A pontenovense Fernanda Polesca Soares iniciou a carreira de aviação aos 17 anos, ao ser aprovada no Curso de Ciências Aeronáuticas, na Universidade Fumec/Belo Horizonte. Paralelamente ao curso teórico, ela cumpriu horas de voo e em 2010 graduou-se já com habilitação de piloto comercial de avião.
“Em 2011, eu fiz o curso de instrutora de voo e fui contratada pela Starflight, onde trabalhei por um ano, acumulando mais horas de voo. Neste mesmo ano, fui professora de Navegação Aérea numa escola de helicóptero (a EFAI), onde me interessei cada vez mais pelas asas rotativas”, informa ela, que é filha de Fernando César Soares e Kátia Polesca Teixeira Soares.
Um ano depois, Fernanda já obtinha habilitação para pilotar helicóptero e tornou-se instrutora de voo desta aeronave. Trabalhou na EFAI por cinco anos como professora e instrutora e em 2017 decidiu voltar para a carreira de aviação. Em 2018, a Latam Airlines Brasil a contratou como “Copiloto de A320”. Hoje, ela já acumula 3 mil horas de voo, sendo metade em aviões e metade em helicópteros.Na semana passada, ela nos concedeu esta entrevista:
FOLHA – Você está numa profissão, por assim dizer, bastante masculina. Quais são os tabus enfrentados na escola e no trabalho?
Fernanda – Durante a minha formação, tive bastante apoio de todos os meus colegas de profissão, muitos, hoje, grandes amigos! Então, felizmente, não enfrentei muitos tabus. Uma vez ou outra tive uma pedra no caminho, como, por exemplo, quando um senhor não quis me contratar porque a esposa teria ciúmes de voarmos juntos!
FOLHA – Tivemos notícia de uma pilota de helicóptero dos bombeiros atuando no resgate de vítimas da tragédia de Brumadinho . Você tem notícia de outras mulheres nesta profissão?
Fernanda – As mulheres aviadoras ainda são minoria, mas tive o prazer de conhecer algumas, inclusive a major Karla Lessa, que foi minha aluna na EFAI. Ela é uma grande profissional. Na Latam, também conheço e me inspiro em muitas delas, como a comandante Claudine, primeira mulher a ingressar na antiga TAM na função de piloto. Hoje, segundo dados da empresa, a Latam tem 30 mulheres entre seus 2.031 pilotos.
FOLHA – A seu ver, o que ainda falta para homens e mulheres terem salários iguais nas mesmas profissões?
Fernanda – Eu acho que já vivemos esta mudança e mulheres conseguem atingir qualquer patamar profissional que quiser, desde que se dediquem bastante e saibam enfrentar dificuldades que existem, sim, e são diferentes das encontradas por colegas profissionais homens! Mas são só diferentes, não mais difíceis. Então acredito que às vezes o que falta é reconhecer isso e focar no objetivo.
FOLHA – Qual é a sua mensagem para as mulheres diante dos desafios do mundo do trabalho?
Fernanda – Desafios existem em todas as áreas e para ambos os sexos, e a forma com que resolvemos superá-los é o que nos diferencia.
FOLHA – O que tem a dizer sobre os desafios contemporâneos para a real emancipação feminina?
Fernanda – É difícil para mim responder uma pergunta desta, pois tenho, na minha família, exemplos muito fortes de independência feminina. Desde o final dos anos 1980, a minha avó – Maria das Graças Polesca Teixeira – vive na condição de emancipada. Isto tudo vivendo na roça e com oito filhos. Ela continuou trabalhando, voltou a estudar (diplomou-se em dois cursos de graduação) e conseguiu criar e sustentar a família. Então, ao meu ver, não tem nada de contemporâneo nisto, as mulheres já vivem por sua conta há anos. Não posso deixar de mencionar minha mãe, Kátia, que também é um exemplo de independência e dinamismo feminino, mesmo sendo muito bem casada.