"Durante anos, as mulheres negras de cabelos crespos/cacheados se sujeitaram a uma imposição midiática de padrão de beleza, em que para ser bela era necessário ter o cabelo liso, para estar arrumada precisava ter o cabelo escovado. Tantos momentos constrangedores, como, por exemplo, uma chuva de verão no meio da tarde que chega sem aviso prévio e vai embora levando a ilusão da beleza lisa.
O resgate da cultura e a valorização do negro vêm junto com a sua estética, e um dos pontos mais relevantes nessa relação são os cabelos.
Num passado não muito distante, os fios crespos eram vistos como uma parte frágil de negros e negras, tanto que a raspagem dos cabelos na época da escravidão era comum. Para os escravos, porém este ato equivalia à mutilação, uma vez que o cabelo era uma das marcas da sua identidade. E falar sobre cabelo crespo é, com certeza, passar por aspectos sociais, culturais e políticos da história do povo negro no mundo todo.
Estamos caminhando pela estrada do basta, em que se aceitar da forma que realmente se é em frente ao espelho é mais importante que ser aceita pelos outros.
Mais que um simples símbolo estético, cabelo é cultura e, para os negros, representa um ato político e a vontade de quebrar velhos padrões. É fundamental que cada vez mais negros e negras entrem em contato direto com sua ancestralidade africana e tenham orgulho de seus valores.
Hoje, sustentamos sobre a cabeça não apenas cachos, mas nossa identidade cultural. Somos negras, somos lindas, e o nosso cabelo é 'tonhonhoim', sim!
O meu cabelo cresce para cima, pois é a coroa natural que demonstra a majestade da minha raça!"
Lúcia Helena de Souza – Proprietária do Salão LH Beleza Cacheada e cabeleireira especializada em fios crespos e cacheados