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Pontenovense lança livro sobre crime ambiental em Mariana

“Cheguei em Mariana no dia seguinte ao rompimento da Barragem de Fundão. O primeiro sentimento foi de estar completamente perdida em meio ao caos. Queria encontrar uma forma de mostrar o que estava acontecendo através da fotografia, mas de repente me vi diante de uma situação que me paralisou.”

O relato é de Ísis Rigueira Medeiros, fotógrafa nascida em Ponte Nova (leia aqui), na recente entrevista dela para Ademar Figueiredo, na coluna Arte & Cultura, desta FOLHA.

Ísis acompanhou de perto o desastre ambiental provocado pela mineradora Samarco. No mês dos cinco anos da tragédia, ela lança o livro “15:30”, compilando imagens feitas inclusive nos anos seguintes.

Com prefácio do escritor e ativista indígena Ailton Krenak, a obra será lançada, nesta segunda-feira (30/11), pela Editora Tona/Belo Horizonte, quando a autora conduzirá live às 19h, no canal do You Tube da Editora, tendo participação de Krenak, da fotógrafa e documentarista Nair Benedicto e da ativista Simone Silva, do grupo Mulheres Atingidas da Bacia do Rio Doce.

Na segunda-feira seguinte (4/12), no mesmo horário, Ísis coordena mais uma live para divulgar o livro, desta vez com o fotojornalista João Ripper, Eliane Balke, também do grupo de atingidas, e a jornalista Cristina Serra, autora do livro “Tragédia em Mariana: a história do maior desastre ambiental do Brasil”.

Sobre o livro

São 71 as imagens selecionadas por Ísis dentre mais de 8 mil fotos que compõem todo o trabalho. “Não foi fácil editar todo esse material, que vai desde as primeiras reuniões de atingidos, passando por retratos, visitas a comunidades, reuniões, plenárias, manifestações, marchas e encontros, até as últimas imagens das ruínas de Bento Rodrigues, quatro anos após o crime”, informa a fotógrafa. 

Ísis Medeiros conta que a cobertura do crime ambiental de Mariana mudou toda a sua perspectiva profissional como fotógrafa. Foi através do contato com os atingidos pela tragédia que a mineira decidiu tornar-se fotojornalista e desenvolver um trabalho de denúncia com relação à atividade exploratória da mineração em Minas Gerais: "Estar diante desse crime me fez sentir-me mais humana. Isso interferiu diretamente no meu fazer fotográfico, na minha abordagem e na aproximação das pessoas."

A ideia do livro surgiu logo no início de seu trabalho, quando ela passou a acompanhar as comunidades da Bacia do Rio Doce. “Fui pela primeira vez cobrir a situação em Mariana já acompanhando o Movimento dos Atingidos por Barragens [MAB]. Foi através da atuação junto aos movimentos sociais que me envolvi de forma mais prática, nas cidades e comunidades atingidas”, relembra Ísis.

“Com o passar do tempo e o esfriamento do assunto, vi cada vez mais a necessidade de produzir um material que ficasse para a posteridade, que trouxesse a temática para o centro do debate. Com intenção de ampliar as vozes dos atingidos que gritam por justiça, decidi materializar parte desse trabalho em um livro”, acrescenta ela.

 Para Ísis, há pouca informação documental sobre o assunto nos museus, galerias e acervos públicos: “Não temos sequer uma plataforma digital reunindo os principais estudos a respeito do tema, uma exposição audiovisual ou qualquer outra documentação disponível para estudo. Quem está contando essa história são as mineradoras. Sentia a obrigação de devolver parte dessa história documentada às comunidades, após cinco anos de envolvimento, e uma solução possível foi produzir esse livro.”

O nome “15:30” vem do momento exato em que foi anunciada internamente na mineradora Samarco a ruptura da barragem. “Queria chamar atenção para a hora exata, porque, segundo a população atingida, foi exatamente quando a vida foi interrompida em toda a região. É uma simbologia que representa esse rompimento da história e um início de um longo processo de novos crimes e violações de direitos”, salienta ela.

Histórico

Formada em Design, Ísis Medeiros decidiu que iria rumar pela fotografia ainda durante o curso, quando fez intercâmbio na Ilha de Malta. Ao voltar para o Brasil, em 2013, deparou-se com as jornadas de manifestações de junho e saiu com a câmera nas mãos para documentar o histórico momento político do país.

De lá para cá, além da cobertura da tragédia ambiental de Mariana e da situação da mineração em Minas Gerais também em outros territórios, participou de outros projetos com viés social: “Meu trabalho é também voltado à luta e ao empoderamento das mulheres. Realizei em 2016 o projeto ‘Mulheres Cabulosas da História’, premiado com a medalha ‘Clara Zetkin’, que destaca mulheres com iniciativas transformadoras.”

Medeiros é integrante da foto-coletiva Mamana e uma das fundadoras do grupo “Fotografia pela Democracia", iniciativa nacional de fotógrafas e fotógrafos que lutam em defesa da democracia e dos direitos humanos no Brasil (2018). Em 2019, recebeu menção honrosa no Primeiro Congresso de Fotógrafas Latino-Americanas, única brasileira premiada no concurso.

Em 2020, coordenou a campanha solidária “Fotografias por Minas”, em apoio a comunidades desassistidas para enfrentamento do coronavírus. Também lançou neste ano o projeto fotográfico documental “Canaã” e foi convidada a apresentá-lo através do programa Convida, do Instituto Moreira Sales.

O livro "15:30" é a primeira publicação lançada pela editora Tona. Voltada para trabalhos de fotografia contemporâneos, a nova editora de Belo Horizonte é fruto da parceria entre os fotógrafos Pedro Castro e Douglas Mendonça. A pré-venda do livro ocorre no site tonaeditora.com.br/product-page/15-30.

 

 

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