
Diz Ademar Figueiredo em sua coluna Arte & Cultura nesta FOLHA:
"A coluna desta sexta-feira (2/7) tem um dos maiores desafios de seus 10 anos de existência, a serem celebrados em dezembro próximo: entrevistar o agitador cultural Luiz Raimundo de Oliveira. O interesse de Luiz pelo fazer cultural é tão dinâmico e diversificado que a alcunha de agitador lhe serve muito bem. Vamos ser breves na apresentação para que o entrevistado aproveite ao máximo o nosso espaço.
– De Jequeri para Ponte Nova. Como começou esta jornada?
– Luiz – Minha família saiu de Jequeri e fomos para São Pedro dos Ferros por algum tempo e, quase aos seis anos de idade, cheguei a Ponte Nova. Aqui tive uma infância feliz e vivi com intensidade a minha juventude, ao lado de grandes e inesquecíveis pessoas. Mesmo morando fora de Jequeri, frequentei muito aquela querida terra natal, pois deixei lá muitos parentes. Lembro-me de minha primeira incursão – digamos – no meio cultural, quando, com uns dez anos, lá cantei em praça pública, numa festa religiosa.
– Registros importantes durante a sua educação formal até o terceiro ano: a cultura já se mostrava presente em sua vida?
– Luiz – Desde muito cedo, gostei de ler tudo que via pela frente, de bula de remédios, revistas em quadrinho, a Seleções do Reader´s Digest, revista que meu pai assinava, e que era um manancial de informações de cultura.
Na escola, tive o incentivo enorme dos professores, tais como dona Maria do Carmo Fernandes, que gostava e elogiava o que eu escrevia. O professor José Emiliano Campolina foi muito importante na minha formação.
No Oratório Festivo Dom Bosco, tive os primeiros contatos com o teatro e com o cinema. Nunca fui bom ator e atuei pouco. Nos quadros-vivos da Semana Santa, dirigidos pelo Paulo Galli, fiz uns três papéis. No teatro, atuei mais nos bastidores. Em 1974, no Colégio Salesiano Dom Helvécio /CSDH, trabalhei com a professora Beth Roque com oficinas de teatro e dirigi uma peça: 'A Bruxinha Que Era Boa', de Maria Clara Machado. Mas adorava cinema, o que preservo até hoje.
O padre José Eriberto Schmidt foi outro que me incentivou muito. Era um intelectual que estava anos à frente do seu tempo, grande incentivador da arte teatral.
Na juventude, o Esporte Clube Palmeirense foi presença constante em minha vida. Quer nas horas-dançantes ou nas promoções culturais que o clube empreendia. Fiz muita dublagem, principalmente de cantores italianos, e fazia muito sucesso (rsrsrsrs).
Na Sede do Palmeirense, também funcionava a sede da União Municipal dos Estudantes Secundários/UMES, de cuja diretoria fiz parte. O Orbis Club de Ponte Nova também se reunia lá. O Orbis era uma entidade apadrinhada pelo Lions Club e que foi uma escola de vida para muitos jovens.
– Gincanas e oratórios festivos: comente a respeito.
– Luiz – Oratório Festivo, como disse antes, foi também uma escola. Educação religiosa e cívica. Muita arte e cultura. O padre Adolfo dos Anjos (polêmicas à parte) foi uma personagem importante na formação de muita gente, orientando crianças e jovens com base na filosofia de São João Bosco. Com relação às gincanas, entraram na minha vida com a exposição agropecuária, mas as que realmente marcaram foram as da Feira da Comunidade, que movimentavam toda a cidade, pois as tarefas eram elaboradas por uma equipe de peso, além de mim. João Batista Xavier, Paulina Gomes Pesce, Amariles Paoli, Sandra Silva e Ricardo Motta abordavam temas de interesse social, recreativo e cultural.
– O cinema também o 'perseguiu'. Como foi?
– Luiz – O Cinema, como disse, despertou minha paixão ainda no Colégio Dom Helvécio. Cheguei a criar lá um cineclube, onde filmes eram exibidos e depois das sessões a gente discutia o que foi visto. Eram debates muito interessantes. O Ruy Merheb era quem conduzia a conversa. Depois, no Cine Palmeiras, a minha 'carreira' deslanchou: fui faxineiro, porteiro, bilheteiro, auxiliar de exibição e até gerente por um pequeno período. Tudo para garantir a minha entrada e, eventualmente, dos meus amigos. Até hoje sou um cinéfilo inveterado.
– Festivais de música: também temos histórias.
