
Na semana em que os católicos da região se preparam para o lançamento de mais uma Campanha da Fraternidade (com o tema “Biomas brasileiros e defesa da vida”), notícia da vizinha Oratórios tornou-se unanimidade nas rodas de conversa, com a prisão do pároco local e – em mais três cidades – a de três comparsas em supostos crimes de receptação de peças sacras e ações de pedofilia.
Não por acaso, em meio à indignação popular, surgiu nota do arcebispo de Mariana, dom Geraldo Lyrio, lamentando “esses fatos que ferem o Corpo Eclesial, escandalizam a comunidade cristã e geram desencanto e repúdio” (leia na página 15). Ele assinala a intenção de colaborar com as investigações, numa clara posição de acatamento da exortação apostólica papal editada em 5/6/2016.
O texto do papa Francisco é tão claro como água: os bispos que agirem de forma negligente ou ocultarem informações relacionadas com casos de abuso sexual de menores – pedofilia – ou de adultos vulneráveis serão expulsos de seus cargos.
O documento do papa, intitulado “Como uma mãe amorosa“, chega com décadas de atraso, mas é de grande importância, uma vez que, se não houvesse o silêncio cúmplice da hierarquia da Igreja Católica nos quatro cantos do mundo, poderia ter-se evitado a impunidade ao longo de anos e anos, bem como o sofrimento de inúmeras vítimas.
O texto reforça os artigos do Código de Direito Canônico em que se estipula a possibilidade de expulsar um eclesiástico por “causas graves”. O santo Pontífice adverte: “Com este documento, pretendo salientar que, entre as denominadas ‘causas graves’, inclui-se a negligência dos bispos no exercício das suas funções, particularmente em relação a casos de abuso sexual de menores e de adultos vulneráveis. ”
Por fim, o papa Francisco refere-se à necessidade de atuação firme das autoridades católicas para se evitar o “prejuízo físico, moral, espiritual ou patrimonial“. O documento afirma que a Igreja ama todos os seus filhos, mas “cura e protege com um afeto muito particular os pequenos e indefesos“, como crianças ou adultos vulneráveis.
Fica o registro com a ressalva de que não se pode condenar, de antemão, o religioso, que até agora atendia a comunidade oratoriense. Nestas circunstâncias, fica ainda claro que não pode sobreviver, em tempos
atuais, o silêncio de autoridades eclesiásticas diante de casos com gravidade similar à da ocorrência desta semana.