Para sanar dúvidas ou sugerir novos artigos, contato com:
Dr. Túlio Barbosa Cária – Advogado (OABMG 188659)
(31) 98418-0376 * advogado@tuliocaria.com.br

No dia em que a inflação atingiu um patamar histórico dos últimos anos (11,73%), o presidente Bolsonaro sugeriu aos empresários do ramo de alimentos que façam um “corte no lucro”.
A medida sugerida pelo presidente é uma espécie de doação de campanha descontada no “caixa” e uma tentativa de clemência para atingir o voto da dona de casa que hoje está sem emprego e sem comida na mesa.
No primeiro ano da pandemia (2020), quando a cesta básica, que alimenta boa parte da população brasileira, batia o incrível recorde de R$ 560 em algumas cidades brasileiras, como foi em São Paulo e Belo Horizonte, o presidente Bolsonaro sugere aos donos de supermercados que tivessem lucro “próximo de zero” na venda de alimentos. De 2020 até hoje, muita coisa continua igual, como a subida do preço dos alimentos, o aumento da inflação, o aumento do desemprego, a diminuição do poder de compra e a genial ideia do presidente, que novamente sugeriu ao setor que tivesse o “menor lucro possível” nos produtos considerados como básicos.
O presidente não fez muito mistério sobre o que estava por trás do apelo. Num evento com empresários, ele disse que era preciso dar uma satisfação à população mais pobre. Aproveitou para apresentar sua plataforma eleitoral, tentou contrapor-se ao que chamou de “o outro lado” e disse que a ajuda fazia parte de um esforço para “continuar o governo”.
A interpretação é simples: o presidente quer que os donos de supermercados cortem os próprios lucros para melhorar o ambiente político a favor de sua reeleição. Ressalto que, desde o início da pandemia (2020), os donos de supermercados, assim como todos os demais empresários, ainda não conseguiram ter um “alívio” nas suas contas. Ao contrário, muitos tiveram que fechar suas portas e demitir muitos funcionários. Na prática, o que o presidente pediu aos empresários é uma espécie de doação de campanha, descontada diretamente do caixa das empresas.
O mirabolante plano do presidente recebeu o endosso do milionário e ultraliberal Paulo Guedes. O ministro, que teria sido nomeado para “salvar” o Brasil (diga-se: a economia brasileira), foi ainda mais explícito em relação aos propósitos do Governo. Afirmou que “é hora de dar um freio nessa alta de preços” e acrescentou que os empresários deveriam sentir-se livres para fazer novos aumentos a partir de 2023, ou seja, depois da eleição. Pergunto-me se o Paulo Guedes reduziu o lucro nas empresas das quais ele é dono. Os dados não foram exibidos, o que nos leva a crer, como diz o adágio popular, que “pimenta nos olhos dos outros é refresco”.
Por três anos e meio, o Governo encarou a agenda econômica como um projeto ideológico, tratando os itens que afetam os mais pobres com uma atitude que oscilava entre a má vontade e o puro improviso. Foi assim nas primeiras discussões sobre a criação do Auxílio Emergencial na pandemia e é assim agora, com uma dose extra de desespero e um apelo ao represamento de preços.
Ponte Nova e região nunca fizeram parte da agenda econômica do Governo Bolsonaro. A região, que hoje é responsável por 8% da produção de riquezas em Minas Gerais, com um PIB de mais de R$ 41,7 bilhões, nunca foi chamada ao diálogo, nunca teve uma agenda positiva com os empresários locais para melhorar a infraestrutura, facilitando o escoamento da produção, e ainda para entender como o Governo poderia contribuir para o pleno desenvolvimento da região. Ao contrário, somente em ano de eleição é que os “salvadores” aparecem com uma “emenda aqui, outra ali”, tudo em busca de “votos”, mas ninguém com projeto de desenvolvimento econômico regional.
Bolsonaro e alguns deputados estaduais e federais sabem que a defesa das armas, o discurso preconceituoso e as constantes ameaças autoritárias são úteis para manter sua base política coesa. Por outro lado, também já perceberam que, num país em que 33 milhões de pessoas passam fome todos os dias e em uma região como é a de Ponte Nova em que o PIB representa mais de R$ 41,7 bilhões, a bandeira do liberalismo não vale meia dúzia de votos.
“Não existe almoço grátis”, “tudo tem um custo” e “as pessoas enfrentam trade-offs”. Ou os empresários regionais se unem para criar uma agenda econômica regional baseada nos princípios econômicos e sociais e progressistas, ou os empresários da Zona da Mata irão à falência, e com isso o aumento das desigualdades e da pobreza será ainda maior.