A participação de bordadeiras de Barra Longa na São Paulo Fashion Week/SPFW, encerrada em 26/4, continua repercutindo na Imprensa nacional. Na edição passada desta FOLHA houve registro assinado por Ademar Figueiredo, na página de Arte & Cultura.
Na última semana de abril, a Folha de São Paulo/FSP informou que no palco, com piso marrom, lembrando a destruição provocada pelos rejeitos de minério vazados em nov/2015, na Barragem de Fundão/Mariana, encenou-se o protesto do estilista mineiro Ronaldo Fraga.
Trajando vestido branco – e borrado -, a apresentadora Marília Gabriela olhou desolada, quase em pânico, para a paisagem de destruição, conforme a FSP registrou em texto de Pedro Diniz e Giuliana Mesquita, com foto de Rodrigo Moraes.
Trajando vestido branco borrado, ela abriu o protesto do estilista mineiro Ronaldo Fraga, no último dia desta edição da São Paulo Fashion Week, como representação de quem perdeu tudo no desastre que espalhou dejetos na Bacia do Rio Doce.
“Foi na comunidade de Barra Longa (MG), atingida pela tragédia, em 2015, que Ronaldo colheu as memórias levadas pela correnteza. Fotografias de família, cartas, plantas e todas as cores que viraram uma só após o barro desbotá-las se juntaram em bordados e estampas no manifesto deste que é o mais político dos estilistas brasileiros”, relatou o jornal continuando:
“À medida que as modelos caminhavam, a coleção revelava imagens que soavam como restos puídos, mas ainda sim vivos, da paisagem destruída. Havia folhas de comigo-ninguém-pode furadas estampando vestidos amplos, shorts e blusas; peixes de metal enrolados nos pescoços, como colares; e folhas secas, enrijecidas e bordadas com mensagens de resiliência.”
Informou-se que, em parceria com a Fundação Renova, que ajuda famílias atingidas pela tragédia da Samarco, o estilista chegou às bordadeiras de Barra Longa. “O trabalho minucioso e demorado resultou em peças com costura de linha aparente, por vezes vazadas para tomar formas como de plantas e cobras”, relatou a reportagem.
Minutos antes do desfile, Fraga disse à FSP que a ideia da coleção, além de mostrar os efeitos do rompimento da barragem, foi apresentar a possibilidade de manter viva a memória têxtil da comunidade. Segundo ele, as mulheres, acostumadas a bordar flores e vegetação do entorno em panos de prato, teriam visto um novo meio de subsistência ao aplicar a expertise em roupas.
“A imagem de moda do estilista ganhou ainda mais força com os pedaços de cobre transformados em colares e pulseiras, deformados como as vigas das casas desintegradas e que fizeram par com sapatos baixos, de tons terrosos, feitos pelo designer potiguar Jailson Marcos. Pouco a pouco, as cores perdiam a luz, densas, até revelarem a ausência do preto”, assinalou o jornal paulista para finalizar:
"Quando a cantora Lívia Netrovski e o músico Fred Ferreira entoaram os últimos acordes da trilha, tocada ao vivo como lamento, Marília Gabriela voltou à passarela para uma performance final. Vestida com macacão preto, ela deitou na passarela em meio aos modelos, jogados no chão, em sinal de luto pela tragédia. O silêncio foi quebrado pelos aplausos, longos, para a maior obra de moda desta edição da SPFW."