Na Semana da Mulher, esta FOLHA enviou duas perguntas para Stella Gorgoni Carneiro, especialista em ortodontia
FOLHA- Considerando o período que antecede a campanha pró-eleições municipais de outubro, como explicar as poucas candidaturas femininas vitoriosas e como criar ambiente para maior inserção das mulheres na vida político-partidária?
Stela – Avaliar o papel social e político desempenhado pelas mulheres na sociedade brasileira é interessante, quando levamos em consideração uma sociedade na qual o homem sempre ocupou o espaço público, e a mulher, o privado. A presença cada vez maior da participação política das mulheres é algo fundamental para o fortalecimento da democracia.
A representatividade feminina é extremamente necessária quando pensamos nas lutas pelos direitos das mulheres em um país onde ainda há muito preconceito, exclusão e violência contra elas.
A luta das mulheres pelo espaço na política é antiga. Ainda no período do Império, em 1880, a dentista Isabel de Mattos Dillon invocou, na Justiça, a Lei Saraiva (que permitia aos detentores de títulos científicos votar) para requerer seu alistamento eleitoral. No Brasil, o voto feminino só se tornou um direito em 1932.
Acredito que a maior reivindicação feminina não seja corporativista, mas, sim, o desejo de uma reforma política necessária para ampliação da democracia e a garantia da expressão da pluralidade de ideias presentes na sociedade brasileira. Com certeza, isso será mais efetivo com maior participação da mulher nos segmentos políticos e movimentos sociais. É preciso que assinaturas de compromissos e programas oficiais de estímulo à participação política feminina sejam cumpridos.
FOLHA Considerando o Dia Internacional da Mulher (8/3) e o Ano do Sesquicentenário de Ponte Nova, quais são as reivindicações que você prioriza como forma de otimizar a inclusão feminina na vida política e social de nosso município?
Stela – As mulheres estão conquistando seu espaço por conta das chamadas cotas, fruto de políticas afirmativas para ampliar a participação feminina. Os partidos são obrigados a reservar uma participação de, no mínimo, 30% para cada sexo. Desde 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) promoveu essa reforma na lei, mas os partidos políticos alegam dificuldades em atrair as mulheres para seus quadros, quando na verdade privilegiam a representação masculina. Por lei, o Fundo Partidário (orçamento público garantido aos candidatos) tem 5% de sua verba dedicada à educação e conscientização das mulheres, mas há um subfinanciamento por parte dos partidos.
Acho importante considerar a equidade de gênero nas instâncias decisórias e adotar medidas que estimulem a inserção feminina nas administrações públicas e a competição eleitoral por meio de cursos, seminários, campanhas institucionais e políticas, não apenas para cumprir as cotas obrigatórias por lei.
É importante que essas mulheres possam levar a perspectiva da desigualdade de gênero para formulação de projetos que representem o papel de cidadãs conscientes e críticas.