Na véspera da Semana da Consciência Negra, esta FOLHA entrevistou a cabeleireira Lúcia Helena de Souza, que há 15 anos mantém – em Palmeiras – o seu salão.
Filha de doméstica (Geni Siqueira) e de lavrador (o saudoso Francisco Pedro de Souza), ela e seus sete irmãos tiveram o calor do lar para conviver com as dificuldades.
“Em 1987, aos 14 anos, fui diagnosticada com anemia falciforme (alteração genética no formato das células das hemácias) e me tornei portadora de deficiência”, conta ela. Superando a saúde frágil, concluiu o Ensino Médio e estudou para abrir o seu próprio salão de beleza (o Beleza Cacheada), em 2003, optando por priorizar clientela afrodescendente.
Lúcia Helena relata que apostou neste nicho de mercado pelo “amor à raça”, depois de constatar que “Ponte Nova não tinha um salão dedicado a nós, mulheres negras. Por isso, eu trouxe para cá o tratamento especial para fios crespos e cacheados”.
Hoje, com o nome de “Estúdio LH”, seu salão tornou-se um “espaço de troca de experiências entre mulheres que hoje conseguem se enxergar belas e se tornaram mais fortes, simplesmente porque enfrentam o mundo de peito aberto e, é claro, com orgulho de seus cacheados”, como sublinha a cabeleireira para continuar: “Pelo meu sucesso, agradeço a Deus, à minha mãe e a meus familiares, clientes e amigos.”
“Houve um tempo em que eu e minhas clientes despertávamos olhares curiosos e às vezes comentários maldosos, simplesmente pelo fato de estarmos em um processo de evolução, de cabelos curtos e enrolados. Enfrentamos com um belo sorriso no rosto o espanto de alguns. Hoje aqueles olhares – que um dia nos julgaram por não estarmos no ‘padrão liso-chapado’ – tornaram-se olhares de admiração”, continua ela para arrematar:
“Quando nós assumimos nossa identidade, assumimos também que não somos influenciadas pela mídia ou pelo desejo de terceiros. Existe um recado em cada cabelo crespo-cacheado que tratamos no LH Estúdio. A cliente sai dizendo: "Este é o meu cabelo. Esta sou eu, de verdade!"
Rio Doce – A Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo promove a Semana da Consciência Negra/2018 com o tema “Reflexos da Nossa Cor”. A extensa programação conta com palestras, apresentações culturais e artísticas, sessão de cinema, exposições, oficinas e outras atividades, inclusive – é claro – capoeira.