A Semana da Diversidade de Ponte Nova teve três agendas, entre 4 e 6/10, sob organização da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/SEMCT e do Movimento Diversidade LGBTI.
Ao final, Fernanda Ribeiro/dirigente da SEMCT assim falou para a coluna Arte & Cultura, desta FOLHA: “Tivemos, no final, a Parada marcada por uma praça cheia de crianças, famílias, música de qualidade e artistas de Ponte Nova e região. Isso representa um grande sucesso e avanço. Colocar as diferenças, a diversidade na nossa praça, com clima de amor e respeito ao próximo, era o objetivo da Semana e foi concluído com êxito.”
Na noite de 4/10, no Auditório do IFMG, houve apresentação artística de Edmar Tolentino e palestra do psicólogo Nelimar Ribeiro. “A gente precisa tornar os nossos ideais de respeito, igualdade e diversidade cada vez mais próximos das pessoas, independentemente do tamanho da cidade”, disse Nelimar para continuar:
“As pessoas que vivem em cidades menores costumam ter menos acesso a experiências com pessoas diferentes, e trazer isto, mostrar isto no dia a dia é muito importante. Demonstra para essas pessoas que ser gay ou trans não é uma coisa distante, coisa de TV, coisa de gente de cidade grande, mas de gente, gente que está perto dela, que ela conhece, gente a quem ela ama… Eu creio que a principal importância é expandir isto para todo mundo e mostrar para eles que é algo bastante natural e que deve ser visto assim.”
Em 5/10, mesa-redonda, com depoimentos diversos, em tenda armada na praça de Palmeiras, vindo na sequência música ao vivo. Esta iniciativa contou com participação de dirigentes do Movimento, tendo à frente Lucas Lacerda/vice-presidente, Érika Senna/presidente e o apresentador Salviano Soares.
Em 6/10 (domingo), ainda na praça, a Parada do Orgulho LGBTQI+ foi marcada, a partir das 14h30, por shows e performances de drag queens e demais artistas. Destaque para a homenagem ao ativista pontenovense Lucas Paoli Itaborahy, profissional de Relações Internacionais e especialista em Direitos Humanos. Ele está radicado em Londres, onde gerencia escritório da ONG Micro Rainbow International.
Os pais de Lucas, Amariles Paoli Itaborahy e José Carlos Itaborahy Filho, dirigentes desta FOLHA, o representaram e receberam faixa de Rei e Rainha da Parada do Orgulho LGBTQI+ deste ano. José Carlos leu texto enviado pelo homenageado. “Fico extremamente contente e orgulhoso ao saber que há pessoas comprometidas em defender a comunidade LGBTI em Ponte Nova e que, assim como eu, trabalham em prol da igualdade e acreditam em mudanças (e revoluções) sociais”, escreveu Lucas para admitir:
“Não é fácil ser ativista pelos direitos LGBTI em tempos tão sombrios como este que estamos vivendo em nosso pais, onde o reacionarismo e o fascismo ganham força política e ameaçam nossa potência – e nossa existência. E sei bem que os desafios são muito maiores em cidades pequenas e conservadoras, como Ponte Nova, onde o machismo, a homofobia e o preconceito permeiam as bases da sociedade.”
Continuou ele: “Quando fui embora da cidade, aos 15 anos, tinha pouquíssimo conhecimento da minha sexualidade, mas sabia que era diferente da maioria dos garotos da minha idade. Lembro de ter sido vítima de bullying e piadas na escola, simplesmente por não me adequar aos padrões heteronormativos impostos pela sociedade. E foi somente quando saí daí e passei a conviver com a diversidade e outras identidades é que descobri quem realmente era.”
Conforme Lucas, “talvez, se houvesse um Movimento da Diversidade naquela época e referências LGBTI mais positivas, quem sabe ter-me-ia assumido mais cedo e evitado tanto sofrimento desnecessário. Alegro-me muito ao ver que os tempos mudaram e que hoje há celebrações do Orgulho LGBTI em nossa cidade. O trabalho que vocês fazem aí é inspirador e transformador, e desejo que continuem encontrando forças, recursos e aliados para seguir lutando para que nenhum cidadão pontenovense seja discriminado em função da sua orientação sexual ou identidade e expressão de gênero, para que todas, todos e todes possam viver livres e sem vergonha de ser feliz!"
Na visão do homenageado, “a visibilidade e a conscientização são ferramentas importantíssimas, e sei ainda que há uma trajetória longa na luta contra homo e transfobia em Ponte Nova. E esta luta não se reduz apenas ao ativismo. Muito trabalho ainda precisa ser feito dentro das escolas, instituições, empresas e, principalmente, dentro das próprias famílias. Eu tive muita sorte – e privilégio – de ter sido aceito e acolhido pela minha família. E foi exatamente este apoio que me deu forças e coragem para me tornar um defensor dos direitos LGBTI, para lutar por um mundo mais justo, mais igualitário e mais diverso!”
Finalizou Lucas: “Recebam minhas sinceras felicitações e cumprimentos. Espero, um dia, abraçá-los pessoalmente e participar da Semana da Diversidade de Ponte Nova. Até lá, sigamos desafiando as normas opressoras e sonhando juntos, mesmo que distantes, com uma sociedade onde ninguém seja julgado ou discriminado por amar alguém do mesmo sexo ou por ter uma identidade transgênera, por um mundo onde todes possam se orgulhar de ser quem verdadeiramente são!”
As fotos são de Matheus Pataro.
