Em nossa edição impressa desta sexta-feira (4/12), na coluna Arte & Cultura, Ademar Figueiredo fala um pouco sobre toda a criatividade e sensibilidade do estilista mineiro Ronaldo Fraga, reconhecido nacionalmente.
E agora não foi diferente. O nome da coleção foi “Zuzu vive!” Desta vez ele “recebeu” a estilista Zuzu Angel, assassinada pela Ditadura nos anos de 1970. Foi um momento emocionante, em que ele “conversa” com ela sobre moda, família, passado, presente e futuro. Ela também teve um filho assassinado pela Ditadura e usou a moda como forma de manifestar o seu protesto e revolta. “A sua obra nos convida, Zuzu, a colocar na mesa artistas de diferentes frentes. Hoje você está em quem borda, em quem faz o doce, em quem faz a bebida… esta mesa traz tudo isto. Hoje o desafio do design é entender que a escuta está naquilo que se come, naquilo que se veste, naquilo em que se mora, naquilo em que se senta, como estamos aqui”, disse ele a Zuzu.
O cenário – todo virtual – era composto por uma mesa posta com comidas, bebidas, adornos e utensílios desenvolvidos pelos integrantes do Projeto Catarse Coletiva. Enquanto eles falavam, as modelos desfilavam.
Fruto da parceria entre a Fundação Renova e a Associação de Cultura Gerais/ACG, o Projeto Catarse Coletiva apresenta a coleção “Minha casa em mim”, visando valorizar o trabalho artesanal da população de Mariana e Barra Longa, por meio da identidade mineira e da região em particular. A coleção foi apresentada em 8/11, no desfile virtual do estilista mineiro Ronaldo Fraga durante a 25ª edição do São Paulo Fashion Week/SPFW. O projeto conta com 13 grupos de artesãos, atingidos diretamente ou não pelo rompimento da Barragem de Fundão, em um total de 175 pessoas. Os produtos transpiram a mineiridade e refletem a potencialidade dos artesãos da região, nutrindo o amor pela cultura de Minas Gerais e resgatando saberes e fazeres através da economia criativa e da produção associada local.
Desde agosto de 2019, a iniciativa conta com a Curadoria do estilista Ronaldo Fraga. Para a coleção, o estilista realizou uma parceria com as bordadeiras da ACG. As peças foram disponibilizadas no site do projeto, além de todos os itens produzidos pelos artesãos. É também uma das propostas do projeto promover novas perspectivas de desenvolvimento e geração de ocupação e renda, por meio da proposição de ações que fortaleçam o artesanato.
Para a coleção, a proposta de Ronaldo Fraga foi, junto aos artesãos participantes, unir a gastronomia ao “feito à mão”. Os materiais foram trazidos dos quintais das casas dos artesãos, como os bambus de Cláudio Manoel, que se transformaram em pássaros, ou a folha de bananeira, que se transformou na caixa para os doces do Coletivo de Camargos.
Destaca-se também a participação enriquecedora dos consultores Ana Vaz, Babá Santana e Marcelo Maia, que, com carinho e muita entrega, ensinaram e propiciaram o aprimoramento das técnicas e habilidades dos artesãos.
“Minha casa em mim é uma coleção pensada na economia compartilhada e colaborativa, em que todos ganham e todos ressignificam os produtos através de novos conceitos e de um novo olhar”, informa Mírian Rocha, presidente da ACG.
“Tudo é igual no universo do artesanato: o que vemos em Tiradentes encontramos em Mariana. Quero que Mariana tenha sua identidade, queremos deixar a leitura do belo, do criativo, do diferenciado. Hoje o que as pessoas querem é viver experiências e entrar no universo do outro através do que é feito. Nós temos fama de receber bem, de ser bons acolhedores, de colocar uma mesa farta até pelo excesso, o excesso do carinho e do amor do mineiro”, diz Ronaldo Fraga.
“E o desafio é a gente perceber aquilo que é o nosso valor enquanto Estado, enquanto cultura e imprimir um produto para que alcancemos a excelência. Foi proposto, na metodologia escrita pela ACG para o projeto, este tema do nosso curador, Ronaldo Fraga, que o denominou de ‘Minha casa em mim’, que é um tema que a gente está abordando de forma figurada e figurativa, ou seja, a casa em si mesma, a mesa do mineiro, a sala do mineiro, onde nesta casa nós vamos ter a mesa posta com suplair, com um jogo americano, com toalhas bordadas, tudo feito nesta região. É como se a casa mineira vivesse de forma contemporânea, e o sentido figurado é porque esta casa é a casa que está dentro da gente, aquilo que está ligado à nossa própria história. E o nosso desafio é este: dentro do universo do que os artesãos locais produzem, a gente vai encontrar produtos em que a gente tem condição de buscar a excelência e lá na frente ter produtos de qualidade”, finaliza Mírian Rocha.
Confira em www.minhacasaemmim.com.br.