Nessa segunda-feira (13/8), multiplicaram-se, pelas redes sociais, reclamações e protestos pelo cancelamento do espetáculo “A Arte Salva – Hip Hop”, com diversas atrações ligadas a este ritmo, incluindo baile soul, batalha de rimas e apresentações de DJs.
Ocorre que esta última atração do Festival de Inverno de Ponte Nova ficou sem sonorização adequada. Em áudio no grupo de WhatsApp “Cultura em Ação”, a dirigente da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo/SEMCT, Fernanda Ribeiro, lamentou o “contratempo” e assinalou o empenho em garantir o cumprimento da agenda.
“Foi uma gafe a má estrutura da sonoplastia e iluminação fornecidas pela Secretaria de Cultura [e Turismo]. Os organizadores estavam na preparação desde fevereiro, buscando patrocínio e meios de transporte para trazer as pessoas das cidades. Portanto, o único investimento da Secretaria seria o som e a iluminação. No entanto, foi alarmante e decepcionante o descaso de tal órgão com o evento da minoria, da periferia”, declarou a esta FOLHA, via e-mail, Nisleide (Órion) Oliveira.
Nisleide divulgou, pelas redes sociais, outro texto salientando que “o sentimento devia ser de gratidão, mas, baseado no descaso e na falta de compromisso com o movimento, o sentimento é de mágoa e ira. Faltou iluminação, e a sonorização era muito aquém da que o evento precisava”, disse ela para acrescentar:
“Durante o Festival, tudo correu perfeitamente, mas o evento negro, da periferia não podia seguir no mesmo patamar dos outros, não é mesmo? Deram o espaço, mas não garantiram permanência e tampouco assistência. Isso não é equidade e passou longe de ser uma falha técnica.”
Concluindo, ela desabafou:"O rap não é brincadeira nem tolera sabotagem. Está na hora de a cidade abrir a mente. É hora de a sociedade dar oportunidade e acessibilidade a todos que buscam nada menos que realização dos sonhos e felicidade. Porque para cada segregado nascem mais dez inconformados."
Na página do Facebook de Fênix RCD, um dos articuladores do evento, sucederam-se as críticas. “Nós, do Hip Hop, somos artistas e merecemos respeito”, disse um deles, enquanto o próprio Fênix ameaçou: “De hoje em diante, vão aprender a respeitar a cultura do Hip Hop, querendo eles ou não. E, sobre hoje, vai sair caro e muito caro”, disse ele, mencionando “humilhação” por parte da Secretaria de Cultura e Turismo.
“O errado será cobrado, e no Hip Hop não aceitamos vacilação! Depois dizem que exageramos quando falamos que não confiamos no Governo”, postou Gabriel Horoi. Para o Emii-cee Totta, “o desrespeito na quebrada não fica barato, não”.
“O descaso da secretária de Cultura [e Turismo] foi enorme com o meio Hip Hop da city. Infelizmente contrataram para o evento uma sonorização na qual não havia profissionais para trabalhar, ficou apenas um, que acabou sobrecarregado. Então venho agradecer à Equipe Balada Forte pelo péssimo empenho no evento e dizer que nem de longe são qualificados para tratar os artistas”, postou outro rapaz.
Posição de Fernanda
“Infelizmente houve um problema com o som, e não conseguimos falar com o responsável em tempo hábil. Isso atrasou a apresentação e tínhamos um problema prático, porque o nosso motorista tinha horário para levar integrantes dos grupos para Belo Horizonte e voltar ainda no domingo para Ponte Nova”, informou Fernanda Ribeiro, em áudio divulgado no Grupo “Cultura em Ação”.
“Eles me perguntaram se poderiam ficar até mais tarde em Ponte Nova, para cumprir a agenda, e depois o nosso motorista cedeu e, de fato, levou o pessoal mais tarde. Só achei desnecessária a proporção que [o caso] tomou, porque problemas técnicos acontecem, e não discriminamos ninguém no atendimento. E houve gente agressiva, ameaçando o pessoal da nossa Secretaria”, esclareceu Fernanda.
Conforme a dirigente da SEMCT, "estava tudo planejado, recebemos a lista de presença, enviamos ônibus para buscar o pessoal em Viçosa e Belo Horizonte. Nosso pessoal acompanhou tudo, tentou atender todas as demandas, mas houve atraso por causa do problema com o som”.
Fernanda continuou: “Em nove dias de evento, não tivemos nenhum problema grave. Houve um probleminha ou outro, mas tudo foi contornado. [No caso de domingo], fiquei bastante chateada pela postura de alguns deles, que chegaram a ameaçar, intimidar. Só sei que tentamos de tudo para garantir o evento, mas não possível. Fica bastante complicado trabalhar com pessoas que não compreenderam o quanto trabalhamos, e infelizmente alguma coisa fugiu do nosso controle.”
Via Facebook, Fernanda mencionou a “sensação de dever cumprido”, agradecendo as mensagens de apoio de sua equipe e das demais Secretarias Municipais, bem como as sugestões para nova programação: “Agradeço aos artistas parceiros e peço desculpas por quaisquer transtornos e falhas (…) nesta semana enlouquecedora, mas ao mesmo tempo tão gratificante.”