
A coluna Arte e Cultura, de Ademar Figueiredo nesta FOLHA, traz mais uma colaboração sobre o Mês do Orgulho LGBTQIA+ e encerra neste ano nossa contribuição ao debate sobre diversidade sexual e respeito ao próximo.
Consta do texto de Ademar:
"Sempre que oportuno, voltaremos ao tema, pois, ao falar de diversidade, estamos falando de seres humanos. 'Viver e não ter vergonha de ser feliz', já cantava Gonzaguinha. A propósito, uma das letras mais impactantes do cancioneiro nacional e que tem tudo a ver com a nossa convidada.
"Sempre que oportuno, voltaremos ao tema, pois, ao falar de diversidade, estamos falando de seres humanos. 'Viver e não ter vergonha de ser feliz', já cantava Gonzaguinha. A propósito, uma das letras mais impactantes do cancioneiro nacional e que tem tudo a ver com a nossa convidada.
Luana Casttro é servidora pública, formada em Administração e Letras e especializada em Gestão Ambiental, Gestão Escolar e Educação Especial, tendo ainda cursos sobre Identidade de Gênero e Sexualidade. Ela é uma mulher trans e faz parte do Movimento LGBTQIA+ de Ponte Nova. Confira o seu depoimento:
'É comum sermos acometidos com inúmeros desafios que surgem na nossa rotina, e isso se torna mais evidente quando temos acesso a relatos e vivências da população LGBTQIA+.
Desde sempre, tudo que foge do parâmetro cisgênero e heterossexual gera curiosidade, desafeição e até mesmo repúdio em algumas pessoas. Devido a toda essa falta de informação e principalmente à falta de empatia, o primeiro desafio é o processo de autoconhecimento, é quando tentamos identificar nossa identidade de gênero e sexualidade.
Reconhecer-se e aceitar-se torna-se um processo muito difícil e doloroso dentro de uma sociedade preconceituosa. Esta etapa é bem específica e individual e além disso se relaciona com diversos outros fatores, sejam eles familiares ou sociais. E todos estes contextos externos podem contribuir ou dificultar, e por isso devemos sempre respeitar o momento de afirmação e conhecimento e, se possível, ter o acompanhamento de um profissional adequado. São comuns dúvidas e medos, além de frequentes os quadros de depressão.
Em certos casos, não sair do armário talvez seja a forma mais segura para aquela pessoa, naquele momento. Não a julgue e, caso ela(e) se sinta segura(o) para se assumir, apoie.
O segundo maior desafio ocorre no âmbito familiar, onde não se espera um ambiente hostil, mas acolhedor. Depois de se assumir, pode se tornar um verdadeiro pesadelo para uma pessoa LGBTQIA+.
Quando os familiares não entendem toda essa individualidade da diversidade sexual, o conflito é certo, e em alguns casos extremos acontecem até a expulsão de casa por parte dos pais ou demais familiares. Sem apoio familiar e social, muitos acabam tendo somente a rua como opção de morada e ficam ainda mais vulneráveis a todos os tipos de violências.
Nesta etapa é muito interessante a troca de experiências, seja por aqueles que já passaram pelo processo de autoconhecimento ou até mesmo famílias que acolheram e lidaram de forma natural com a situação. Não hesite em buscar conhecimento: através dele podemos quebrar vários paradigmas.
Já não bastasse todo o processo de autoconhecimento e conflitos familiares, ainda existem as interações sociais, onde ocorrem diversos tipos de preconceitos e rejeições, seja na escola – do Ensino Fundamental à Faculdade -, no local de trabalho, na procura por um emprego ou nos ambientes de descontração e diversão.
As atitudes preconceituosas vêm de diversas formas, às vezes através de sutis olhares de reprovação ou em situações extremas quando há agressão física e verbal sem nenhuma justificativa. Em uma imensa diversidade cultural e social, seria muito injusto sermos todos iguais. Que tenhamos mais empatia com o próximo.
E, mesmo que você não faça parte do grupo, faça sua parte como cidadão, informe-se cada vez mais e não deixe prosperar o preconceito.'"