A transmissão on-line da agenda alusiva ao Dia da Consciência Negra (20/11), em Ponte Nova, teve relevantes desabafos, com acusações de preconceito, racismo e intolerância religiosa.
O depoimento mais enfático foi o do presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial/Compir, Leandro Lélis da Costa (Leandro Senzala).
Ele se referiu ao recente assassinato de João Alberto Silveira Freitas, negro, 40 anos, por seguranças brancos em unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre/RS e aos casos de negros agredidos/assassinados por policiais nos Estados Unidos.
Ele também repudiou o racismo e a violência, “que vitimam tantas Marielles”, numa alusão ao assassinato, em 2018, da vereadora carioca Marielle Franco.
“O preconceito existiu e resiste. Temos que agir para mudar isto, e tenho o sonho negro da igualdade, da liberdade e da justiça”, continuou Leandro com seu desabafo:
“Diversas vezes, a Polícia, que trabalha para garantir a segurança de todos, é a mesma que nos joga na parede e nos humilha em cenas de rotina. O povo negro chora, canta e clama pelo fim das diferenças.”
Noutro trecho da programação do Compir – efetivada em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/SEMCT -, os depoimentos de representantes de religiões de raiz afro também foram contundentes.
Gustavo Silveira depôs ao lado de sua avó, Mãe Fizica (Maria da Conceição Oliveira Caixeta), do Centro Espírita Umbandista Caboclo da Mata Virgem, do bairro Pacheco, lamentando também a intolerância e a perseguição. Salientou Mãe Fizica: “Só trabalhamos para o bem e a caridade, e nunca para fazer o mal.”
No mesmo tom, falou Juliano d’Oxóssi, do Centro Espírita São Cosme e Damião, do bairro Sumaré, tendo ao lado sua mãe, Mãe Du de Oxum (Maria do Carmo Ramos). Ela lembrou a discriminação racial em Ponte Nova no final dos anos 1940, no século passado, quando na av. Caetano Marinho brancos e negros caminhavam em lados opostos.
A emancipação dos negros diante do racismo estrutural contemporâneo mereceu comentário de padre Luiz Paixão na missa – com cantoria e coreografia afrodescendentes – da noite de 20/11, na Igreja Matriz São Pedro/Palmeiras: “A Igreja está atenta na defesa dos mais pobres, entre eles os negros e negras que vivem discriminados e em situações desumanas.”
Ainda constaram da programação – com o tema “Sonhos Negros Importam” – o pronunciamento de Jaime Augusto/dirigente do Compir e depoimentos de dirigentes do Grupo Afro Ganga Zumba.
Na parte artístico-cultural, samba com o Grupo Higão & Amigos, apresentação de capoeira e maculelê, peça de teatro e a live Musicalidade, coordenada por Leandro Senzala.