– Luiz – Como concorrente, nunca participei. Mas acompanhei os Festivais de Música desde 1969, no Cine Brasil, promovido pelo PFC. Em 1971, numa promoção do EC Palmeirense, eu, Dr. José Amora e Pedro Pacheco (que nos deixou recentemente) realizamos o FIM – Festival Índio da Música, que trouxe a Ponte Nova concorrentes de diversas partes do Brasil.
Em 1977 e 1978, ajudei a organizar o primeiro e o II Festival da Canção de Ponte Nova/FECAPON, com o Interact Club. Em 1978, com a impossibilidade da vinda de Fernando Mansur, eu apresentei o festival. Foi uma experiência inesquecível. Esses dois festivais reuniram a nata da música brasileira da época como jurados.
– Você atuou na cultura em clubes e na OAB/PN. Quais registros gostaria de fazer?
– Luiz – Minha atuação, tanto nos clubes, quando na OAB, acho que foi muito importante, ainda que para mim. Foram muitas realizações que marcaram época: exposições de artes plásticas, artesanato, fotografia, música, dança… foi muita coisa! Tomaria todo o espaço desta página para rememorar tudo que promovi.
– Relembre um pouco Rui Merheb e faça um paralelo com as artes plásticas produzidas hoje em Ponte Nova.
– Luiz – Ruy Merheb não era desta terra. Era de outro planeta. Um artista plástico comparável aos melhores do mundo; um professor de Sociologia com um conhecimento admirável; um escritor primoroso; um contador de 'causos' como poucos; e, acima de tudo, um amigo daqueles que Deus põe só uma vez na sua vida. Uma existência foi muito pouco para conhecer o Ruy em toda a sua essência. Comparar com o que se faz atualmente fica difícil, pois – pelo menos que eu saiba, além de Pyrtz – pouco se tem feito.
– Rádio e TV: atuações nestas áreas.
– Luiz – Fiz alguns programas na minha juventude na Rádio Ponte Nova – celeiro de grande artistas. Poderia destacar os programas: 'Ecos' (da UMES), voltado para estudantes, e, na década de 1980, o 'Ponte Nova Beatles Club'. Muita música dos FAB-4 e muita informação numa época sem internet e sem as facilidades de hoje. Ricardo Motta foi meu parceiro na produção desse programa. Na TV Educar, produzi e apresentei por 10 anos ininterruptos o programa 'Estação Cultural'. Esse programa teve uma importância muito grande na valorização dos artistas de nossa cidade e de cidades vizinhas e suas artes. Digo com orgulho: até hoje me cobram a volta do programa.
– Literatura: comente sobre sua produção e futuros trabalhos?
– Luiz – Escrevi dois livros, que se esgotaram rapidamente: 'Páginas de Prosa' e 'Reencarnação'. Publiquei muitos dos meus textos nesta FOLHA e, para minha alegria, sempre com ótima recepção pelo público leitor e assinantes. Está pronto o meu terceiro livro – 'Vagalume: Crônicas e Contos' -, que deverá ser lançado brevemente, mas já se encontra à venda, com renda total para a Apae/Ponte Nova.
– Fale sobre a sua dedicação à Banda 7 de Setembro.
– Luiz – Minha relação com a Banda 7 de Setembro é visceral. É uma entidade cultural das mais importantes do nosso município e merece e precisa de todo o nosso apoio.
– Ponte Nova, ontem e hoje. Como estamos?
– Luiz – Estamos, como o mundo todo, 'em compasso de espera'. Fica difícil fazer uma avaliação/comparação diante do momento por que passamos. Mas está viva e, aqui e ali, tem alguém fazendo arte.
– Seu mais novo projeto já está conectado ao novos tempos: 'Café com Bolo – Papos e Canções'. Comente a respeito.
– Luiz – Esse programa é uma criação do meu dileto amigo José Alfredo Padovani, que teve a gentileza de me convidar para participar com ele desse projeto. Foi um presente, pois estou adorando fazê-lo. O Padovani é muito criativo, e eu tento acompanhá-lo. Acho que está dando certo. Espero que dure tanto quanto o 'Estação Cultural'. Junto está a Criativo Vídeo: um show!
– Nestas atividades todas, o que você ganhou?
– Luiz – Em termos financeiros, nunca auferi um centavo por nada que fiz. Mas tive grandes alegrias e muito reconhecimento. Alguns dissabores, que 'tirei de letra'. Faria tudo de novo. Tudo valeu a pena, porque minha alma não é pequena. Enquanto houver jabuticabas na minha bacia, vou desfrutá-las.