A delegada de Jequeri, Cleide de Oliveira Fiorillo, foi ouvida nessa terça-feira (15/3) pelos deputados da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais/ALMG sobre denúncias de improbidade administrativa quando do atendimento de ocorrência policial em 1º/12/2015. Naquele dia, Cleide teria liberado pelo telefone dois suspeitos que portavam drogas e armas de fogo. Esta foi a terceira convocação feita à delegada, que está sendo investigada pela Corregedoria de Polícia Civil.
A subcorregedora de Polícia Civil, Cíntia Bachmann, confirmou que o caso vem sendo apurado no órgão e encontra-se em fase de instrução. Cíntia explicou que os próximos passos são a convocação da delegada para que seja apresentada defesa e, se for comprovada responsabilidade, será aplicada penalidade administrativa. O delegado Paulo Felipe Saback, que representou a Chefia da Polícia Civil, reforçou que a Corregedoria foi acionada e vem realizando seu trabalho com legalidade e isonomia. “Cobramos das autoridades policiais que atuem no cumprimento das leis e fiscalizamos a atuação dos delegados em todo o Estado”, destacou.
Cleide atua há 25 anos como delegada e hoje responde pela Delegacia de Jequeri, que apura crimes ocorridos nesta cidade e em Urucânia. Em sua defesa, ela classificou a denúncia como “equivocada e mentirosa”. Segundo a policial, na ocorrência não houve registro de assalto por parte dos suspeitos, e eles teriam sido levados à Delegacia por fugirem de abordagem policial num posto de gasolina.
Cleide explicou que, na perseguição, o sargento Luciano/São Pedro dos Ferros teria efetuado disparo contra um dos suspeitos, por entender que estavam armados. “Um deles foi ferido e levado ao hospital, e, horas depois, a ocorrência foi registrada no sistema PCnet. Eu não poderia prender um suspeito lesionado com bala alojada no corpo”, defendeu-se.
A delegada ainda afirmou que as armas encontradas com os suspeitos estavam com munição ineficiente e o ferido não tinha antecedentes criminais. Para ela, o procedimento foi feito com razoabilidade, por não haver materialidade de provas que comprovassem o crime. “Como se passava das 18 horas, não havia perito disponível ou local próprio para realização do laudo”, alegou. Cleide também relatou que um primo de um dos suspeitos, que teria estado na cidade no dia seguinte para buscá-los, estaria num veículo com registro de furto, tendo sido abordado pela Polícia Militar, o que deu origem a toda a confusão. “Fiz tudo que foi possível dentro da lei. Não atendi às convocações feitas pela Comissão anteriormente porque estava respondendo por duas Comarcas na época e depois me encontrava de férias”, concluiu.
Em defesa da delegada, o presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado/SindepoMinas, Marco Antônio de Assis, entendeu que a audiência pública teria adotado contornos de Comissão Parlamentar de Inquérito/CPI. Deveria ter sido dado à delegada, portanto, o direito de ficar calada para não formar prova contra si. Na opinião dele, o baixo efetivo de policiais e a falta de estrutura vêm dificultando o trabalho dos delegados em todo o Estado, o que se teria refletido no caso em questão.
Em resposta às declarações do sindicalista, o deputado Sargento Rodrigues/PDT, presidente da Comissão e autor do requerimento para a reunião, fez leitura das atribuições da Comissão. O parlamentar disse que tudo foi feito dentro do previsto no Regimento Interno da ALMG e a delegada poderia ter-se silenciado no momento em que julgasse necessário.
O deputado Alencar da Silveira Jr./PDT defendeu a delegada ao atestar sua seriedade e competência na condução do trabalho. Para ele, as denúncias são apenas “fofocas” e ainda solicitou cópia dos documentos existentes contra a delegada. “A situação da segurança pública no Estado é crítica, e, por isso, os delegados de Polícia Civil se veem em situação de dificuldade no cumprimento das suas funções”, criticou.
Parlamentares falam
O deputado Cabo Júlio/PMDB questionou as afirmações da delegada e considerou que o trabalho foi feito de forma incorreta. Segundo dados do boletim de ocorrência relatados pelo parlamentar, o suspeito teria dito que fugiu da abordagem policial por não ter carteira de motorista. No depoimento, ele teria negado que a arma de fogo encontrada era sua, mas já teria sido preso por tráfico de drogas e porte de arma de fogo. “Ou seja, um deles tinha antecedentes criminais, e a conclusão do laudo pericial aponta para a eficiência da arma e das munições. O procedimento foi equivocado, porque havia porte de drogas e uma arma com numeração (identificação) raspada”, opinou.
Sargento Rodrigues reforçou que faltou cautela na ação da delegada e a ocorrência teria sido feita de forma desajeitada. Os suspeitos, segundo ele, além de portarem drogas e arma, teriam voltado a cometer crimes no dia posterior, quando foram encontrados num carro roubado. “Há uma cobrança da população e da Imprensa local. Como a delegada pode ter feito o exame da arma sem ter ido ao local, portanto sem ter contato físico com a arma? Além disso, não prendeu um suspeito com drogas”, salientou. O parlamentar ainda disse que o Ministério Público apresentou, em reunião anterior, denúncias de prevaricação e improbidade administrativa contra a delegada. Cleide Fiorillo nega a existência desses processos.
O deputado João Leite/PSDB questionou o fato de o policial militar ter levado a ela a denúncia de que o suspeito teria apontado uma arma contra ele e isso não ter sido considerado crime. Já Noraldino Júnior/PSC avaliou que a delegada teria suspeitado da ação da PM porque agiu sem levar em conta a declaração relatada na ocorrência. “Acho estranho e preocupante uma pessoa portar uma arma raspada, mesmo que ineficiente, e não ser considerada criminosa. Para mim, este tipo de procedimento põe a população em risco”, lamentou.