Começou, na noite dessa quarta-feira (25/11), o Festival Tudo é Jazz/2020, que presta homenagem póstuma à sua idealizadora e curadora, a pontenovense Maria Alice Martins Alves Costa (Biiça). Na abertura, com shows transmitidos via streaming pelo site oficial do evento (www.tudoejazz.com), apresentou-se o pianista e compositor recifense Amaro Freitas. Em seguida, encontro virtual entre Madeleine Peyroux e Célio Balona.
Na noite desta quinta (26/11), show de Túlio Mourão & Trio, com lançamento de novo CD, e encontro virtual entre Natasha Agrama e Rogério Delayon. No encerramento, nesta sexta-feira (27/11), Pianíssimo Jazz, seguido de encontro entre Marcos Valle e Stacey Kent.
"Inicialmente, a gente tinha programado a edição física, em Ouro Preto e Belo Horizonte, para setembro", declarou, no jornal O Tempo/BH, Rud Carvalho, sobrinho de Biiça e produtor do festival, "mas veio a pandemia, e a gente remodelou os espetáculos para o ambiente on-line".
Carvalho continuou: “A Maria Alice, que sempre trabalhou intercâmbios de influências musicais entre países, pensou em uma programação com dois shows por dia, sendo um de um músico brasileiro e o outro, de um brasileiro com um artista internacional de renome. Com isso, a gente conseguiu manter um dos objetivos do evento, apesar de a edição ser on-line."
A organização do Tudo é Jazz divulgou, junto com a programação, o seguinte texto sobre a trajetória de Biiça:
"Produtora cultural visionária, Maria Alice 'Biiça' Martins (agosto/1951 – novembro/2020) foi pioneira na criação de um festival totalmente dedicado ao jazz em Minas Gerais, abrindo caminho para que outros eventos do gênero viessem.
A edição de 2020 do Festival Tudo é Jazz, que marca sua última curadoria, será em tributo à sua criadora, que também atuou como coordenadora em suas dezessete edições anteriores.
Nascida em Ponte Nova e formada em Arquitetura pela UFMG, o interesse pelo jazz veio ainda da adolescência, quando teve contato com a música negra norte-americana através do intercâmbio cultural que, segundo ela, era muito comum na sua cidade, graças a uma professora chamada Vera Soares, que enviava alunos para estudar nos EUA e os mesmos voltavam com vários discos, muitos deles com o ritmo criado pela comunidade afro-americana de Nova Orleans. Apesar da formação acadêmica, foi na música que Biiça, como é carinhosamente chamada pelos amigos, se encontrou.
Com intensa trajetória cultural, atuou em projetos de grande importância, como a coordenação da 1ª edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, em 1998, e do 1º Tiradentes Jazz Festival, em 2000. Foi responsável também pelas 14 edições do Festival da Vida de Mariana, cuja programação contou com nomes como Gringo Cárdia, Benki Pikãko e Ashaninka, entre outros, contando também com grandes nomes da música popular brasileira, como Rita Lee, Nando Reis e Maria Betânia.
Com olhar atento para aspectos fundamentais, como a diversidade cultural e o fortalecimento da cena local, e para os novos artistas, Biiça, indo além do óbvio, sempre trouxe como marca das suas curadorias novos e promissores nomes da música, a exemplo de artistas como Thiago Pethit, Cobra Coral, Liniker e Gui Hargreaves, entre outros, evidenciando uma sensibilidade rara de quem assume um compromisso com o desenvolvimento do cenário musical.
Além da atuação marcante como programadora de grandes festivais, Maria Alice compreendeu cedo a importância do fortalecimento das conexões com os demais elos da chamada cadeia produtiva da música, trazendo para Ouro Preto, além de músicos renomados, jornalistas importantes do Brasil e do mundo, a exemplo de Zuza Homem de Mello, jornalista e musicólogo falecido em outubro de 2020. Foi a maior especialista em música popular brasileira de que se tem notícia.”