Uma avaliação equidistante do “temporal” que se abateu sobre a nação em datas recentes carece de tempo para avaliar o que de fato se passou nos bastidores dos gabinetes de Brasília e nos escritórios dos que dão aval para a cena vista ontem, 12/5.
Discutia-se na mídia nacional ainda sobre o efeito da decisão da maioria do Senado Federal em acatar a admissibilidade do impedimento da presidente Dilma Rousseff/PT – com seu afastamento e posse do vice Michel Temer/PMDB – e a respeito do modelo de governo que esperam os brasileiros.
Mais que isso: como se encaminhará a apuração dos escândalos de corrupção (à esquerda, à direita e ao centro), este grave fator de desestabilização do nosso sistema político, com efeito dominó na economia e nas relações da sociedade.
No plano geral, Temer acena com rigoroso limite nos gastos e uma reforma fiscal, entre outros sinais imediatos de atuação da conservadora articulação que derrubou Dilma no xadrez jogado para “expurgar” o PT do poder. Recente documento do PMDB menciona “avaliação detalhada” nos programas, incluindo os da área social. Apesar de garantir que programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida serão mantidos, não se descartam cortes nesses orçamentos.
Pretende-se avançar noutras reformas. Na área trabalhista, a intenção é apoiar terceirizações até mesmo da atividade-fim das empresas e também mudar a legislação trabalhista, permitindo que acordos coletivos de trabalho se sobreponham à legislação em determinados casos. Na Previdência, cita-se a instituição de idade mínima para aposentadorias e a desvinculação do aumento dos benefícios mais básicos do fator do salário mínimo.
Na economia, vem aí uma densa política de privatização, de revisão de subsídios, entre eles, o uso do FGTS para financiar o “Minha Casa, Minha Vida”. Na área da educação, o Pronatec se tornaria mais “seletivo”, e o Fundo de Financiamento Estudantil teria regras mais rígidas. O SUS também teria sua reforma. O combate à desigualdade social será mantido, mas concentrando-se nos 10% mais pobres, que vivem com menos de US$ 1 dólar por dia.
De imediato, dá até para fazer humor com as expectativas: alguém declarou nesta semana que os “vitoriosos” sonham com o “efeito arco-íris”, o qual viria com a bonança pós-tempestade. Como diziam antigos moradores de Ponte Nova, o risco maior, no entanto, é de que, passada a tempestade, venha a enchente.