― Publicidade ―

Ilustradora de nossa região presente na Bienal do Livro RJ 2025

Na Bienal do Livro, haverá lançamento da obra “Uma vida bordada em palavras”, ilustrada por Luísa Viveiros, artista radicada em Ponte Nova.
InícioCIDADEBalanço da pesquisa sobre ‘envelhecimento ativo’ na Comunidade do Beco

Balanço da pesquisa sobre ‘envelhecimento ativo’ na Comunidade do Beco

A notícia divulgada na edição de 11/8 desta FOLHA – “UFV pesquisa ‘envelhecimento ativo’ em comunidade de Ponte Nova” – mereceu esta reportagem extra sobre a Comunidade do Beco, na rua Caetano Alves da Silva (entre a Vila Centenário e o bairro Triângulo).

Nascida e criada nessa rua, a professora Simone Martins, do Departamento de Administração da Universidade Federal de Viçosa/UFV, deu início, ali, em 2016, ao “Projeto de Envelhecimento Ativo”.

O projeto dela, mantido pela Pró-Reitoria de Extensão Cultural da UFV com parceiros diversos (*), parte da constatação de que, em 2025, o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos. Só em Ponte Nova (segundo o IBGE), eles já somam 12,7%.

Conforme Simone, o Beco foi escolhido porque possibilita a realização de ações nas casas dos moradores ou na rua, de vez que não tem ligação com outras vias (trata-se de rua sem saída). São 17 idosos nas 19 famílias, sendo que em cada moradia há uma pessoa com mais de 50 anos.

Empoderamento

Segundo Simone, pretendeu-se contribuir para o empoderamento da comunidade, fortalecendo os espaços de participação social e contribuindo para a criação de política pública local de promoção do envelhecimento ativo.

Buscaram-se então espaços de participação social via Conselho Municipal do Idoso e em setores da Administração Municipal. Contou-se com a contribuição de profissionais da UFV de diversas áreas, entre outras: Enfermagem, Educação Física, Nutrição, Psicologia, Direito, Meio Ambiente, Administração e Economia.

Estas atividades e ações constaram nos cinco projetos reunidos em torno de Programa de Extensão:

Chá, Café e Poesia: oferece atividades culturais/literárias.

Saúde em Foco: oferta de avaliação da qualidade de vida, controles médicos, acompanhamento nutricional, educação física e atividades nutricionais.

Inserção Digital: proporciona contatos com tecnologias da informação e visual.

Roda de Conversa: conscientização sobre direitos e outros temas essenciais para garantir inclusão sociocomunitária.

 – Interagir para Fortalecer: dirigido ao Conselho do Idoso, com proposta de política de envelhecimento ativo.

Conforme Simone, realizaram-se outras atividades: Festa Julina; Oficinas de Dança de Salão, Memória, Afetos e Cognição; Feira da Saúde; Cinema na Rua; e Atividades de Educação Física e Nutrição.

Na ausência de políticas públicas pró-qualidade de vida, os moradores criaram rede de apoio, a partir de laços de cooperação e reciprocidade fortalecidos em tempos de cheia e pós-enchente do rio Piranga, como constatou a equipe da UFV.

Depoimento materno

Mãe da Simone, Maria Helena Martins, 70 anos, mora no Beco há mais de 50 anos e conta: “É muito bom, eu adoro as atividades realizadas [pela UFV]. Fico mais animada, e é legal passar este tempo ao lado dos vizinhos e dos instrutores. Creio que o intuito da minha filha foi ajudar todos daqui.”

Ela acrescenta que as ações também resgataram algumas práticas culturais, como a festa junina, desde 2016, arrecadando doações e dinheiro para instituições, como a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais/Apae.

Outros depoimentos

Soraia de Paula Martins Vieira, 56, relata que, “após seis meses numa rotina triste e cansativa de hospital [acompanhando – até a morte – a doença de irmã], me convidaram para as aulas de ginástica, e me tornei disposta, voltei a conversar, me reaproximei dos meus vizinhos. E, principalmente, melhorou minha saúde emocional”, destaca ela.

Ilda Borges Rodrigues, 79, fala da sua experiência: “Sempre fui sedentária e não gosto de exercício físico. Mas desta vez, na frente da minha casa, não tinha desculpa para não participar. Meu médico ficou feliz”, relata ela, dizendo que necessita da continuidade do projeto para manutenção de sua saúde.

Ilda também elogiou as outras opções ofertadas, como agenda de artes e palestras de nutrição: “A vinda do psicólogo foi o que mais gostei, pois ele conversou com a gente. Pintamos numa cartolina, e ele fez uma metáfora sobre as transformações da nossa vida.”

A realidade de hoje

Conforme Simone, o grupo de idosos começou tímido, com seis apenas, na casa de Maria Helena.

Depois, os encontros foram para a rua, por causa da chegada de mais participantes, vindos de bairros vizinhos, como Triângulo Novo e Rasa. Desde que os profissionais da Universidade diminuíram a frequência das visitas, algumas idosas se reúnem para caminhar
na beira-rio.

“Saímos do sedentarismo, resgatamos nossa cultura, nossos vínculos. Saí da tristeza que me consumia. É tudo de bom e quero que continue”, deseja Soraia Vieira.

Nos planos dos moradores, estes destaques: encerramento da atividade de nutrição com visita ao Supermercado-Escola da UFV. Ainda em Viçosa, planejam-se ida ao cinema e visita a museu, quando da finalização das ações de inserção digital.

A previsão é de que o projeto elaborado por Simone Martins seja concluído ainda neste mês de setembro, com avaliação do impacto e geração de relatório final.

Na prática, a pesquisadora já alinhava alguns resultados:

– Fortalecimento de vínculos (rede de apoio) e integração; resgate de autoestima e de memórias; empoderamento e consciência cidadã; recuperação física/consciência corporal; melhoria da funcionalidade (equilíbrio/estabilização/força) e da disposição para as rotinas diárias; hábitos alimentares mais saudáveis; e autonomia para propor novas iniciativas.

Apoio Municipal

A falta de espaços para as atividades foi um problema relatado pela comunidade e está na pauta de reivindicações perante o Governo Municipal, que já assumiu compromissos, como o de manter as “práticas de educação física”, como assinala Simone.

“Espera-se utilizar os resultados e os planos para contribuir na construção de política de envelhecimento ativo e na certificação da cidade como ‘Amiga do Idoso’, explica Simone.

“A Prefeitura compreendeu a importância do programa. Em 2016, a Secretaria de Cultura [e Turismo] incorporou o Beco no Projeto Chá, Café e Poesia, entre outras providências. Na gestão atual, há compromisso de continuidade das ações, inclusive oferecendo resposta para vários problemas identificados durante a realização do projeto”, relata Simone.

error: Conteúdo Protegido