esta FOLHA convidou a Escola Nossa Senhora Auxiliadora/Ensa – parceira deste Jornal mesmo durante a pandemia – para contribuir com reflexões sobre o longo isolamento social e a retomada das aulas presenciais. O espaço foi oferecido para dirigentes, professores, estudantes e seus pais. A seguir, o depoimento de Melyssa Toledo de Lima, do 3o ano do Ensino Médio da Ensa.
“Lidar com a pandemia não foi fácil e ainda não é. No início, foi muito pior, e a gente foi se adaptando. Quando a escola deu o aviso das duas semanas sem aula devido à Covid-19, pensei que pouparia a fadiga quanto aos estudos, mas os 15 dias se tornaram quase dois anos! Parece coisa de filme.
Demorei a compreender a pandemia e como passaria a nova rotina sem surtar, pois ficar em casa só com a família ou no quarto começou a ser incômodo desde que se tornou algo obrigatório.
Noutro aviso, a Coordenação da Escola anunciou as aulas remotas. Precisei me adaptar em mais essa mudança, com dois exemplos: aulas sem as interrupções frequentes rendiam mais conteúdo, e eu simplesmente acordava e não me arrumava para ir à Escola.
Aprendi a dar mais valor ao que eu tinha, porque, mesmo sabendo o quanto sou privilegiada por estudar numa escola com a estrutura da Ensa, a falta do ambiente escolar doeu muito sem o contato direto com professores, colegas e funcionários. E tinha o sinal do intervalo. Por estar no último ano do Ensino Médio, isso realmente pesou e trouxe o sentimento precoce da saudade que eu sentiria pouco antes de concluir o ano.
Dizem que a pandemia veio para ensinar, fazer com que as pessoas se tornassem mais empáticas, mas penso que, com o isolamento, só aprendeu quem quis e não teve mudança de água para vinho. No início já dava para ver as atitudes individualistas e de grande impacto social.
Quando a quarentena veio à tona, a população foi aos supermercados e acabou com o estoque de alimentos básicos e álcool 70%. Mais tarde, com as flexibilizações, uns foram prejudicados com seus empregos, enquanto outros abusavam delas, fingindo que já não existia mais vírus.
Com a vacinação avançada, aglomerações ocorrem com mais frequência e muitos já não usam a máscara, como se o número de mortes fosse insignificante. É triste pensar que, na pior das hipóteses, este egoísmo só acabaria se todos pudessem sentir na pele a pandemia.
Carrego comigo as perspectivas que podemos ter sobre situações e pessoas novas. Pontos negativos dão espaço para buscarmos os positivos, numa especial oportunidade de resiliência. Se enxergarmos tudo com os mesmos e atentos olhos, o senso crítico e o poder de expressão morrem, não permitindo enxergar a luz.
Além da vacina, a esperança agora é conseguir se espelhar no outro. Não dá para abraçar o mundo, mas dá para discernir o certo do errado, retomando os valores e cultivando coisas boas para que este ciclo se perpetue e o bem chegue até todas as pessoas.”