Mineiro de Ponte Nova, Sylvio Lanna entrou para a história da cinematografia brasileira e mundial em 1970, quando finalizou seu primeiro e único longa: “Sagrada Família”. Considerado um marco do “Cinema Marginal”, o filme é um radical experimento narrativo e técnico, com uma desconstrução sonora poucas vezes vista em película.
Embora tenha vivido um grande hiato cinematográfico desde então, Sylvio quer deixar a fama de artista bissexto e acaba de realizar duas novas produções: o média “In Memoriam – O Roteiro do Gravador” e o curta “Um Cinema Caligráfico”.
Outra raridade é o média “Malandro, Termo Civilizado (ou Malandrando)”, realizado em 1986 com participações de Moreira da Silva, Wilson Grey e Luís Melodia, que é praticamente inédito em tela grande.
No informe acima, apresentou-se o cineasta na Mostra do Filme Livre/MFL 2019, que aconteceu de março a maio/2019, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Niterói. Sylvio ainda foi homenageado recentemente na 14ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, ocorrido recentemente (no período de 5 a 10/6).
Sempre que se fala em Sylvio, vem à memória recente o seu projeto A Bucha Vegetal, cujo lançamento comercial teve a participação, há alguns anos, de Lara Repolez/hoje escritora vinculada à Academia de Letras, Ciências e Artes de Ponte Nova/Alepon, a qual deu este depoimento a Ademar Figueiredo, em nossa edição impressa desta semana na coluna Arte & Cultura. Confira a seguir:
“Conheci Sylvio Gomes Lanna nos primeiros meses de 2001, na porta da sede do Pontenovense FC, no Centro Histórico de Ponte Nova, quando me convidou para ser a ‘Moça da Bucha’ – a imagem do Projeto ‘A Bucha Vegetal Brasileira’. Abracei com ele a ideia de ‘lavar a alma do mundo’, resgatando o hábito da bucha vegetal em substituição da esponja sintética.
Sylvio pensa grande! É profundo e com o todo conectado. Sylvio é uma estrela invisível! Assim o homenageei em meu livro – ‘Tudo que por hora sou’. Feliz de quem o consegue ver, entender e sentir! Formado na Faculdade Nacional de Filosofia, Sylvio é filósofo, inventor por natureza, cineasta, artesão habilidoso, agricultor de mão fértil. Tudo que ele planta brota. É um empreendedor espetacular. Sylvio é escritor, poeta, poliglota, além de falar o Português nobre e culto. Meu rouxinol, como assim o trato na intimidade, é fluente em inglês, espanhol e francês, arranhando um alemão, ou algum termo do dialeto africano de vez em quando. Aprendeu várias línguas pela vivência das suas andanças pelo mundo, quando ficou exilado do Brasil, em seu período sombrio, ‘Ame-o ou deixe-o!’ Perdeu o Brasil, na época, uma estrela de rara grandeza, expoente do Cinema Marginal, Cinema da Invenção, e ganhou o mundo a estrela Sylvio Lanna. É sem sombra de dúvida uma das pessoas mais inteligentes, criativas, amorosas e iluminadas que a vida me presenteou. Ser sua amiga é uma dádiva! Sylvio é cultura! Acredita que cinema é consciência! Em sua filmografia completa, que começou nos tempos do cinema ainda em preto e branco, constam:
‘O roteiro de um gravador’, um curta de ficção com 30 minutos feito em 1967, que Sylvio chama de meu filme perdido. ‘Superstição e futebol’, um documentário histórico de 10 minutos feito em 1968, que retrata o vínculo do futebol e o misticismo no Brasil, com a ilustre presença do Pelé. O filme foi selecionado para participar do Festival de Cinema de Oberhausen, na Alemanha, e fazer uma cópia do filme chegar lá foi uma das aventuras de que
Sylvio se orgulha.
Premiado no exterior, censurado no Brasil. Sylvio Lanna supera rápido! O longa-metragem ‘Sagrada Família’ é uma ficção, com 85 minutos, feito em 1970, e conta a saga de quatro membros de uma família burguesa. Tem uma cena inesquecível para todo pontenovense, porque foi feita na pracinha redonda em frente à Igreja Matriz São Sebastião, no Centro Histórico/Ponte Nova, o que permitiu uma cena em 360 graus.
A essência do malandro carioca e do brasileiro está na obra ‘Malandro, termo civilizado (ou Malandrando)’, um documentário ficcio-musical, com duração de 24 minutos, rodado em 1987.
Suas mais recentes obras são:
‘In Memoriam – O Roteiro do Gravador’, um documentário de 21 minutos, gravado em 2019, que marca seu retorno em grande estilo ao Cinema Brasileiro. Na sequência, Sylvio gravou ainda um documentário de 7 minutos, ‘Um cinema caligráfico’, que é uma reflexão poética de suas obras. A nova geração do cinema está disposta a resgatar, desvendar e revelar Sylvio Lanna para Brasil e para o mundo. Com a direção de Lúcio Branco e duração de 11 minutos, o documentário ‘Travelling adiante’ retrata a obra do Sylvio Lanna.
Por telefone, Sylvio me ligou para contar sobre o documentário e o novo ciclo no Cinema Nacional. Como não perde a piada, ele me confessou que a ideia inicial era ‘Travelling Avante’, mas que ele sugeriu ser ‘Travelling Adiante’, porque, segundo ele, ‘Avante é coisa de milico, Lara!’ No auge de seus 75 anos, continua em plena atividade fazendo história. Pretende gravar mais um longa-metragem, chamado ‘Forofina’, que significa África, por onde ele andou nos tempos de exílio! Como inventar é com o Sylvio, agora ele está com um novo projeto – ‘Telas Brasil Adentro! – Criando Cineclubes Caligráficos’.
O inventor, cineasta e incansável empreendedor leva o Cinema Nacional país a fora, resgatando a nossa brasilidade, nossa identidade, mudando os protagonistas, virando a mesa dos jogos de poder devido à sua consciência artística de levar ao mundo a Arte, que questiona e rompe as correntes da doutrinação.
Aproveito e deixo aqui a sugestão aos empresários e políticos de sua cidade natal para trazê-lo com seu projeto para enriquecer a cultura de Ponte Nova e quem sabe reconhecê-lo ainda em vida como cidadão ilustre pontenovense que muito nos orgulha. Ouça a nova geração! Tenha a felicidade de reconhecer a estrela Sylvio Lanna!”
Quem quiser saber mais, basta pesquisar no Google e Youtube com entrevistas e tudo mais, arrematou Ademar.