
Todos a chamam de Rosa. Será pelas roseiras amarelas, vermelhas e brancas ('tenho uma muda branca que vou trazer para você') que ela cultiva? Desde que a conheci, senti que estava em casa. E se não fosse a pressa de voltar a Viçosa, bem que eu a seguiria o dia todo pela casa, enquanto ela faxina.
Primeiramente pelo seu astral. Rosa solta o riso até quando conta da cobra que quase a pegou ('Num matinho de nada bem enroladinha, distante de mim um palmo, ela arrepiou toda… Ah vou te mostrar agora! busquei um pedaço de pau e matei') ou das duas picadas de escorpião ('Doeu demais, mas na segunda vez pus bicarbonato: um farmacêutico em Teixeiras que me ensinou').
A risada, entretanto, aumenta quando ela confessa que não é de cobra, escorpião ou lobo, ela tem medo é de maribondo: 'Tenho medo porque não vejo ele.' O amarelo da casa aberta ('Aquilo dói demais'), o chumbinho da casa fechada, o sete casas… Conhece todos.
Quando trabalhava na lavoura, às seis da manhã, aproveitava que estavam encolhidos pelo frio, tirava e destruía cada casinha que encontrava.

Ela sente falta do ofício ('Gosto de trabalhar no mato, eu sou do mato') do qual muito se orgulha ('Sou lavradora, pago o Sindicato Rural há mais de 20 anos para me aposentar'). Pra matar um pouco a vontade, ela me conta sorridente: 'Eu gosto da roça, na hora que saio daqui, passo mão na minha enxadinha para fazer capina no meu quintal.'
Seu quintal fica no sítio Gravatá, em Massangano. Acabar com a braquiária é impossível por causa do pasto próximo. Roçadeira lá não tem vez: 'Não tenho paciência daquele trem zuando toda a vida. Eu com a foice bem amolada sou capaz de fazer mais rápido', garante Rosa imitando o gesto e o som do foiçar: 'Zufz!' Acho que no fundo ela gosta de fazer porque sabe, trabalha na terra desde os oito anos. Confia no seu taco, quer dizer, na sua foice, enxada, machado…
Tanta animação deve ser a causa de não tomar remédio nem ir a médicos… dor de cabeça, pressão alta… nada disso ela tem. O que possui mesmo é a saúde em dia, mantida com alegria e fé.
– 'Como é seu dia, quando você acorda?'
– 'A felicidade né? De estar na roça, amanhecer o dia com saúde saindo para trabalhar.'
Dez para as seis da manhã, Rosa pega o ônibus pra chegar a tempo ao culto da Igreja Universal, às seis e meia, na cidade. É evangélica há cerca de oito meses porque deu vontade. 'Não desfaço da católica não, pra mim é a mesma coisa, eu só gosto de ter tranquilidade, respeitar todo mundo.'
– 'O que tira sua tranquilidade, te deixa brava?'
– 'Se tem uma coisa é mentira. Nossa! Detesto, falo pros meus filhos: têm que falar a verdade!'
Rosa é mãe de Layane e Rafaela, que moram com ela, e Dionielison, que vive no Rio de Janeiro, onde ela esteve recentemente para conhecer de perto o mar ('Muito calor, mas maravilhoso lá'). O filho quer levá-la para morar no Rio: 'Acho que não tenho coragem de largar a roça.' Penso que ela não tem é vontade!
Água limpa e pura. É o que Rosa é. Faz mais de um mês que conversei com ela. Outro dia nos vimos rapidamente e a conversa reengatou. Ela não só me informa de roseiras, raios, bananas, dálias, cobras, ervas, chás, mandiocas e marimbondos: me ensina a viver. Gracias, Rosa!"