A Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova/Alepon promoveu, na noite de 8/11, no Salão Nobre do Pontenovense FC, sessão solene de aniversário da cidade. A solenidade vai resumida na página Arte & Cultura da edição impressa desta FOLHA que circula neste 16/11. A seguir o discurso da nova acadêmica Viviane Romagnoli Birro.
É com uma satisfação inenarrável que hoje estou aqui entre amigos, parentes e acadêmicos para torna-me mais um membro da Alepon. Integrar essa Academia que tem como missão tratar de interesses humanos e sociais nas áreas da Literatura, da Arte, da Ciência e da Cultura; contribuir com o desenvolvimento cultural da cidade destacando a memória desta terra; estimular a leitura e a produção literária, artística, e científica; valorizar a sabedoria prática e a tradição oral de homens e mulheres detentores do Saber e da Cultura ponte-novenses e região; agir como instrumento de divulgação e valorização da língua portuguesa; é para mim um momento que representa um divisor de águas em minha trajetória literária que iniciou-se há seis anos.
Ter sido convidada e aprovada para tal circunstância, surpreendeu-me a alma e o coração; pois quando me rendi às minhas intuições literárias e tive a oportunidade de divulgá-las em vários veículos de mídia impressa e falada, confesso que não almejava tamanho reconhecimento e valorização. Na temática literária de autoajuda, o meu intuito singelo e modesto sempre foi o de despertar nas pessoas através das letras e palavras, a necessária reforma íntima do Ser que envolve toda a complexidade da convivência humana. Tomando proporções inimagináveis por mim, torno-me neste momento mais uma acadêmica a ocupar a cadeira no 06 que foi durante saudosos anos brilhantemente ocupados pela renomada escritora Hilka Pires, que fez dessa oportunidade em sua vida, um marco eterno. Estou ciente de tamanha responsabilidade em ocupar esta cadeira e sendo assim, pretendo honrá-la com seriedade e dedicação, zelando pelo bom nome e pela divulgação da Academia.
Também não poderia deixar de ressaltar a memória do ilustre acadêmico Kleber Rocha, que como ninguém fez jus a todas as atribuições e cargos que magnificamente atuou quando entre nós esteve; fazendo da Alepon uma instituição respeitada e imortal. Deixo também registrado meus eternos e sinceros agradecimentos a meu pai João Birro Filho, a minha mãe Elza Imaculada Romagnoli Birro e a minha tia Maria do Carmo Romagnoli, que de perto vem acompanhando e contribuindo para o meu crescimento e para as minhas conquistas. O apoio das pessoas que amamos e que possuem um significado essencial em nossas vidas é imprescindível para qualquer tipo de realização. Mas, é a Deus que ofereço essa conquista, pois é a ele que devo humildemente todas as singelas intuições literárias que levaram-me a este nobre reconhecimento. Sem mais delongas, apresentarei agora o meu patrono.
É com gratidão e reconhecimento da trajetória brilhante e marcante deste autor, que o escolhi como meu patrono. O inesquecível e saudoso jornalista e cronista Humberto de Campos. Nascido na pequena localidade de Piritiba, no Maranhão, em 1886. De família pobre, estudou com esforço e sacrifício. Ficou órfão aos cinco anos. Sua infância foi marcada pela miséria e por episódios que lhe deixaram marcas profundas na alma.
A vida literária deste autor divide-se em três momentos marcantes e totalmente diferentes entre si. O primeiro ressalta o autor bem humano, com características próprias do intelectual do mundo. Esta fase inicial acontece quando o mesmo muda-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou famoso como exímio jornalista e cronista, suas colunas fizeram parte dos jornais mais importantes do País. Dedicou-se totalmente à arte de escrever, e por isso, detinha pouquíssimos recursos financeiros. A certa altura da sua vida, quando esgotaram-se suas economias, teve a idéia de mudar de estilo. Adotou o pseudônimo de Conselheiro XX e começou a escrever crônicas engraçadas a respeito da figura eminente daquela época Medeiros e Albuquerque. O Conselheiro XX (Humberto de Campos) feriu fundo o orgulho e a vaidade de Medeiros, colocando na boca do povo, os argumentos que todos desejavam espalhar contra ele. O sucesso foi total. Sendo assim, se viu na contingência de manter o estilo e escrever mais, pois seus leitores se multiplicaram, chovendo cartas às redações dos jornais, solicitando novas matérias do Conselheiro XX. Humberto com isso foi se tornando para alguns, quase imortal, saciando o paladar de toda uma mentalidade que desejava mais liberdade de expressão na abordagem dos problemas humanos e sociais.
Num segundo momento literário do autor, onde no qual nasceu minha identificação literária com o mesmo, ele ressalta a piedade, compreensão e entendimento para com as fraquezas e sofrimentos dos semelhantes. Seu despertar para este lado humano-espiritual deu-se quando o mesmo veio a adoecer. Sepultou o Conselheiro XX, e das cinzas, qual Fênix luminosa, nasceu um novo homem. A alma sofredora do País buscou avidamente Humberto de Campos e dele recebeu consolação e esperança. Eram cartas de dor e desespero que chegavam às suas mãos, pedindo socorro e auxílio. E ele, a todas respondia, em crônicas, pelos jornais, atingindo milhares de leitores em circunstâncias de provações e lágrimas. Fez-se amado por todo o Brasil, especialmente na Bahia e São Paulo.
Seus padecimentos aumentavam dia a dia. Parcialmente cego e submetendo-se a várias cirurgias, morando em pensão, sem o calor da família, sua vida era um quadro de dor e sofrimento. Porém, não desesperava e continuava escrevendo para consolo de muitos corações. Aos 48 anos de idade em 1934, desencarnou. Partiu levando da Terra amargas decepções, pois, o Maranhão, sua terra natal, jamais o aceitou. Seus conterrâneos, equivocadamente chegaram a hostilizá-lo.
Surge então, a terceira e eterna fase do autor, que o consagrou como verdadeiro imortal. Após três meses do seu falecimento, através do jovem médium psicógrafo Chico Xavier, este com 24 anos de idade, começou a escrever sacudindo o País inteiro com suas crônicas de além-túmulo, apresentando uma sutileza de idéias e expressões espirituais e humanas, tornando-se então o escritor espiritual predileto de milhares de leitores. O fato naquela época, bem diferente dos dias atuais, abalou a opinião pública. Os jornais do País estampavam suas mensagens de consolo ao próximo e o povo lia com sofreguidão e saudade. A produção de Humberto de Campos, agora no além, foi minuciosamente examinada por vários críticos literários da época, como Agripino Grieco e outros, atestando a autenticidade do estilo. Eles afirmavam… Só pode ser ele! Dando com isso, início a uma nova fase do Espiritismo Kardecista no Brasil. Chico Xavier, que nos dias atuais, dentre inúmeras personalidades marcantes na história no nosso País, foi eleito como o Brasileiro de todos os tempos e a Federação Espírita Brasileira, ganharam notoriedade. Vários livros foram publicados. O mesmo estilo, o mesmo estro!