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Tensão habitacional

Nº 1.868 – 20 de Junho de 2025

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Laene ComVida: Então foi Natal…

 Contrariando a célebre frase do também famoso romance “Anna Karenina”, de Tolstói – “Todas as famílias felizes se parecem” -, posso dizer que a família com quem passei esse Natal é feliz bem à sua maneira. Em 20 anos de convivência, demorei um pouco para compreender que o volume alto da fala não é briga e a conversa várias vezes ao dia nos grupos de WhatsApp é uma necessidade visceral.  
 
Ela bem que poderia se chamar “Dó-ré-mi”, tamanha a índole musical. É mesmo um alívio saber que, com ela, música boa não precisa ser alta. Seu nome também seria “A grande família”, já que qualquer evento familiar reúne, pelo menos, 10 pessoas (se for um núcleo só). 
 
Foi assim nesse 24 de dezembro: eu, Isabella e os dois peludos Guga e Shitake; a irmã gêmea, o companheiro, a filha e a maltês Milly; a irmã caçula e o mestiço Dom; o irmão mais velho e a filha. E, claro, a protagonista do encontro: a mãe que há cerca de cinco anos não comemora o Natal com sua prole completa. 
 
O que era para ser ceia noturna vira petiscaria. Guloseimas, frios, frutas, patês e cerveja, muita cerveja (essa família teria, certamente, cevada no nome do meio e animação no sobrenome). Tem casos, risadas, crianças correndo, coisas de irmãos e o karaokê. A cantoria rola solta. Os agregados, incluindo eu, tomam coragem e soltam a voz, abalando um dos pilares mais valorosos da herança familiar: a afinação. A família, contudo, “Balança, mas não cai”. Tudo vira gozação e diversão. 
 
Numa tarde, somos os participantes do “The Voice Brasil”: Elvistavo entoa “My Way” para o encantamento de Ângela; Lalálcione arranca sorrisos de tia Bel; Kids Andréa e Sabrina arrasam nos abóboras selvagens; Chicletes com Beto causa frisson; o grave veludo de Isabella é um lindo inesperado. O momento mais comovente é o “Bate o sino pequenino”, cantado por todo mundo, cada voz do seu jeito no tom da união.
 
 Alguns olhos querem entornar, mas os sorrisos embaçam a tristeza que todo adulto tem em noite de Natal (a nostalgia das luzes coloridas, o Papai Noel que não chega a todas as casas, a falta da mãe, do pai, dos avós, a saudade da velha infância) e as crianças vencem qualquer tipo de melancolia (sempre digo que Natal tem que ter criança).
 
Amanhece o dia 25. “Ê ê ê ê!”: assim Beatriz nos deslumbra ao desembrulhar cada presente e vibrar até com o pirulito que enfeita a embalagem. “Adoro a vibe dessa casinha”: a Lelezinha, que já está falando que nem gente grande (quer dizer, adolescente), aguarda ansiosa pra procurar os pacotinhos que tia Bel e mãe Déia escondem no quintal.
 
Para cada criança, são 20 pacotinhos de teteias, como minha mãe chamava. Surpresinhas que amamos encontrar pela casa. Era assim nos meus primeiros anos. A brincadeira era o diferencial da nossa festa natalina. 
 
Dentro da churrasqueira, em cima do comedouro dos passarinhos, atrás da moita do camará, no alto da gangorra, na máquina de lavar… A cada esconderijo descoberto, Letícia e Beatriz comemoram. Mais do que o conteúdo do saquinho, o melhor é a alegria da procura (já disse que Natal tem que ter criança?). 
 
Trazer minha tradição familiar para a família de Isabella é Natal. Dar de cara com o flamboyant mirim carregado de flor é Natal. Pôr uma luzinha sobre a testa do Menino Jesus é Natal. Participar do encontro entre filhas/filho e mãe é Natal. 
 
Natal é o que o concunhado diz antes da oração: “Não somos maus, não somos bons, o papai do céu nos mostra que podemos ser melhor. Somos família.”  
 
No meio da família Mafra, tenho um bom Natal. Temperar o cabrito com as ervas que plantamos é uma bênção. Comer a bacalhoada/receita de dona Honorina é uma honra. 
 
Unidos, no nascimento de Jesus, honramos nossos ancestrais: diferentes, mas iguais no desejo de paz; desiguais, mas perto, nos reunimos em torno da matriarca querida que tem nome de anja. Cantamos, cozinhamos, dançamos, rezamos. Cuidamos. Que um tempo de amor, união e paz seja o nosso presente. 
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